Na política são estabelecidas
as formas como os serviços são oferecidos para a população desde as ações
cotidianas tais como as realizadas em escolas, unidades básicas de saúde ou
trânsito até ações globais de desenvolvimento econômico e geração de emprego e
renda.
Dentro desse bojo, as pautas
na disputa política se dividem em dois
grandes blocos: as chamadas pautas morais e as ditas, econômicas.
As pautas morais estão
vinculadas as demandas do movimento social e suas especificidades com relação
às mulheres, negros, LGBTs, indígenas, entre outros grupos tradicionalmente excluídos das políticas públicas
e do poder de decisão.
Por sua vez, as pautas
econômicas influenciam a vida da população, composta, em sua maioria, por estes
segmentos. Aí que elas se contrapõem. Alguns exemplos são reveladores dessa
situação.
Quando um governo diz que
o problema da AIDS é de quem fez sexo, ela está excluindo políticas de promoção
da prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, o que se refletirá na redução
do orçamento para a área de saúde.
Quando um governo reduz o
orçamento para o combate à violência contra a mulher, ele está reforçando a
violência pela falta de mecanismos de combate e de apoio pelo fim da violência.
Quando um governo lança
um manual do aborto com a inclusão de vigilância sobre pessoas que fazem aborto
por estupro que está previsto na lei, ele está ignorando a hipocrisia social
que está por trás dessa tragédia na qual mulheres pobres morrem ou ficam estéreis
por abortos clandestinos ou caseiros e são maltratadas em hospitais. Ao mesmo
tempo, as mulheres com posses financeiras realizam o aborto com segurança e
sigilo. Daí, o governo não realiza orçamento para a prevenção, para a educação
social, dentre tantas ações que tirariam as mulheres e meninas da situação de
vulnerabilidade.
Quando um governo faz piadas
racistas, ele incentiva a prática do racismo e mais do que isso, por trás da
postura, vem a restrição para cotas nas universidades, entre tantas políticas
de inclusão que promovem a participação de negros e negras.
Quando um governo chama
indígenas de preguiçosos e vagabundos, além de ignorar a cultura dos
verdadeiros donos da terra brasileira, o governo incentiva a exploração e
invasão das reservas indígenas.
Quando um governo faz piadas
homofóbicas, gera uma série de restrições desde o mercado de trabalho até de garantia
da vida e da segurança do público LGBT.
Quando um governo incentiva
o armamento da população, ele está incentivando a violência que mata exatamente
o público que discute a necessidade de tratar as pautas morais como políticas
públicas, ou seja, as mulheres, os negros, LGBTs, indígenas, que são historicamente
excluídos no Brasil.
Enfim, quando o governo
faz piadas, ignora ou usa as pautas morais contra seus defensores, ele está na
verdade, usando a pauta econômica contra a maioria da população brasileira, ao
direcionar o orçamento para outras áreas que sustentam e manutenção do capital
internacional e a dependência econômica do país ou em corrupção, resultando no aumento da
pobreza e da miséria.
Inclusive, as pautas
morais, com reforço religioso, têm sido usadas pelo governo como uma fachada
para encobrir tanto a falta de projeto de desenvolvimento econômico e geração de
emprego e renda para a população como a corrupção em todas as áreas governamentais.