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sábado, 28 de novembro de 2020

"Perdas", talvez deva ser o título

Lembro da sensação da primeira vez que perdi um amigo, eu tinha 15 anos, ele 16. Quando minha prima me disse que ele tinha morrido num acidente, a minha resposta foi: “Não, você está enganada, a gente estava jogando bola ontem a tarde”. Como se o fato de ter estado com ele na tarde anterior, não significasse que ele poderia partir a qualquer momento. Houve uma comoção muito grande no colégio. Éramos adolescentes diante de um acidente que tirou um de nós do convívio diário. Também tínhamos perdido uma professora anos antes, que morrera no parto. Aí foram se seguindo outras perdas, avós queridos, tios e a vida seguindo.

Quando morreu a primeira mãe da minha turma de amigos, eu entristecida comentei com meu pai. A resposta dele foi curta: “as gerações vão se acabando, a vida é um ciclo, daqui a pouco seremos nós”. E, depois foram se seguindo outras perdas, coisa da vida, cada qual no seu tempo. Ele, meu pai companheiro e amigo, também se foi.

De repente, com a idade, a presença nos velórios foi se tornando mais constante. Coisas da vida. 

E chegamos em 2020, diante de uma pandemia que ceifa vidas, implacavelmente. Não se trata mais de “gerações que vão se acabando” no ritmo normal da vida, mas de pessoas que estão morrendo contaminadas por um vírus avassalador.

Dia 27 de novembro foi um dia tristemente dolorido. Perdemos dois companheiros de militância de movimento social e do Partido dos Trabalhadores, Jadilsso e Seu Arlindo, um por Covid e outro por câncer. Me vieram a mente as perdas, outra recente, do Zumbi e perdas mais distantes no tempo como do Zé Cláudio e da Rose Zanardo. Militantes de décadas de atuação conjunta tanto no movimento social como partidário, na alegria das vitórias e nas tristezas.

Sem perceber, nos tornamos uma família que luta por uma sociedade justa, igualitária e fraterna. Muitos de nós, começaram sua vida política por meio da participação nas pastorais e nas comunidades eclesiais de base da Igreja católica, no movimento feminista, no movimento estudantil, no movimento popular ou sindical.

Alguns muito próximos, outros mais distantes, vimos os filhos crescerem, casamentos se desfizeram, outros se fizeram. Muitos se diplomaram na universidade, outros na vida, alguns foram pioneiros em suas áreas, alguns conquistaram mandatos políticos, outros não. Vibramos juntos, sofremos juntos.

O ele que nos une, não é o sangue. É o elo da busca por uma sociedade em que as pessoas tenham direitos e sejam felizes.

Quando penso nesses companheiros que se foram, me vem à mente muitos momentos compartilhados que nem as fotos existentes conseguem captar. Foram risos, lágrimas, brincadeiras e assuntos sérios que nos moveram e mantiveram unidos.

Sabemos que eles fizeram história e colocaram suas vidas para o bem comum. Nos resta referenciá-los com todo respeito.

#TodosetodasPresente

#JadilssoPresente

#SeuArlindoPresente

#ZumbiPresente

#RoseZanardoPresemte

#ZéClaúdioPresente


                                                            Imagem do Google

 

domingo, 22 de novembro de 2020

Uma análise das eleições 2020 em Maringá sobre as candidatas a vereadoras


Passada a comemoração e a ressaca eleitoral, vamos aos dados das eleições 2020 em Maringá no tocante as mulheres candidatas a vereadoras.

Num total de 279.506 eleitores maringaenses, foram as urnas 195.581 para vereadores, com 175.542 votos em candidatos a vereadores, 11.870 brancos e 9.169 nulos.

As mulheres candidatas a vereadoras tiveram 34.147 votos. Das 130 candidatas, apenas duas foram eleitas, o que cobriu a vergonhosa lacuna de uma legislatura sem mulheres. No entanto, se nos ativermos aos dados, continuamos no mesmo patamar antes desta atual legislatura.

Para ilustrar a votação das candidatas, vamos grupar por quantidades de votos.  A metodologia usada foi o acesso ao site www.tse.jus.br e realizada contagem manual, de cada candidata. Depois, procedeu-se a soma automática e a conferência.

Duas candidatas obtiveram mais de 2000 votos, sendo que uma não foi eleita devido o coeficiente eleitoral. Quatro candidatas fizeram mais de mil votos e uma delas foi eleita. Na sequência, tem-se uma candidata com 999 votos.

Entre 760 e 639 votos, foram 10 candidatas. Na faixa de 500 votos, foram 6 candidatas. Em torno de 300 votos foram 15 candidatas e em torno de 200 votos, foram 9 candidatas. No agrupamento com variação de 198 a 100, foram 30 candidatas. Abaixo de 100, a partir de 91 votos até 0 votos, foram 53 candidatas, sendo destas, 28 com menos de 50 votos.

A saída das mulheres candidatas continua girando em torno dos 30% de mulheres candidatas, para cumprir a lei. Na votação, obtivemos, no total, menos de 30% (20%) ou seja, num leitorado de 54% de mulheres, a maioria esmagadora votou em candidatos homens.

A despeito do trabalho árduo e competente realizado pelo Movimento Mais Mulheres no Poder e das entidades ligadas aos direitos da mulher em Maringá, a maioria das mulheres não respondeu ao chamado da forma como deveria.

É claro que temos a comemorar a volta das mulheres vereadoras para a Câmara Municipal de Maringá. No entanto, precisamos avançar mais e começar esse trabalho urgente.

Alguns pontos precisam ser trabalhados. Primeiro, torna-se necessário compreender a motivação das mulheres que não veem nas mulheres candidatas suas representantes e, além de escolher, fazem campanha para homens.

Outro elemento relevante é a retomada da campanha pelo aumento da quantidade de vereadores na Câmara, que pela lei pode chegar a 23 em Maringá. A propaganda de que “aumentar o número de vereadores, aumenta os gastos” não se sustenta mais, pois o orçamento é o mesmo.  

Maringá possui 279.506 eleitores aptos a votar. A cidade conta com mais de 420.000 habitantes. O aumento da quantidade de vereadores aumenta a representatividade na Câmara e possibilita que mais mulheres possam ser eleitas.

Além disso, é necessário intensificar a força das mulheres dentro dos partidos para que as mulheres saiam efetivamente candidatas, com condições de disputar e, não apenas para cumprir a cota de gênero.

Temos o que comemorar sim, mas, com os pés no chão, sabendo que ainda há um grande caminho a ser trilhado para que haja representatividade igualitária entre mulheres e homens na política.

sábado, 21 de novembro de 2020

Pra quem ainda nao entendeu.



1. Tem dois adolescentes na porta da escola: um branco de olhos verdes e um negro. Eles são amigos e foram buscar a irmãzinha do adolescente negro. O adolescente negro trabalha, o loiro de olhos verdes não trabalha ainda. A patrulha escolar chega. Quem voces acham que ela aborda com xingamentos e violência ? 

Fantasia? Não. Isso aconteceu anos atrás em escola de Maringá.

2. Um aluno do intercâmbio com Cabo Verde, disse que se sentia muito mal no Brasil pois toda vez que ia no shopping, o segurança o seguia. 

Fantasia? Não. Isso aconteceu em Maringá.

3. Um trabalhador uniformizado vai pra casa e é abordado pela polícia. Onde vai? os policiais perguntam. Estou voltando do trabalho. Moro aqui. O "aqui" é um condomínio de apartamentos. E a polícia diz: aqui? como se ele trabalhador negro não pudesse morar "ali".

Fantasia: Não, Isso aconteceu em cidade do interior de São Paulo.

4. A mulher negra entra no elevador. Tem uma senhora branca. A senhora diz, toda mansa: filha o elevador de serviço é o outro. A mulher negra responde: obrigada por avisar, mudei pra cá faz pouco tempo.

Fantasia: Não. Isso aconteceu em prédio em Maringá.

Como esses, existem milhares de situações que negras e negros passam por esse Brasil afora. Além das vagas de emprego, da evasão escolar, da ausência no ensino superior e da ausência da comunidade negra na política, do assassinato e das balas direcionados a negros e negras,  que são visíveis  e estampam as manchetes de jornais vamos lembrar do medo pelo qual passam as famílias quando os seus saem de casa. 

Estamos falando do dia-a-dia que é enfrentado por negros e negras de todas as idades, estudantes, trabalhadores (as). E aí vem um vice-presidente e diz que no Brasil não existe racismo. Decididamente, esse governo fake não conhece a realidade do nosso povo ou a ignora propositalmente.

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Por uma Maringá com vereadoras na Câmara Municipal

Infelizmente, a Câmara Municipal de Maringá tem ZERO vereadoras na atual legislatura. Apenas uma mulher (suplente) assumiu a vereança por dois meses em substituição ao vereador titular que foi candidato a deputado estadual.

É incompreensível que uma cidade com mais de 420 mil habitantes, com uma população feminina de 52% não tenha representantes no legislativo.

As mulheres atuam em todos os setores da sociedade e ainda são as que mais acompanham os filhos nas reuniões das escolas, cuidam dos doentes das famílias, usam o transporte coletivo e movimentam a economia local e do centro das cidades. Entretanto, as mulheres não estão na Câmara de Vereadores que é o local onde as leis sobre o funcionamento de cada serviço são aprovadas. Assim, nós mulheres nos tornamos “invisíveis” na sociedade.

Mesmo detendo o conhecimento dos serviços, sabendo dos problemas e das soluções, as mulheres precisam se organizar muito para serem ouvidas e atendidas. Certamente, quando temos vereadoras, ganhamos tempo na etapa de convencimento e de explicação das nossas necessidades.

Por mais que alguns vereadores nos atendam bem nas solicitações do Conselho da Mulher ou das entidades de direitos da mulher, nós não nos sentimos representadas como mulheres pois na composição do legislativo maringaense vemos apenas homens discutindo os problemas da cidade. A representatividade é fundamental para a busca da igualdade de direitos entre mulheres e homens, para que as demandas das mulheres estejam na ordem do dia e sejam respeitadas.

Portanto, mulheres, sejamos decididas!

Pense na situação das mulheres que necessitam do atendimento público na saúde, educação e moradia, na situação das mulheres vítimas de violência que precisam de rede de atendimento aperfeiçoada cada vez mais, pense nas leis que facilitam a vida das mulheres no transporte público, na mobilidade urbana ou no meio ambiente.

Escolha uma mulher pra votar pra vereadora. A menos que um candidato a vereador seja o único candidato do partido que você é filiada, seja seu irmão, parente, marido ou coisa parecida, você não tem motivo e nem precisa votar nele. Muitas mulheres estão preparadas para nos representar na Câmara pois conhecem bem a nossa realidade.

Eleger vereadoras é sanar essa lacuna vergonhosa que marcou a atual legislatura sem mulheres, afinal temos o direito de ocupar esse espaço da elaboração e aprovação de leis e de fiscalização do poder público municipal.

Esperamos que ao final da apuração deste 15 de novembro, a nossa representatividade enquanto mulheres esteja restabelecida na Câmara Municipal de Maringá.

Por todas nós!

Artigo publicado, originalmente,  pela autora do blog em  Café com Jornalista