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sábado, 31 de outubro de 2020

O dia do livro e a liberdade

 O DIA DO LIVRO E A LIBERDADE

Por Joel Cavalcante

Sou de uma geração que lia a Série Vagalume, fazia trabalhos escolares com a Barsa e assistia os seriados da TV Cultura. O cheiro de álcool nas provas escolares mimeografadas também é uma memória afetiva/olfativa. A década de 90 tinha lá seus encantos, mesmo com o advento da internet, que engatinhava no Brasil e ainda não era popularizada, era uma geração em que os celulares e smartphones não faziam parte de nossas vidas, no lugar o poder das narrativas, da imaginação e da criatividade. Posso dizer que o livro salvou minha vida, levou-me a lugares (reais e imaginários) que jamais imaginaria estar. Descortinou um mundo de possibilidades e jogou luz ao pequeno universo de um jovem filho da classe trabalhadora. Um país se faz com homens e livros, já diria Monteiro Lobato, mas em um país em que se lê tão pouco, com um mercado editorial tão caro, a leitura ainda é um “esporte de reis”, aos poucos beneficiados com o luxo do capital cultural, em disputa. A falta de leitura do livro nos tolhe a leitura da realidade. Um povo que não lê, é um povo escravo, míope. No momento em que a sociedade pensa em colocar o quartel na escola, militarizando-as, poderíamos antes de tudo, criar crianças leitoras. Deveríamos fazer o movimento inverso: transformar os quartéis em grandes bibliotecas públicas.

Essa força sim geraria efeitos multiplicadores, essa sim seria uma revolução verdadeira.

Joel Cavalcante é professor no IFPR de Astorga, Mestre em Ciencias Socias (UEM, Doutorando.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

A manifestação do pensamento na política

A Constituição Brasileira, chamada “constituição cidadã”, promulgada em 1988, apresenta no inciso IV do Art 5, a garantia da manifestação de pensamento: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.

Durante as décadas que se seguiram a promulgação da Constituição, no bojo da ânsia de expor ideias e realizar manifestações antes proibidas pelo governo da ditadura militar, trouxe o ilusório pensamento que se poderia expressar pensamentos contraditórios. Por um certo período, isso se tornou realidade, facilitada por governos do campo democrático-popular.

No entanto, ao assumirem governos assumidamente neoliberais de direita e extrema direita, a situação começou a ser modificada. Já na campanha eleitoral de 2018, percebe-se o ataque aos que pensam diferente, principalmente quando vinculado ao que se convencionou chamar de “esquerda”.

Pessoas foram atacadas, até mesmo por portarem roupas vermelhas por ser o vermelho a cor símbolo dos partidos de esquerda; as redes sociais tornaram-se palco de xingamentos e ameaças. Pessoas sofreram agressões verbais e físicas nas ruas, inclusive pessoas foram mortas por manifestar seu pensamento.

Patrocinado por posturas ditas conservadoras e de direita, houve um grande processo de intimidação veiculado tanto no mundo real como no mundo das redes sociais, a ponto das pessoas retirarem adesivos de seus carros, não assumirem posições para não serem atacadas, inclusive fisicamente.

 Junte-se a isso, as Fake News e a desinformação que impulsionaram a animosidade e incentivaram o ódio. Ódio às feministas, ódio aos negros, ódio aos indígenas, ódio aos lgbt, ódio as ongs, ódio aos defensores do meio ambiente...enfim surgiu uma infinidade de ódios no cenário nacional.

Esse ódio todo tem uma única finalidade: calar as diferenças e implantar uma ditadura onde prevalece apenas o pensamento dos que propagam o ódio.

Ao calar as diferenças, o ódio esbarra na liberdade de expressão e deturpa o sentido de manifestação do pensamento. Não é lícito nem legítimo atacar física ou verbalmente adversários políticos, tratando-os como se fossem inimigos de morte.

Algo muito sombrio se instalou no céu das terras brasileiras quando o ódio passou a dominar a discussão política encobrindo a apresentação de propostas para melhorar a vida da população.

Esse “ódio” precisa ser combatido para que a democracia seja efetivamente instalada. É  um aprendizado de respeito às diferenças, inclusive de respeito às posições políticas distintas.

 

 

Imagem disponível no google. 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Dados da violência mostram a cara do Brasil

A apresentação dos dados sobre violência na 14ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que a violência no Brasil aumentou, mesmo durante a pandemia. País tem um estupro a cada 8 minutos, diz Anuário de Segurança Pública.

Infelizmente, o cenário retratado mostra que aumentou o estupro de vulneráveis e mulheres, os assassinatos de negros e LGBTs e o feminicídio. Dentre as mulheres, as mulheres negras estão entre as que mais são mortas, sendo 66,6% das vítimas em 2019.

Em 2019, foram registrados 66.123 boletins de ocorrência de estupros. 85,7 % das vítimas de estupro são do sexo feminino. Familiares e pessoas de confiança são responsáveis por 84,1 % dos casos de estupro. 57,9 % das vítimas de estupro são menores de 13 anos. Há casos de bebês e de crianças até a idade de 4 anos.

No primeiro semestre de 2020 caíram os registros de ocorrência de agressão contras as mulheres, entretanto, aumentou o número de feminicídios. Presume-se que a redução do registro de ocorrência se deve a dificuldade de buscar ajuda devido ao período de isolamento em que as mulheres ficaram confinadas pela pandemia.

Mesmo Delegacias da Mulher e outros organismos terem disponibilizado realização de boletins de ocorrência pela Internet, com a pandemia, tornou-se difícil para as mulheres. Nos primeiros meses da pandemia, ocorreu, inclusive, a campanha do X vermelho na mão como uma forma das mulheres pedirem socorro.

Destaca-se, nos dados apresentados, que 58,9% dos feminicídios ocorreram em casa e que em 89,9% dos casos o autor do crime é um companheiro ou ex-companheiro da vítima. Foram 648 vítimas de feminicídio no primeiro semestre de 2020.

Com relação aos negros e LGBTs, observa-se a subnotificação dos casos, pois em vários estados da federação, as informações sobre agressões e mortes não são tipificadas como racismo ou homofobia.

Os dados de violência contra criança e adolescentes mostra que 10,3% das vítimas de assassinatos em 2019 foram crianças e adolescentes. Destes 91% das vítimas são do sexo masculino e 75% são negras.

Os dados são cruéis e mostram que a despeito de leis e de redes de atendimentos, o Brasil retrocedeu.

Falta no país, campanhas de prevenção e conscientização, aplicação mais rigorosa da lei e comprometimento por parte dos governos no combate à violência. O comprometimento se dá, também, em medidas como registrar as ocorrências de violência de forma adequada com tipificação do público que sofre agressão para que se possam estabelecer ações direcionadas na proteção das pessoas e no combate à violência.

Os dados estão aí, compilados e, mesmo faltando informações, há muito trabalho a ser feito para proteger nossas crianças, as mulheres, LGBTs, negros, indígenas e portadores de deficiência.

O que não dá mais, é fechar os olhos diante de tão triste realidade.


 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O Assobio

Dias atrás assisti um filme em que um personagem caminhava assobiando. Aquele som do assobio me fez perceber que ouvimos muito pouco assobio na atualidade. Nada a ver com a pandemia, o silêncio do assobio vem de tempos.

Pelo dicionário da língua portuguesa, o assobio significa “som agudo e prolongado que o ser humano pode produzir, com o ar expirado, através do estreitamento da passagem do ar na cavidade bucal, com a língua tomando a forma de canaleta, acompanhado de arredondamento e projeção dos lábios” e “um som agudo produzido por alguns animais (pássaros, cobras etc.); sibilo, silvo”. 

Resumindo, faz um biquinho com a boca, coloca a língua nos dentes e manda ver o som. Descobri que minha gata não gosta e se agita quando tento assobiar.

Quando criança lembro do meu pai assobiando músicas. Assobiava-se para cantar, para comemorar, para chamar alguém.  Tinham os deselegantes, pra não dizer outra coisa, que assobiavam pra chamar a atenção das mulheres.

Nós crianças adorávamos assobiar. Conseguir fazer aquele assobio poderoso com os dedos na boca era sensacional, uma vitória. Nem todos conseguiam, eu era uma das que não conseguiam, o meu assobio com os dedos saía bem sem graça. Mas, me virava muito bem assobiando músicas. E gostava...

Me parece agora que o assobio fazia parte de uma vida mais simples, num tempo longínquo em que a tecnologia que se tinha era a televisão e o rádio como sinais da modernidade.

Nem faz tanto tempo assim. A Internet entrou em nossas vidas de modo comercial em 1995 e se expandiu a partir dos anos 2000. Pensando bem, nesse ritmo alucinante de bombardeamento de informações em tempo real distribuídas em múltiplas plataformas, o assobio é coisa do século passado.

Aquele som gostoso do meu pai assobiando a música “No rancho fundo” de Ari Barroso, certamente ficará apenas na minha memória.

E termino aqui, assobiando...de saudades...



                                         Imagens disponíveis no Google

O processo eleitoral, o coronavírus e as mídias digitais

Desde o final dos anos 1980 ocorre processo eleitoral contínuo no Brasil. A cada dois anos tem-se eleições municipais ou estaduais e nacional.

Sempre muito colorida, as eleições pareciam uma festa e era mesmo, como se o país estivesse comemorando a democracia após 24 anos de governo de ditadura militar.

Os programas TV no horário eleitoral passaram a se tornar cinematográficos, como se os candidatos e candidatas fossem artistas e não pessoas que, se eleitas, deveriam servir ao público. As ruas ficavam lotadas de bandeiras, santinhos e muitas pessoas. O rádio se especializou nas músicas que acompanhavam os candidatos. Também, surgiram problemas inerente às eleições tais como: o caixa 2, as candidaturas laranjas e a venda de votos, entre outros.

Nas últimas eleições entra em cena, o componente redes sociais e a propaganda eleitoral passa a usar recursos multimídia para alcançar o eleitorado. Surgiram as famosas fake news e os famigerados gabinetes do ódio que estimularam a animosidade entre as pessoas que comungam de ideologias distintas.

No entanto, agora em 2020, o cenário mudou devido ao coronavírus. Ao atingir mais de 150 mil mortes pelo COVID-19, o Brasil está prestes a realizar as eleições municipais e escolher seus prefeitos(as) e vereadores (as) para os próximos quatro anos.

Muito utilizada nas eleições 2018, as mídias digitais entram no cenário eleitoral não mais como coadjuvante, mas como elemento fundamental para chegar aqueles eleitores e eleitoras que estão confinados em casa, no isolamento para se proteger na pandemia.

Nesse cenário, os desafios tanto para candidatos como para eleitores envolvem, também, as estratégias para apresentar as propostas pessoalmente e pelas redes digitais, sem levar consigo ou trazer a doença.

Não existe fórmula. A última vez que houve uma pandemia em proporções tão avassaladoras foi em 1918, segundo relatos históricos. Naquela época existia apenas material impresso para divulgar as propostas das candidaturas. O rádio começou a ser usado no Brasil em 1922.

Ao mesmo tempo em que a pandemia cria novas formas de trabalho e de relacionamento, as mídias digitais são aprimoradas para uso em diversos setores, inclusive no processo eleitoral. Talvez seja o momento de se começar a pensar em eleições via Internet, como existente em vários projetos de pesquisa para viabilizar que o eleitor possa votar no conforto de sua casa, sem se deslocar até o local de votação. Com essa tecnologia de votação pela Internet seria resolvido uma parte do problema que é o processo de votação.

Entretanto, o retorno ao colorido das eleições, ao espírito de disputa eleitoral de adversários e não inimigos mortais, a extinção das fake news e, principalmente, sem a sombra de uma pandemia, vai-se tornando um sonho distante. Tanto o processo eleitoral contaminou-se ao longo do tempo como a pandemia está retornando em alguns países que a haviam controlado.

Torna-se necessário, dessa forma, além da vacina contra o coronavírus, uma espécie de “vacina pela democracia” para fortalecer o espírito democrático e garantir o poder de escolha e de participação popular.  

Artigo publicado originalmente em 14/10/2020 na  Gazeta de Maringá

 

 

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Observações sob um sol de 40 graus

 Além da temperatura altíssima e das estatísticas sobre o conoravírus, outras coisas estão acontecendo em Maringá. Sob um sol escaldante, vou destacar duas delas: a campanha eleitoral e o que se vê nas ruas da cidade.

Os bastidores da campanha eleitoral estão a todo vapor. Sexta-feira começa o horário da propaganda eleitoral mas, a campanha eleitoral está na rua faz tempo. Alguns partidos colocaram seu bloco na rua bem antes da autorização da justiça eleitoral. Faz parte da vida política, afinal afirmam que quem não é visto, não é lembrado. Começam a aparecer os carros adesivados, bandeiras nas ruas, visitas ao comércio, nas indústrias e nas residências, entre tantas atividades de campanha eleitoral.

Ao mesmo tempo que se iniciou a propaganda eleitoral observa-se pela cidade que aumentou o número de vendedores ambulantes e pedintes nos semáforos, existem quarteirões inteiros sem árvores e se encontram muitas máscaras espalhadas pelo chão. Elementos estes que tem a ver com a política pela falta de campanha de prevenção ao coronavírus, pela falta de atenção e proteção ao meio ambiente  e pela falta de programa de desenvolvimento econômico para nosso povo.

Máscaras de proteção ao coronavírus jogadas nas calçadas tornaram-se corriqueiras pela cidade. É um ato incompreensível. Por que uma pessoa joga sua máscara numa calçada qualquer, ao invés de descartar no lixo? Seria intenção contaminar outras pessoas? Ou é falta de comportamento em sociedade que aparece nos detalhes como o descarte consciente de uma máscara? O fato é que elas estão ali nas calçadas, às vezes, na frente de portão de estranhos, como se brotassem do nada.

Outra situação que aumentou muito é a presença de ambulantes e pedintes nos semáforos. Sumidos nos tempos em que havia desenvolvimento econômico, geração de emprego e renda e segurança alimentar, eles voltaram agora nestes tempos em que a população brasileira está à própria sorte. A situação sócio-econmica dessas pessoas é resultado de uma política de desenvolvimento econômico que privilegia a exportação e o atendimento ao mercado internacional dada por um governo negacionista e que se rende aos EUA.

Por fim, num período de desmatamento desenfreado, mudanças climáticas e aumento da temperatura, vê-se que medidas simples como o plantio de árvores, tomadas tanto por governo como pela população, estão sendo abandonadas. Ao caminhar pela cidade, encontra-se quarteirões inteiros sem árvores. Quando uma árvore é retirada, imediatamente o dono do local faz uma calçada tampando o local da árvore.

O destaque de hoje foi para uma imagem da calçada no cemitério municipal ao lado do Teatro Reviver em que foi feita um calçamento novo sem espaço para plantio de árvores ou grama. Pode ser que faça parte da revitalização da Praça ao lado, mas, certamente um pedaço de terra para plantio de árvores caberia muito bem naquele local.

Sob o sol de 40 graus, além de observar e compreender o que está ao nosso redor, vamos conhecer as propostas dos nossos candidatos e candidatas pra escolher bem. Pode até parecer que os políticos estão longe das nossas vidas, mas na política tudo que eles/elas fazem  em todas as áreas, influencia até se poderemos beber água ou não, em abundância ou pagando por ela, mesmo estando em cima de um presente da natureza que é o nosso Aquífero Guarani.


 Foto: O Fato Maringá, 2020

 

 

 

 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

A burca invisível

 Hoje li numa matéria que o STF acatou uma absolvição por “defesa da honra” de um homem que tentou matar a ex-mulher a facadas.

Pensei que estivesse lendo um processo de meados do século passado. Mas, não. A reportagem é de 30 de setembro de 2020, referente a decisão tomada no dia anterior.  Veja aqui: STF acata absolvição "por defesa da honra" em caso de feminicídio

Muito comum nos processos até os anos 1970, a “legitima defesa da honra” funcionava como um aval para os homens que matavam as mulheres, por conta de supostas traições ou abandono. Teve casos de celebridades que foram mortas e, por cobrança dos movimentos de mulheres, o assassino foi levado a júri e condenado.

O aumento do conservadorismo fortalece o machismo em nossa sociedade, colocando as mulheres em segundo plano, com reforço do poder dos homens, principalmente brancos, supostamente héteros e ricos. Infelizmente, muitas mulheres compactuam de posturas retrógradas que, inclusive, também as penaliza, muitas vezes com o uso das religiões.

Anos atrás em uma palestra eu disse que precisávamos tomar muito cuidado para garantir nossas conquistas pois o conservadorismo estava crescente e se bobearmos vão nos fazer usar a busca. A burca é um traje que cobre todo o corpo da mulher, inclusive deixando apenas uma abertura nos olhos.  Todas riram. Mas, está aí. Não vamos usar a burca física de panos pois não estamos em regimes que obrigam as mulheres a usa-las, ainda. Estão nos impondo aos poucos e de forma avassaladora, uma burca invisível.

Os governos, em todas as esferas desde o governo federal, começam a descontruir nossas políticas públicas com ações como:  destinar orçamento ínfimo para o combate à violência contra a mulher, não fortalecer a implementação da Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, retroceder nas discussões de gênero; salientar o papel de submissão da mulher, entre tantas ações que estamos vendo.

Nessa linha de retrocessos, vem o poder judiciário com o arremate final, ao colocar num julgamento um posicionamento arcaico que surpreende pelo retrocesso, trazendo de volta a “legitima defesa da honra”. "Honra" dada, pelo poder constituido, ao homem para justificar o assassinato  das mulheres.

Num período como o atual em que vivemos uma crise sanitária, econômica, ambiental e política sem precedentes, mais atenção deve ser prestada na garantia dos direitos conquistados pela classe trabalhadora, pelas mulheres, pelo movimento negro, pelo movimento LGBT, entre tantos. 

No caso específico das mulheres, a atenção deve ser redobrada, com pouca presença de mulheres na política, os direitos das mulheres correm sérios riscos em governos conservadores.

Com bem disse Simone de Beauvoir: “Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.

Fiquemos atentas!

              Foto da vestimenta Burca. Imagem disponível no Google
 

 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A discriminação nos mecanismos de busca nas redes digitais

Não é novidade pra ninguém que as respostas as nossas indagações nos mecanismos de buscas nas redes digitais são redirecionadas de acordo com nosso perfil, ou seja, os algoritmos das plataformas relacionam as nossas buscas de acordo com o que postamos na rede digital.

Entretanto, estudos mostram que a situação é muito grave e vai além de relacionar as informações. Os algoritmos de busca são elaborados por pessoas que colocam neles suas expectativas, preconceitos, o posicionamento das empresas que atuam, inclusive com influências de racismo, machismo, misoginia, entre outros.

Dessa forma, os estudos comprovam que dependendo do que você pesquisa, as imagens mostradas refletem o que acontece em nossa sociedade. Para exemplificar, se você digita riqueza, surgem imagens de pessoas brancas. Se você busca por pobreza, a maioria das imagens mostradas é de crianças e mulheres negras.

Palavras como secretário e secretária também mostram imagens diversas. A busca por secretária apresenta, em sua maioria, imagens de mulheres brancas. Por sua vez, a busca por “secretário” normalmente traz imagens de chefes de estado ou secretários municipais que são cargos de primeiro escalão nos municípios. Nesse exemplo, encontramos tanto o racismo como o sexismo na mesma busca nos mecanismos, ao apresentar mulheres brancas em uma situação e apenas homens na outra situação.

Os testes efetuados sobre as ponderações realizadas nos estudos demonstram claramente o que pensa a nossa sociedade em termos de preconceito ao apresentar resultados de imagens que fortalecem o estereótipo social dado a cada agrupamento, principalmente relacionado às mulheres e aos negros.

A diversidade não encontra eco nas redes digitais e isso não é demonstrado apenas pelos comentários preconceituosos de alguns usuários dessas redes, mas, também, pela própria mentalidade de quem está por trás dos comandos efetuados para que as redes respondam nossas perguntas, ou seja, os algoritmos desenvolvidos por pessoas. O algoritmo é um conjunto de instruções para que o computador execute o que está sendo solicitado. Mas, por trás de um algoritmo existe uma pessoa que escreve os comandos para realizar determinada tarefa.

Assim, você está sendo conduzido o tempo todo. A partir do momento que voce digitar a palavra que indica o que busca no local destinado a busca, o algoritmo te conduz a bancos de dados que contenham as informações daquela palavra. Normalmente, o algoritmo faz um relacionamento com seu perfil para detectar seus maiores interesses. Se você escolhe imagens, a plataforma oferece uma série de fotos, cartaz digital, entre outros relativos a imagem da busca.

A falsa sensação de que o mecanismo de busca nos traz tudo que existe sobre aquele tema cai por terra com a realização de diversos estudos que apontam para o controle sobre nossas informações nas redes digitais. Informações dados por meio de textos, vídeos ou imagens que refletem todo preconceito em nossa sociedade.

Não se pode fechar os olhos para a importância das redes digitais, no entanto, não se pode ignorar o mecanismo de manipulação existente nessas próprias.

Artigo publicado originalmente pela autora em: Gazeta de Maringá