Não vou escrever sobre o amor
romântico que é tema de filmes, novelas e livros. Quero falar do amor universal,
aquele que foi deixado por Cristo com a célebre frase “ama ao próximo como a ti
mesmo”.
A cada notícia de corrupção fico
pensando o que leva as pessoas a fazer de tudo, sem qualquer escrúpulo por
milhões de reais, para ocupar espaços de poder e se dar bem na vida aos moldes
da famosa “Lei de Gerson”.
Pra quem não sabe o que é a Lei
de Gerson, se tratava de uma propaganda de cigarro em que o jogador de futebol,
famoso na época, dizia “Leve vantagem você também” relacionando a fumar uma determinada marca de
cigarro.
O “leve vantagem você também” faz
parte do imaginário e da atitude das pessoas, desde ações consideradas pequenas
como furar uma fila até colocar componente químico em carne para adulterar sua má
qualidade.
A mensagem por trás de levar vantagem
em tudo, também, faz com que a população aceite políticos corruptos, em nome da
máxima apregoada nos anos 1980, de que “ rouba mas faz”. Parece que realizar “alguma
coisa” apaga o roubo efetuado. Mal sabem as pessoas que o “faz” nesses casos,
carrega consigo licitações irregulares, obras superfaturadas, equipamentos e
materiais de péssima qualidade.
O que o amor que escrevi no
começo tem a ver com isso? Tudo!!!
Ao ser um “contentamento
descontente” nas palavras de Camões, o amor não faria nem aceitaria a corrupção
e não aceitaria que façamos aos outros o que não queremos que façam conosco.
O amor não valorizaria o dinheiro
nem o poder, seja em que moeda de troca fosse. O amor primaria pela saúde,
educação, moradia e serviços públicos de qualidade, a toda a população,
independente da classe social, raça, cor, credo religioso, diversidade sexual
etc.
Não vou entrar em discussão de
modo de produção capitalista pois em sua essência, o capitalismo é excludente e
o que comanda as decisões é a lógica do lucro. Também não tratarei de
socialismo e comunismo pois não é o sistema que vivemos e conhecemos, apesar de
termos como princípio que nesses sistemas, as pessoas teriam seus direitos
básicos de viver dignamente garantidos. Discussão complexa para o amor que não
funciona na lógica financeira e de poder.
Certamente, se fosse o amor, a
mola da vida e não o dinheiro: não estaríamos as voltas com uma reforma
previdenciária e trabalhista que penaliza os que mais necessitam; não receberíamos
notícias de carne estragada e maquiada vendida para as merendas de nossas
crianças nas escolas; não veríamos o nosso planeta sendo dizimado pela ganância
sobre a madeira e outras matérias primas
em nossas florestas e rios; não teríamos nossas mulheres agredidas e mortas nem nossos jovens se matando nas drogas, para citar apenas alguns casos.
Muitas das coisas que vemos em
nosso mundo, seriam diferentes, se fosse o amor, o sentimento que unisse as
pessoas.
Pode soar piegas para os
estudiosos de economia e desenvolvimento, para historiadores e sociólogos, e
pra muitas pessoas, mas, sim o amor faria com que nossas atitudes fossem outras
ao abrir nossos corações para o bem maior, comum a todas as pessoas.
Podemos tentar, cada uma em seu
cantinho, verificando quais atitudes tomamos, em nosso dia-a-dia que seriam
outras se fossemos movidos por amor, seja em casa, no trabalho, na escola e na
política. Essa última sim, a política, precisa de muito amor!!! Podemos começar
sabendo em quem votar e não colocar no poder, políticos inescrupulosos que vão
fazer na vida pública o que já faziam na sua vida privada.
O amor ao exigir atitudes, abre
nosso olhar para o mundo e possibilita novas ações na construção de um mundo
mais humano, fraterno e justo.
Tania Tait, professora e escritora. Autora de livros e artigos. Militante feminista.
Tania Tait, professora e escritora. Autora de livros e artigos. Militante feminista.