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quinta-feira, 30 de março de 2023

Respeitável Público: todas, todes e todos!

A língua portuguesa primou pela formatação do masculino para englobar todas as pessoas. Dessa forma, num local com mulheres e homens, usa-se a palavra “eles”, mesmo que o público feminino seja a maioria.

Nos anos 1980 começou uma discussão sobre a visibilidade da mulher e uma das ações afirmativas era configurar que elas estavam presentes. Surge assim o “senhoras e senhores”, “todos e todas” reforçando a presença feminina nos locais e eventos.

Com o tempo essa ação foi sendo incorporada na política e demais ambientes, o que fez com que as mulheres se sentissem integradas e visíveis. Vale destacar que muitos livros escritos na língua inglesa usam “she/he” (ela/ele) sem que isso ocasione polêmica.

De alguns anos pra cá, dado a força do movimento LGBTQIA+, surge mais uma inovação, o pronome “todes” usado pela comunidade não-binária, ou seja, pessoas que não se identificam com o gênero feminino nem com o masculino. Não se trata de uma mudança na língua portuguesa nem ignorância de quem usa o termo. Trata-se de dar visibilidade a uma população que não se identifica com o “todos e todas”.

Portanto, usar o “todas, todos e todes ou todsx” reforça a ação de dar visibilidade a todas as pessoas e a todas as identificações, ocasionando um sentimento de pertencer a uma comunidade e ser respeitado em sua especificidade.

Pessoas brancas, de classe média e que se assumem como heterossexuais certamente terão dificuldades em compreender a busca da visibilidade e do pertencimento visto que a referência geral sempre chegou a elas.

Faz-se necessário um desprendimento no olhar ao redor e perceber que o mundo é múltiplo e diverso e que todas as pessoas merecem ser respeitadas na sua especificidade e na forma como deseja ser tratada.

Não há o que pague perceber o olhar de uma pessoa da comunidade não-binária quando ela ouve  “todes“ pois sua existência está, finalmente, sendo incorporada na sociedade, ou pelo menos ali, naquele evento..

Por isso, “respeitável público”, seja uma metamorfose ambulante e se transforme, pode usar o “todes” sem medo e sem ferir a língua portuguesa, que inclusive, foi sendo modificada ao longo do tempo com incorporação de inúmeras palavras indígenas,  africanas, inglesas e outras. 

 


 

 

segunda-feira, 27 de março de 2023

“Eu odeio feminista!” Oi?

No sábado, dia 25/03 como parte das atividades pelo Dia Internacional da Mulher, o Movimento Mais Mulheres no Poder Maringá - MMNP fez um adesivaço no centro da cidade. As integrantes do MMNP distribuíram adesivos na cor lilás com o nome do movimento. As reações de motoristas para os quais o adesivo é oferecido são as mais diversas, desde concordar e colocar o adesivo no carro até ignorar a oferta como se fosse algo contagioso.

Um dessas reações chamou a atenção. Ao ser oferecido o adesivo, a motorista concordou que tem que votar em mulher para ocupar a política e afirmou que não pode ser qualquer mulher. Imediatamente soltou um: “eu por exemplo, odeio feminista, não voto de jeito algum e se for feminista petista, pior ainda”. Estarrecida, a mulher que entregou o adesivo disse a ela que o feminismo luta para salvar as mulheres, quem mata é o machismo e que quem odeia feminista é machista que agride mulher, que existem homens feministas. Por fim, o semáforo abriu e a motorista saiu sorridente com seu ódio.

Num semáforo com muito carros em fila não dá pra explicar para a motorista que, inclusive, ela pode dirigir carros graças ao movimento feminista que sempre batalhou para que as mulheres tivessem direitos, liberdade de escolha e pudessem estar onde elas quisessem, que o feminismo lutou para que as trabalhadoras tivessem direitos trabalhistas.

Não dá tempo de falar pra ela que no mundo ainda existem países nos quais as mulheres são proibidas de dirigir carros, de andar sozinhas e usam vestimentas para cobrir seus corpos, que uma moça foi morta pela polícia porque uma mecha do seu cabelo estava fora do véu que ela era obrigada a usar cobrindo todo o cabelo, que mulheres sofrem mutilação genital, entre tantas atrocidades.

Não dá tempo de explicar pra motorista que, no Brasil, existe um alto índice de feminicídios cometidos por homens que se julgam donos das mulheres, que foi o movimento feminista brasileiro que apoiou a Constituição Brasileira que iguala mulheres e homens em direitos e obrigações, que as mulheres negras são as mais violentadas w mortas, que as leis de combate à violência contra a mulher são resultado, também, da luta das feministas que perderam a vida pra garantir que o voto feminino se tornasse lei no início do século XX.

Indo mais além, se o semáforo não abrisse, daria pra falar para a motorista quem foram as deputadas e a única mulher Presidente da República até a atualidade  que apresentaram projetos para a melhoria da vida das mulheres, aposentadoria para donas de casa, minha casa minha vida para mulheres, Casa da Mulher Brasileira, entre tantos benefícios. Certamente, ela se beneficiou de um desses serviços propostos pelas políticas eleitas, em sua maioria, de ideologia de esquerda e dentre elas, muitas feministas petistas.

No entanto, o ódio que ela reproduz está enraizado na sociedade propagado pelos meios de comunicação que ela ouve, pelos líderes religiosos que segue, pelas tantas mulheres que não compreenderam que o movimento feminista luta pela igualdade da mulher para que tenha uma vida digna, plena, sem violência e feliz.

Mal sabe a motorista que aquela mulher pra quem ela anunciou seu ódio, é uma feminista petista que podia estar na piscina tomando sol ou fazendo nada, mas estava ali, naquele sol esplendoroso, apoiando as companheiras para que as mulheres possam ocupar os espaços de poder que lhe são de direito e de representatividade.

Quem sabe num futuro próximo, motoristas como ela percebam que ações aparentemente simples como poder expressar sua opinião ou dirigir um carro são conquistas da luta feminista cujo movimento nunca pegou em armas e nem matou ninguém, pelo contrário, luta para salvar a vida das mulheres.

 


 

 

 

 

sábado, 11 de março de 2023

Evento pelo Dia Internacional da Mulher emociona participantes

O evento “Dia Internacional da Mulheres: Mulheres na luta, sempre!” organizado pela Marcha Mundial das Mulheres, realizado no sábado, 11 de março, trouxe para a Praça Raposo Tavares em Maringá, diversas entidades de luta pelos direitos das mulheres. As representantes das entidades de direitos das mulheres, secretárias da mulher de entidades sindicais e de partidos políticos dividiram palco com apresentações culturais e exposição de produtos.

Em suas exposições, todas as representantes das entidades ressaltaram a importância da união das mulheres, o combate à violência contra a mulher, a luta pelos direitos e a necessidade de aumentar a presença da mulher na política. Também houve destaque para os últimos acontecimentos como o repúdio à homenagem a um vereador preso por violência contra a mulher como nome de um parque maringaense, a postura homofóbica de um deputado federal, a pouca presença de secretárias no governo estadual, a revogação do modelo de ensino médio, o assassinato de mulheres e homens trans e o combate ao fascismo.

As apresentações culturais foram realizadas pelos grupos Baque Mulher, Capoeira Angola Dinda, Poesias com Kell e Tati do Coletivo Ana Montenegro e Performance com a bailarina Ana Clara acompanhada de sua mãe Daísa Poltronieri (irmã e mãe da bailarina Magó assassinada em janeiro de 2020). 

A feira de produtos, organizada pela APP Sindicato, reuniu empreendedoras de diversas áreas tais como vestuário, alimentação, literatura e artesanato. Entidades também realizaram apresentação de suas atividades como o Numape-UEM (Núcleo Maria da Penha).

O evento contou também com a  participação da vereadora Ana Lúcia Rodrigues e da deputada Federal Carol Dartora que está visitando a região.

Ao final, as mulheres realizaram a Fuzarka Feminista que se trata de uma batucada com tambores feitos por elas. Ao som de músicas e frases de efeito como “Companheira me ajude que eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com vocês ando melhor”, as mulheres encerraram o evento.

Entre as organizadoras, as palavras na avaliação são: sensacional e emocionante, com destaque para momentos de muita emoção pela combinação da luta pelos direitos com dança, batuque, música, capoeira e poesia.

 



 
 

Entidades participantes no evento
 


quarta-feira, 8 de março de 2023

Dia Internacional da Mulher: Luta contra toda as formas de violência contra a mulher

A despeito de conquistas obtidas ao longo do tempo, alguns pontos ainda fazem parte da luta das mulheres: o combate à violência contra a mulher;  a ausência na política e na ocupação de cargos de liderança e a situação inferiorizada no mercado de trabalho.

Dados da segurança pública mostram que o Brasil é o quinto país do mundo em violência contra a mulher; sendo o quarto em casamento infantil. Nos primeiros 15 dias do ano, foram contabilizados 52 feminicídios. A realidade mostra que: aumentou o número de assassinato de mulheres trans; as mulheres negras sofrem mais violência e feminicídio; aumentou o número de estupros de meninas e adolescentes. No ano de 2022, quatro mulheres foram mortas por dia dentro de seus relacionamentos, ou seja, quatro feminicídios por dia.

No Paraná, a situação não é diferente do resto do país, pelo contrário, o Estado ainda figura entre os Estados brasileiros com altos índices de feminicídio e violência contra a mulher. A cada 6 minutos e meio, uma mulher sofre violência no Paraná.

Somos 399 municípios e apenas 20 delegacias da mulher. Cidades como a vizinha Sarandi, com mais de 100 mil habitantes e altos índices de violência contra a mulher, não possui uma Delegacia da Mulher. Apenas agora em 2023, por pressão dos movimentos de mulheres, criou-se a secretaria estadual da mulher e da igualdade racial, inicialmente tendo sido nomeado um homem no comando, o que mostrou o desrespeito das autoridades à luta das mulheres. A mudança para a nomeação de uma mulher ocorreu após pressão política e social.

Em Maringá, são realizados em torno de dois mil boletins de ocorrência a cada ano, encaminhados à Delegacia da Mulher. Destaca-se que a cidade conta com rede de atendimento e acolhimento e parceria entre setor público e privado e mesmo assim, as maringaenses sofrem violência.

Na política e na ocupação dos espaços de poder, as mulheres são menos de 20% e convivem com violência política e de gênero. Dos 513 deputados federais, 91 são mulheres. De 88 senadores, tem-se apenas 11 senadoras. De 54 deputados paranaenses tem-se apenas 10 deputadas. Em Maringá, de 15 vereadores, tem-se duas vereadoras. Vale lembrar que na legislatura maringaense de 2017-2020, não teve eleitas.

No mercado de trabalho, as mulheres continuam recebendo salários menores no exercício da mesma função que homens, são em número menor em cargos de chefia, sofrem assédio moral e sexual no local de trabalho. Na pandemia, as mulheres foram as mais penalizadas, tendo sido as primeiras a serem demitidas nas empresas; ficaram mais expostas ao vírus por atuarem em áreas como comércio e saúde, tiveram sobrecarga de trabalho no cuidado com os doentes das famílias; houve interrupção em suas vidas profissionais.

Nos últimos quatro anos tivemos um desmonte das políticas públicas para as mulheres no governo federal, ocasionando um retrocesso sem precedentes em ações como o combate à violência contra a mulher que teve corte de verbas que inviabilizaram ações como a implantação das Casas da Mulher Brasileiras, mesmo diante de aumento de feminicídios.

Por fim,   a situação das mulheres na pandemia, nas guerras e nas crises, remonta a frase da filósofa Simone de Beauvoir: Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.

Sigamos firmes na luta contra todas as formas de violência!