Para compartilhar idéias!







segunda-feira, 31 de maio de 2021

Entidades manifestam pesar e indignação com assassinatos de Thaynara e Janine

 Entidades assinam nota conjunta no caso dos assassinatos praticados contra as vidas de THAYNARA MORAES (18 anos) e JANINE NAOMI FERREIRA DOS SANTOS (20 anos), na cidade de Maringá, nesse domingo(30/05). Segue a nota completa:

 NOTA CONJUNTA

 O FÓRUM MARINGAENSE DE MULHERES, em conjunto com o CONSELHO MUNICIPAL DA MULHER DE MARINGÁ, a COMISSÃO DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DE GÊNERO OAB MARINGÁ, a Ong Resistrans direitos da população de transgÊNEROS e travestis, a Ong Maria do Ingá,  a Associação Maringaense de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, o Movimento Mais Mulheres No Poder, o NUDISEX/UEM - Núcleo de Estudos e Pesquisas em Diversidade Sexual, o Instituto de  Mulheres Negras Enedina Alves Marques, a ONG MARIAS da internet, o Observatório das Metrópoles – Maringá, a Associação dos Docentes da UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, NUMAPE-UEM, Levante Feminista contra o feminicidio – na qualidade de órgãos da sociedade civil organizada e reafirmando seus respectivos compromissos com a defesa do Estado Democrático de Direito e com a consecução de uma sociedade livre, justa, inclusiva e democrática – vêm, por meio da presente nota conjunta, manifestar pesar e indignação com os assassinatos praticados contra as vidas de THAYNARA MORAES (18 anos) e JANINE NAOMI FERREIRA DOS SANTOS (20 anos), na cidade de Maringá, nesse domingo (30/05), nos termos que seguem:

 

Nesse domingo, Thaynara e Janine foram vítimas de um crime bárbaro, quando dois homens armados às surpreenderam, na residência onde moravam em Maringá, e as alvejaram, causando a morte de ambas.

A motivação do crime ainda é desconhecida, todavia a forma como os assassinatos se deram causaram muita comoção. Ambas as vítimas não tiveram como se defender, Thaynara estava na cama ainda quando sua vida foi ceifada.

Vivemos atualmente numa crescente onda de mortes de mulheres, sobretudo no que tange às mulheres transgêneros e travestis.

Importa destacar que, desde 2015, o legislador trata homicídios praticados contra o “sexo feminino” como crime qualificado por feminicídio, levando a exasperação da pena para 12 a 30 anos de reclusão. Porém, a aplicação dessa qualificadora ainda gera muita discussão nos tribunais e grande parte da jurisprudência tem entendido que o feminicídio só ocorre quando o crime se dá no ambiente doméstico ou decorrente dela ou de relação afetiva, ou ainda por motivação de gênero.

Para além da discussão se foi feminicídio ou não, inclusive porque não se sabe ainda a motivação do crime praticado contra Thaynara e Janine, trata-se de um crime bárbaro e chocante, o qual não possibilitou a defesa das vítimas. A sociedade maringaense não suporta mais tanta violência praticada contra as mulheres, razão pela qual registramos nosso pesar e indignação.

Destaca-se, outrossim, que as vítimas eram negras, o que se mostra bastante sintomático, mormente porque as mulheres negras representam a maioria das vítimas de homicídio e feminicídio no Brasil (2 em 3 vítimas são negras, conforme dados da Folha de São Paulo de 19 nov. de 2020)

Nesse sentido, expressamos a nossa vigilância sobre o caso e requeremos às autoridades competentes que se dediquem a levar à justiça os criminosos que destruíram a vida dessas duas jovens e levaram dor e sofrimento às famílias e amigos.

De outro lado, é notório o aumento de violência praticada contra mulheres na pandemia de COVID-19, tanto cisgêneros quanto transgêneros e travestis, enquanto que o orçamento de políticas para mulheres sofre franca queda, no Brasil.

De 2016 a 2018, houve redução de 68% dos investimentos em políticas públicas para mulheres, sendo que o setor mais afetado foi o de combate à violência. No ano subsequente, o corte foi ainda maior: em 2015 foi investido 119 milhões para tais ações, enquanto que em 2019 o investimento foi de 5,3 milhões.

Para o ano de 2021, o valor empenhado para a Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres foi 19% menor que o ano anterior, conforme informações noticiadas pelo site da Câmara dos deputados.

Dessa forma, fica evidente o desmonte nacional das políticas públicas para mulheres, sobretudo no que tange ao combate à violência. Diante de dados tão alarmantes, a sociedade civil organizada subscritora dessa nota deixa o seu total e absoluto repúdio aos referidos cortes orçamentários.

Entendemos que a redução de políticas públicas voltadas para prevenção de violências praticadas contra mulheres é concorrentemente responsável pelo aumento de crimes que as vitimam todos os dias no Brasil. Nesse contexto, frisa-se que não é possível implementar políticas públicas de combate à violência sem o respectivo empenho orçamentário. Por isso, a redução sistemática de investimento é inaceitável.

Outro ponto que chama atenção é a referência que a mídia fez em relação à Thaynara ao informar sobre o crime. Em contato com amigos e familiares, soubemos que Thaynara se identificava mulher transgênero e não como travesti (trata-se de identidades de gênero que não são iguais). Dessa forma, é necessário que se corrija tal referência, uma vez que foram publicadas reportagens que se referiam à Thaynara como travesti.

Em uma das reportagens veiculadas, o jornalista utilizou o nome de batismo, “masculino”, para se referir à Thaynara, o que demonstra total desprezo pela identidade de gênero da vítima. Nesse caso, a transfobia não é sequer velada, uma vez que o nome social da vítima foi completamente ignorado. À vista disso, repudiamos esse tratamento desrespeitoso para com uma jovem negra e transgênero, a qual já sofreu violência atroz.

Aproveitamos o ensejo para enfatizar a importância de ser criada no Estado do Paraná uma lei que verse sobre o uso do nome social em lápides e nos atestados de óbito de travestis, mulheres transexuais, homens transexuais e demais pessoas trans, a exemplo da Lei 6804/21 do Distrito Federal. A omissão do legislativo paranaense acerca desse tema termina por violentar novamente a vítima Thaynara, a qual não poderá ter seu nome reconhecido, ainda que pós mortem.

Por fim, expressamos os nossos sinceros sentimentos e pêsames às famílias enlutadas e clamamos por justiça.

 

 

Maringá, 30 de maio de 2021.

 

Fórum Maringaense de Mulheres

Conselho Municipal da Mulher de Maringá

Mães do Ingá

Ong Maria do Ingá

Movimento Mais Mulheres No Poder

Observatório das Metrópoles - Maringá  

Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques

Ong Resistrans Direitos da População de Transgêneros e Travestis

Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Maringá

NUDISEX - UEM - Núcleo de Estudos e Pesquisas em Diversidade Sexual

Ong Marias da Internet

Numape-UEM

Levante Feminista contra o feminicidio

AMLGBT - Associação Maringaense de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

CEVIGE – Comissão de Enfrentamento à Violência de Gênero da OAB/Maringá

 

Imagem: Compromissoeatitude.org
 


quinta-feira, 13 de maio de 2021

O Charly Flow brasileiro

Tem uma novela colombiana chamada "A Rainha sou eu" que passou faz alguns anos em que o enredo principal é de uma compositora que foi presa injustamente por tráfico de drogas, devido a armação do namorado que colocou droga na mala dela. Dezoito anos depois, ela volta pra se vingar dele que se tornou um cantor famoso, inclusive tendo roubado suas músicas. Ele canta, mas não compõe e sua carreira teve problemas por isso, então ele se especializou em tomar para si composições de outros, até de supostos amigos, ou seja, ele é uma fraude. Ele também frauda sua empresa para lavagem de dinheiro obtido ilegalmente. Além disso, ele cometera um crime de assassinato na juventude e voltou a cometer crimes na vida adulta. Resumindo, o cantor é um criminoso que se safa pelos contatos que tem e pelas falcatruas e assassinatos que comete.

Para se manter, ele conta com um fã-clube formado por meninas apaixonadas por ele, que fazem de tudo pra protege-lo e o acompanham em suas declarações públicas. No particular, ele controla a presidente do fã-clube com elogios e afagos, ao mesmo tempo que a induz a fazer coisas pra ele, como perseguir a compositora, dar entrevistas defendendo-o, entre outros. A presidente do fã clube, jovem e apaixonada pelo cantor e sua carreira, ainda não se deu conta de que é manipulada por ele.

É uma obra de ficção e como tal, ao final, a legenda afirma isso e considera que qualquer semelhança é mera coincidência. Isso remete a frase: Nunca se sabe se a arte imita a vida ou a vida imita a arte...

Ontem lendo notícias, Brasil afora, vi as reportagens tratando da CPI da Covid e da troca de xingamentos entre um dos filhos do presidente e o relator da CPI, vi também pesquisas colocando o presidente Lula disparando em primeiro lugar, vi o cercadinho do presidente com seus fã e chamadas nas redes sociais para protege-lo de um possível impeachment, diante dos 106 pedidos protocolados.

Sem querer, o cercadinho do presidente, nas suas saídas, com as pessoas gritando o nome dele, me lembrou instantaneamente o cantor Charly Flow e suas fãs. Por mais que existam provas, indícios, gravações e depoimentos, tanto na ficção como aqui na realidade, os fãs do presidente continuam acreditando nele em quase tudo. Quase tudo, afinal, mesmo “apaixonados pelo presidente”, muitos sabem que estamos numa pandemia por uma doença que mata e, assim, muitos fãs ignoraram o boicote do presidente à pandemia, se cuidam e tomam vacina.

Aos poucos, na ficção, o cantor foi perdendo suas fãs, outras esperam as provas e outras continuam defendendo cegamente como a presidente do fã-clube, afinal essa função lhe dá poder e a torna uma espécie de celebridade. Se não acreditar mais nele, o que será dela, sem poder e sem função, tendo passado tanto tempo fiel. Isso, também, faz parte da manipulação que ele faz com o emocional dela.

Enfim, a novela é uma obra de ficção. Mas, a situação brasileira marcada por catástrofe sanitária, econômica e política dominada por políticos inescrupulosos com apoio de determinados religiosos, infelizmente, não é ficção.

Alguns elementos começam a aparecer no cenário da realidade brasileira. Primeiro foram as famosas “rachadinhas” na assembleia legislativa do Rio de Janeiro, termo usado para minimizar a corrupção existente na família do presidente, gravações e depoimentos; troca de delegados; assassinato da vereadora Marielle Franco, entre tantas suspeições que pairam no ar.

Agora surgem mais novidades. Em seu início, a CPI da Covid já desvelou o boicote governamental na compra de vacinas. Além do boicote às medidas sanitárias, notícias revelam a existência de superfaturamento de tratores para desvio de verbas para compra de deputados do chamado centrão, ou seja, deputados que não tem ideologia e, em troca de verbas e pra se manterem no poder, apoiam o que o presidente quiser. Os nomes “tratorão” e “bolsolão” começam a ser usados, o que se sabe de concreto, é que o valor é muito maior do que o daquele mensalão que abalou a sociedade brasileira, na década passada.

As evidências vão surgindo, o fã-clube presidencial, aos poucos, vai se desintegrando.

Sempre vale lembrar a famosa frase atribuída ao protestante francês Jacques Abbadie, adaptada pelo presidente norte-americano Abraham Lincoln:

“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”.

 


 

 

 

 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Cine Teatro Plaza: do apogeu ao abandono

Escrevi o artigo em 2015 e lembrei dele lendo notícias sobre o Cine-teatro Plaza.

"No sábado pela manhã fui ao centro de Maringá e estacionei na frente do Cine Teatro Plaza. Fiquei perplexa ao observar o prédio, pois não tinha me atentado para o abandono em que se encontra o teatro Plaza. É uma visão que nos remete aqueles filmes futuristas em que o mundo está totalmente decadente e destruído. Munida do celular tirei várias fotos e resolvi escrever sobre o assunto. Para minha surpresa, quando fui pesquisar sobre a situação do Cine Teatro, me deparei com iniciativas populares e do poder legislativo para recuperar o local conforme encontrado em www.angelorigon.com.br. Inclusive, encontrei  em www.maringanews.com.br de 23/05/2015, uma filmagem do radialista Gilmar Ferreira intitulada “A triste situação do Cine Teatro Plaza”. 

Dizem que não existe coincidência, mas sim sincronia. Talvez essa sincronia tenha nos levado, cidadãos e cidadãs maringaenses, nascidos aqui ou não, mas com lembranças do local e conhecedores da sua relevância para a vida cultural e artística da cidade de Maringá a se engajarem na luta pela revitalização, reativação e tombamento do nosso Cine Teatro Plaza.

Vale a pena relembrar a história, desse “patrimônio cultural” da cidade, que  foi cinema e nos trouxe grandes lembranças desde assistir filmes clássicos  como  “ A Profecia” nos idos dos anos 1970 ou “Era uma vez na América” até participar da Escola Regional de Informática-Sul, entre tantos outros.

O Cine Plaza foi inaugurado em 1968, com capacidade para 610 lugares e com 180,23 m2. Durante sua existência recebeu filmes, peças de teatro, eventos musicais e eventos científicos. Sediou durante muitos anos o maior evento musical da região, o FEMUCIC.

Na gestão do prefeito Ricardo Barros, (1988-1995), o Cine Teatro foi adquirido pelo município e segundo consta no site da prefeitura (www.maringa.pr.gov.br), apenas a parte do Cine Teatro foi comprada e não as demais dependências do prédio.

Em 2003, na gestão do prefeito José Claudio (2001-2004), o prédio foi interditado para revitalização. Nas gestões municipais posteriores, o prédio foi abandonado e, na atualidade, conta com tapumes cobrindo a entrada do Cine Teatro, inclusive com muitas pichações.

Em 2013, começa uma campanha na cidade em prol da revitalização, reativação e tombamento do Cine Teatro Plaza, considerando a sua relevância enquanto equipamento cultural e histórico (www.facebook.com.br/campanhacineteatroplaza) e http://maringa.odiario.com/maringa/2014/01/campanha-pede-revitalizacao-do-cine-teatro-plaza-de-maringa/797349/.

Em 02/10/2014 aprova-se na Câmara de Vereadores, a transformação do Cine Teatro Plaza em utilidade pública.

Agora em 2015, a situação do Cine Teatro está pior, pois o abandono é evidente. Basta ver as fotos.  Que poder político tem essa cidade que se apregoa como a melhor cidade do Brasil pra se viver mas que não valoriza o seu patrimônio histórico e cultural?. Essa ganância, ou ignorância, destruiu nossa rodoviária, nossa ferroviária e outros prédios que faziam parte da nossa memória histórica. E vamos lembrar aqui os demais cinemas da cidade (Cine Horizonte, Paraná - Ouro Preto ou Peduti e Cine Maringá), transformados em prédio residencial e comercial,  supermercado e  igreja.

A campanha pelo Cine Teatro Plaza é totalmente legitima na medida que valoriza um patrimônio histórico e cultural que revitalizado, reestruturado e tombado pode, além de mobilizar a vida cultural da cidade, deixar registrado para as futuras gerações uma parte relevante tanto na vida cultural como na história da cidade de Maringá.

Empresas do comércio, da indústria ou prestação de serviços públicos instaladas em Maringá e região poderiam encampar essa luta e realizar a revitalização e recuperação desse importante patrimônio cultural e histórico, deixando uma marca de contribuição para a cidade. Fica aí a dica. A linda flor, a mais gentil do Norte do Paraná, nossa amada Maringá, agradecerá e muito.

 


 

terça-feira, 4 de maio de 2021

Olhar de menina e de mulher nos 74 anos de Maringá

Nascida em Maringá, bisneta, neta e filha de pioneiros e pioneiras, tanto pelo lado materno como paterno, cresci ouvindo as histórias do início da formação da cidade.

Menina curiosa, sempre prestava atenção e fazia perguntas para a família.  Ouvi muito sobre as toras de árvores colocadas no meio da Avenida Brasil no bairro Aeroporto, da poeira nas roupas no varal, da água retirada do poço, das correntes nas rodas dos caminhões e das carroças pra atravessar o lamaçal de barro (pra quem não conhece, nem imagina como é grudento) e tantos detalhes do cotidiano que, hoje, nem parece que existiram.

Me encantava imaginar a solidariedade entre as pessoas vindas de vários lugares do Brasil e a coragem para enfrentar uma terra agreste num novo mundo. Ao mesmo tempo me entristecia ao pensar na devastação da natureza para construir nossa região.

Conforme Maringá e eu íamos crescendo (nasci em 1961) comecei a conhecer a realidade da nossa terra. Morei muitos anos na Rua Néo Alves Martins quase esquina com a Av. Laguna (extensão da Av. Pedro Taques). Na época havia uma brincadeira de falar que morávamos na divisa entre o centro da cidade e a Vila Operária.

Lembro bem que nos anos 1970, no nosso tempo de crianças e adolescentes, naquele espaço, havia uma corda invisível, que nos fazia circular a pé ou de bicicleta, num pequeno trecho da Vila Operária, na Zona 02, no centro, num trecho da zona 4, numa parte do bairro Aeroporto e numa pequena parte da Vila Sete.

Entretanto, a minha visão da cidade começou a mudar quando fomos realizar uma atividade da Escola Osvaldo Cruz sobre o analfabetismo.  

A professora dividiu a Vila Operária em quadras e cada dupla de estudantes ia de casa em casa perguntando quantas pessoas moravam, qual o grau de instrução etc. A quadra que ficamos encarregadas era repleta dos famosos cortiços (casa agrupadas num mesmo terreno, às vezes, com um banheiro única para todas as casas). Minha colega e eu ficamos perplexas por encontrar tanta criança com barriga d´água, pessoas analfabetas e casas muito pobres.

Aquela experiência em plena adolescência me fez mudar o olhar. Meus pais sempre trabalharam muito. Tivemos uma vida simples e modesta, com as despesas compartilhadas com o caminhão do meu pai, mas nem de longe passávamos o que aquelas famílias que entrevistamos passavam. Foi perturbador conhecer essa triste realidade a tão poucas quadras de onde morávamos.

Anos depois, li num texto do Patrimônio Histórico sobre a segregação na criação de Maringá, com bairros organizados: um bairro para receber operários (por isso o nome Vila Operária), outros para receber profissionais liberais como médicos e comerciantes, outra para a prostituição e assim por diante. Com essa leitura, passei a compreender tudo aquilo que eu presenciara na adolescência.

Adulta, participei da inauguração da rua com o nome do meu avô Antonio Tait. Na época fizeram uma cerimônia com descerramento de placa, discursos e tudo mais. Num dado momento observei minha avó Marianna e pensei: e ela que trabalhou tanto, será homenageada também nesse lugar que criara o mito do pioneiro herói homem? Ali foi o embrião para minha primeira pesquisa sobre mulheres pioneiras.

Assim, tive a grata oportunidade de realizar duas pesquisas emocionantes: as excluídas da história, em 1996 e mulheres na ditadura militar, em 2017.

Na primeira pesquisa, entrevistei mulheres pioneiras que narraram seus medos e anseios, trazidas por seus maridos ou pais, distante do conforto e da segurança de seus locais de origem. Com elas, eu soube dos bailes do Hotel Bandeirantes, da rádio, das escolas, do medo que sentiam dos jagunços e capangas que por aqui andavam, da rodoviária empoeirada, entre tantas outras situações que mostram como era a vida por aqui. Com elas, eu me emocionei com cada comentário e cada foto.  O resultado dessa pesquisa está no livro Maringá e o Norte do Paraná, organizado pelos professores Reginaldo Dias e Henrique Gonçalves, de 1999 (EDUEM).

A segunda pesquisa foi no meu pós-doutorado sob supervisão da professora Ivana Simili e do Professor Reginaldo Dias, na UEM. Aqui tratamos de um outro olhar no qual pude conhecer e narrar a história de mulheres maringaenses que atuaram no campo de luta contra a ditadura militar. Elas foram transgressoras ao atuarem na vida política numa época em que a elas era destinado o papel de serem esposas e mães, silenciadas no ambiente doméstico. O resultado dessa pesquisa está no meu mais recente livro “As mulheres na luta política” (Editora CRV).

Tenho um profundo sentimento de gratidão à essas mulheres que abriram seus corações, suas vidas e me tornaram guardiã das suas histórias, as quais fazem parte das narrativas da história de Maringá.  

Agora, revisitando meus olhares de menina e de mulher, afirmo com convicção que as mulheres fizeram e fazem muito, combinando a força e a experiência dos anos vividos com a energia e o arroubo da juventude.

No entanto, algo falta na narrativa da história das mulheres maringaenses.

Falta o percentual que nos cabe de direito no legislativo correspondente aos 52% que somos da população e falta a presença de uma mulher no executivo. Afinal, em 74 anos de história, nunca tivemos nem prefeita nem vice-prefeita.

Diante de tantas adversidades, chegamos até aqui e está mais do que chegada a hora da cidade fazer valer seu nome de mulher e a força que dele emana.

 

·         Tania Fatima Calvi Tait, maringaense, professora, escritora, doutora em engenharia de produção com pós-doutorado em História das Mulheres. Integrante da Ong Maria do Ingá Direitos da Mulher, foi Presidente do Conselho da Mulher (2017-2019) e do Fórum Maringaense de Mulheres (2013-2015).

 

 Imagem extraída de: g1.globo.com