sábado, 23 de outubro de 2021
quinta-feira, 14 de outubro de 2021
Professoras e professores: superação na pandemia
- Artigo postado originalmente em Aduem.com.br
Fiquei pensando em escrever sobre professores (as) e a comemoração do dia 15 de outubro. A profissão de professora sempre esteve presente na minha família. A minha avó foi professora de datilografia, tenho muitas tias, primas, primos, irmã e genro que atuam na profissão. Uma vez minha filha mais nova, criança, afirmou: “mãe, nossa família é família de professores, tem você, o pai e um monte de gente, né”. Lembro também de professores e professoras maravilhosos que tive, alguns nem tanto, calmos, bravos, “pegadores de pé” entre tantos perfis. No entanto, seja de qual estilo ou perfil, uma coisa é certa, professores (as) sempre estimulam a turma de estudantes, corrigem, cobram porque sua função, além de conhecimento, transmite incentivo e a esperança de um mundo melhor.
Uma vez visitamos uma delegada da mulher pela Ong Maria do Ingá. Fomos a Zica e eu, duas professoras. Na conversa com a delegada sobre a juventude, chegamos à conclusão que ela, a delegada, devido ao seu trabalho tinha uma visão muito triste sobre a adolescência enquanto nós professoras, uma de ensino fundamental e uma de ensino universitário, tínhamos visão de esperança e de futuro para a juventude por meio da educação, cultura e esportes. Também me lembro ao viajar pela América Latina, anos atrás, quando as pessoas sabiam que eu era professora, o atendimento se tornava mais respeitoso ainda, como se eu fosse um símbolo de algo muito bom.
No entanto, nem tudo é essa visão romanceada. Agredidos(as) física e moralmente por governos descomprometidos com a educação, professoras e professores começaram a ser atacados, no Brasil, por pessoas que deturpam o processo de ensino-aprendizagem sem sequer entender o que falam e por governantes que sabem que a educação promove a libertação das pessoas e eles querem as pessoas longe do conhecimento para se perpetuarem no poder.
Aí chegou a pandemia e o mundo enfim redescobriu novamente a função relevante de professores e professoras. Seja porque as crianças ficaram confinadas em casa, seja porque realmente estavam preocupados com seus filhos(as), o fato é que os professores tiveram um papel fundamental na vida das pessoas. Eu diria que ao lado dos profissionais de saúde, sem dúvida, imprescindíveis no combate à pandemia, os profissionais de ensino possibilitaram junto com o conhecimento, a esperança.
Dentro de suas casas, com limitações tecnológicas, internet ruim, equipamentos não preparados e nem metodologia para o ensino on line, sem incentivo governamental (no caso das escolas públicas) ou empresarial (escolas privadas), professores e professoras deram sinal de resistência, aprenderam a usar a tecnologia e foram a exaustão para manter alunos e alunas em suas aulas.
Em alguns locais, professores e funcionários de escolas foram nas casas em busca de alunos que não assistiam aulas virtualmente, o que revelou outro lado da desigualdade social que é a falta de acesso às tecnologias de comunicação e informação. Falta de acesso por problemas de infraestrutura de rede de comunicação, celulares com limitações de conexão, famílias com um celular para mais de uma criança, entre tantos problemas que a pandemia mostrou que existem em nossa sociedade e não eram visíveis.
No fim das contas, mesmo com salários defasados, falta de infraestrutura para trabalho e com agressões de todo tipo, professoras e professores, cientes do seu papel, continuam firmes e convictos. A todos eles e a todas elas, nosso respeito, nossa reverência e nos moldes do imperador japonês que dizem só se curvar diante de professores, nós, também nos curvamos diante deles (as) e agradecemos pela existência de cada um (a) em nossas vidas.
Tania Tait 14/10/2021
aduem.secretaria@gmail.com
sexta-feira, 8 de outubro de 2021
A pobreza menstrual, a desigualdade social e o machismo
A pobreza menstrual veio à público principalmente durante a pandemia que afetou a renda das famílias que passaram a dispor de poucos recursos financeiros. Ao ter a necessidade básica da alimentação como prioridade, alguns itens foram substituídos e deixados de lado, como, por exemplo o absorvente higiênico. Entretanto, a falta de dinheiro para comprar absorvente não é o único resultado da pobreza menstrual pois ela mostra o problema da falta do acesso a água, falta de saneamento básico e a desigualdade social.
Sendo mundialmente detectado, desde 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) considera o acesso à higiene menstrual um direito que precisa ser tratado como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. Especificamente no Brasil, uma pesquisa realizada e publicada recentemente revela que 28% das mulheres de baixa renda são afetadas pela pobreza menstrual, ou seja, mais de 11 milhões de brasileiras.
Tanto problemas físicos como emocionais afetam as mulheres. Físicos pelo uso de produtos como papel jornal, massa de pão ou papel higiênico para substituir o absorvente, o que ocasiona doenças como infecção urinária, candidíase entre outras doenças. No aspecto emocional, muitas faltam ao trabalho ou a escola por se sentirem sujas e constrangidas. Essa situação revelou problemas adicionais como banheiros sujos ou desprovidos de condições para higienização, seja nas escolas ou em locais de trabalho.
Na pandemia, sensibilizados pela situação das mulheres, vários municípios e entidades da sociedade civil realizaram campanhas para arrecadar itens de higiene pessoal femininos como absorventes, shampoos e aparelhos para depilar, destinados às famílias carentes.
Visto como um problema sério, a partir de uma iniciativa popular realizada por mulheres, o Senado brasileiro aprovou uma lei para distribuição de absorventes, coletores e tampões íntimos. Entretanto, a lei foi vetada pelo presidente Bolsonaro, em mais uma demonstração de insensibilidade diante da situação de mulheres e meninas que tem suas vidas impactadas pela pobreza mundial.
Não bastasse o absurdo do veto presidencial ao direito das mulheres pobres de ter acesso aos absorventes para minimizar a pobreza menstrual, alguns homens em todos os cantos do país se sentiram à vontade para atacar o projeto de várias formas: defender o presidente pela justificativa mentirosa de falta de verba orçamentária para o projeto visto que no projeto é detalhado de onde viria o recurso; que a situação dessas mulheres é frescura e que precisa parar de doar coisas pra elas aprenderem a se virar. Esqueceram esses sujeitos, que não menstruam e nem sentem cólicas menstruais nem constrangimentos quando sua roupa é manchada de sangue da menstruação, que durante a pandemia a desigualdade social se tornou gritante, revelando a pobreza em vários aspectos da vida que afetam as pessoas.
Não se pode fechar os olhos para a pobreza menstrual e fazer de conta que ela não existe. Ela está aí gritante e junto com o sangue que se esvai dos corpos femininos, se esvai, também, a possibilidade de uma vida digna.
Imagem: LabDicasjornalismo.com.br
quinta-feira, 7 de outubro de 2021
Arma e amor não combinam
Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que há um aumento considerável de novas armas registradas, dobrando a cada ano desde que o governo atual assumiu o poder em 2019, tendo como um dos seus motes de campanha o armamento da população.
Basta observar a evolução dos registros para ter uma dimensão da situação:
2017: 42.387 novas armas registradas
2018: 47.691 novas armas registradas
2019: 94.416 novas armas registradas
2020: 186.071 novas armas registradas
Outro dado que chama a atenção é o aumento de feminicídio durante a pandemia, com 22% a mais em 2020 do que em 2019, conforme apresentado pelo Anuário de Segurança Pública. Os dados estão aí para mostrar a realidade do aumento das mortes por armas de fogo ao mesmo tempo que traz o conhecimento sobre o aumento dos registros de novas armas.
Muitas pessoas que se dizem
cristãs estão defendendo o porte de armas como forma de se proteger dos
bandidos. Bandidos que são preparados, que em muitos casos além de matar a
vítima, se apossarão de sua arma. Além disso, arma e amor certamente não combinam pois amor significa a vida e a arma significa a morte.
No fundo quem lucra mesmo com o aumento de armas são as empresas fabricantes de armas, que certamente estão apoiando esse tipo de iniciativa de armamento da população e aumentando seus lucros. Nem vamos falar dos clubes de tiros espalhados pelo país.
Além dos dados e de observar a inexistente
dúvida existencial cristã entre armar e amar, muitas outras situações são intrigantes:
A quem interessa uma população armada?
Quem é essa população que se arma? O que pensa? O que pretende?
Quantas pessoas morreram por ter arma em casa? (por engano, por violência doméstica, por brincadeiras entre crianças e adolescentes com a arma do pai).
Será que estão criando um exército de civis armados?
Imagem: LinguaculturaX.com