A língua portuguesa primou pela formatação do masculino para englobar todas as pessoas. Dessa forma, num local com mulheres e homens, usa-se a palavra “eles”, mesmo que o público feminino seja a maioria.
Nos anos 1980 começou uma discussão sobre a visibilidade da mulher e uma das ações afirmativas era configurar que elas estavam presentes. Surge assim o “senhoras e senhores”, “todos e todas” reforçando a presença feminina nos locais e eventos.
Com o tempo essa ação foi sendo incorporada na política e demais ambientes, o que fez com que as mulheres se sentissem integradas e visíveis. Vale destacar que muitos livros escritos na língua inglesa usam “she/he” (ela/ele) sem que isso ocasione polêmica.
De alguns anos pra cá, dado a força do movimento LGBTQIA+, surge mais uma inovação, o pronome “todes” usado pela comunidade não-binária, ou seja, pessoas que não se identificam com o gênero feminino nem com o masculino. Não se trata de uma mudança na língua portuguesa nem ignorância de quem usa o termo. Trata-se de dar visibilidade a uma população que não se identifica com o “todos e todas”.
Portanto, usar o “todas, todos e todes ou todsx” reforça a ação de dar visibilidade a todas as pessoas e a todas as identificações, ocasionando um sentimento de pertencer a uma comunidade e ser respeitado em sua especificidade.
Pessoas brancas, de classe média e que se assumem como heterossexuais certamente terão dificuldades em compreender a busca da visibilidade e do pertencimento visto que a referência geral sempre chegou a elas.
Faz-se necessário um desprendimento no olhar ao redor e perceber que o mundo é múltiplo e diverso e que todas as pessoas merecem ser respeitadas na sua especificidade e na forma como deseja ser tratada.
Não há o que pague perceber o olhar de uma pessoa da comunidade não-binária quando ela ouve “todes“ pois sua existência está, finalmente, sendo incorporada na sociedade, ou pelo menos ali, naquele evento..
Por isso, “respeitável público”, seja uma metamorfose ambulante e se transforme, pode usar o “todes” sem medo e sem ferir a língua portuguesa, que inclusive, foi sendo modificada ao longo do tempo com incorporação de inúmeras palavras indígenas, africanas, inglesas e outras.