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quinta-feira, 30 de maio de 2019

Ato em defesa da educação mobiliza estudantes em Maringá

Estudantes, professores e funcionários da Universidade Estadual de Maringá e das redes estadual e privada foram as ruas hoje, 30 de maio, em sintonia com as manifestações em todo o Brasil, em defesa da educação, contra o corte de 30% e contra a reforma da previdência do governo Bolsonaro.

A manifestação dos estudantes começou as 17 horas na frente da Biblioteca Central e  seguiu em passeata pelas Av. Herval e Brasil, com encerramento na Praça Raposo Tavares. Segundo as estimativas, a manifestação reuniu aproximadamente 5.000 pessoas.

As palavras de ordem foram em defesa da UEM, com criticas severas aos governos Ratinho Junior e Jair Bolsonaro e em defesa da educação, do ensino, da pesquisa e da extensão universitária. A manifestação incluiu, junto com a defesa da educação, o repúdio a Reforma da Previdência proposta pelo governo.

As palavras de ordem #ForaBolsonaro e #ForaRatinhoJunior; "A nossa luta é todo dia: educação não é mercadoria"; "Trabalhador preste atenção, Bolsonaro só governa pro patrão" foram proferidas em coro durante todo o trajeto.


 Foto: Donizete Doni


Foto: Tania Tait

terça-feira, 21 de maio de 2019

Feminicídio: por que homens matam mulheres?


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A Lei do Feminicídio (Lei 13.104, de 09/03/2015) modificou o artigo  121 do Decreto Lei 2.848 de 1940 – Código Penal para prever o feminicídio como circunstância qualificadora de crime de homicídio e o artigo 1. da Lei 8.072 de 1990 para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos.
Dessa forma, o feminicídio é caracterizado como crime de homicídio contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.  Na Lei especifica-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à condição de ser mulher.
Além da inclusão do feminicídio no rol dos crimes hediondos, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime foi praticado durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência ou na presença de descendente ou ascendente da vítima.
Apesar da lei mais rigorosa na punição aos assassinos de mulheres, os dados mostram que os casos de feminicídio tem aumentado no Brasil de forma alarmante como se fosse uma epidemia, na qual uma mulher é morta a cada duas horas.
Na maioria dos casos, as mulheres são mortas por ex-maridos ou ex-namorados inconformados com o fim do relacionamento, por ciúme ou traição. Esses homens consideram as mulheres suas propriedades e quando desprovidos da “posse” delas, eles resolvem tirar suas vidas para que não sejam de mais ninguém sob o ponto de vista obsessivo deles.
Infelizmente, os dados comprovam, também, que na maioria dos casos, as mulheres haviam relatado casos de abuso ou violência, muitas das quais com boletim de ocorrência e medida protetivas.
O término de um relacionamento pode se tornar um calvário para mulheres que convivem com o homem agressor e abusivo. Muitas vezes, esse comportamento começa a aparecer no começo do relacionamento quando o homem quer a mulher apenas para si, separando-a dos amigos e familiares, implica com suas roupas e com seu trabalho, menospreza sua capacidade e qualificação. Inebriada pelo chamado amor romântico, as mulheres não enxergam esse comportamento abusivo até que quando percebem e resolvem se separar, começa a perseguição por partes destes.
Alguns atribuem esse comportamento a desvios psicológicos, no entanto, sabe-se que os desvios podem florescer em condições favoráveis como a sensação de impunidade, a conivência da sociedade com as posturas do agressor, o incentivo ao ódio, a fragilidade da aplicação das leis e a facilidade de armamento. Tudo isso somado gera uma bomba relógio em que o alvo se torna a mulher, seu corpo, sua alma, sua vida e sua morte  dominados por um homem que se julga o dono de tudo.
Portanto, toda atenção e cuidado com os relacionamentos, as armadilhas e os encantos que podem esconder uma relação de violência  e que exige que toda a sociedade se mobilize para acabar com essa situação que coloca as mulheres sempre em perigo, dentro de seus lares ou fora deles.



sábado, 11 de maio de 2019

Comemoração dupla de amor: mãe e pai

Em 12 de maio meu pai faria 86 anos de idade. Foi embora cedo para os padrões atuais.
Meu pai nos deixou muitos legados, mas certamente o amor que sentia por nós é o que marca sua trajetória em nossas vidas e nos faz sentir sua presença em tudo que fazemos. Como o aniversário dele sempre foi próximo ao dia das mães ou no mesmo dia, como nesse, fazíamos comemoração dupla.
Desde sua morte, em 2005, continuamos nos reunindo para homenagear nossa mãe e nosso pai. Minha mãe, nossa Lady Laura, que observa e cuida de tudo e de todos, do alto dos seus lindos olhos azuis.
Mãe que com sua sabedoria e surpreendente visão do mundo e das coisas, sempre nos encanta por aceitar as diferenças, por entender as demandas sociais e políticas.
Mãe, a quem comento como quem não quer nada: “hummm que vontade de comer arroz” doce, sabendo que na hora que voltar o arroz doce estará me esperando. Ou quando compro uma moranga sem dizer nada, ela entende o recado e faz um delicioso doce de moranga com côco.
Vó Laura para os netos, Bia para os bisnetos, ela acompanha a família crescer, generosa como sempre.
É nosso alicerce e nos preparamos para cuidar dela sempre.

Homenageando minha mãe, desejo um feliz dia das mães e muito amor e bençãos na vida de cada mãe.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Tributo às mulheres pioneiras

Tive a imensa oportunidade e satisfação de realizar uma pesquisa com mulheres pioneiras. O ano era 1996 e não havia no município de Maringá a narrativa da história da formação da cidade sob o olhar das mulheres. O mito do pioneiro herói homem estava sedimentado e a partir desta constatação fomos em busca do olhar feminino sobre a construção de Maringá. 

A pesquisa com o título: "As excluídas da história: o olhar feminino sobre a formação de Maringá", está publicada no livro Maringá e o Norte do Paraná organizado pelos professores José Henrique Rollo e Reginaldo Benedito Dias, pela Eduem, em 1999.

Chamou a atenção, nas entrevistas com as mulheres, o amor e o carinho que as mulheres pioneiras entrevistadas sentem pela cidade como uma forma de pertencimento a uma cidade que viram crescer a partir da mata e se transformar em uma cidade com qualidade de vida reconhecida no país.

Maringá, finalmente, pode narrar a história das mulheres que para aqui se dirigiram ou foram trazidas por familiares, tiveram uma vida de dificuldades em uma terra agreste, criaram seus filhos em meio a jagunços e cobras, mas sobreviveram para contar sua história. Todas afirmam que amam a cidade e tem a construção de sua família junto com o crescimento de Maringá.

Assim, confirma-se que a história das mulheres ao ser narrada traz a tona a história do cotidiano e da presença das mulheres nos fatos históricos.

Alijadas do processo de tomada de decisão e de presença nos espaços de poder político, as mulheres na história de Maringá trazem a narrativa de sua presença marcada por fatos como a preocupação de criar os filhos em uma terra agreste e repleta de jagunços, a insegurança em relação ao futuro, a lavagem das roupas no rio, a moagem do café, a roupa empoeirada no varal, a passeata dos comunistas (sim, teve), os bailes no Hotel Bandeirantes, as brigas na cidade, entre outros elementos que nos conduzem ao modo de vida no início da cidade de Maringá.

Finalmente, as mulheres pioneiras são sempre lembradas, homenageadas como nomes de ruas, nomes de escola, em desfiles do aniversário da cidade e em pesquisas científicas sobre sua presença na formação da cidade. 

Lembro muito emocionada quando a minha avó Marianna Spinelli Tait foi homenageada pela Secretaria da Mulher em desfile da cidade e tanto ela como a vó Angela foram homenageadas como nomes de ruas.  Lembro da Dona Augusta Gravena me contando como era criar os filhos no sítio e na cidade, da Dona Lucia Vilella Pedras me falando dos livros que pediu ao pai quando veio para cá e do barro vermelho, da professora Odete Alcantara Rosa me mostrando suas fotos organizadas em albuns e me falando da vida na cidade, da vó Angela me contando que as mulheres que eram trazidas pelos maridos ou familiares sem nem saber o que encontrar, da vó Marianna me dizendo da poeira e da solidariedade entre as pessoas, entre tantas histórias.

Algumas das entrevistadas na pesquisa faleceram enquanto outras estão recolhidas aos seus lares, no entanto, suas contribuições para a história da cidade permanecem, completando dessa forma o cenário em que a cidade foi construída, com a visão das mulheres, seus anseios e angústias.

Nas entrevistas, muitas vezes eu me emocionava com elas, afinal elas abriram as portas de suas casas e de suas vidas e, puderam, finalmente, revelar o seu olhar sobre a construção da cidade. Dessa forma, as mulheres pioneiras se perpetuam na história da cidade que contribuíram para nascer, crescer e se tornar a cidade que é.

Confesso que concluo esse texto com os olhos lacrimejados pelas lembranças e pela alegria em ter conhecido essas mulheres e sua força, seus medos, sua esperança e seu amor pela cidade que construíram junto aos seus. Me sinto comprometida com elas e suas histórias.
Finalmente, me sinto feliz quando passeio pelas ruas da cidade de Maringá e encontro nomes de rua começando com “Pioneira...”.  
Sorrio e penso: “elas merecem!!!”.





segunda-feira, 6 de maio de 2019

O que fazer?

Tenho lido muitos depoimentos ou comentários de pessoas com relação a tristeza que sentem e a vontade de desistir da vida. Nunca sei o que dizer a elas. As vezes me vem a vontade de dizer “força, procura ajuda psicológica, procura rezar, busque algo que goste muito de fazer” etc. As vezes me vem a vontade de dar um abraço e convidar para um chá. Mas, não sei se esses dizeres e ações valem alguma coisa pra elas. 
 
Fico sempre preocupada. Ontem vi uma senhora comentando que “sarou” da tristeza quando resolveu mudar para uma cidade praiana e faz caminhadas a beira-mar todo dia, outra disse que toma sempre remédios e assim se sente melhor. Deduzo na minha simplicidade e ignorância na área que não deve ter uma fórmula para lidar com essa tristeza infinita que chamam de depressão. Cada caso deve ser um caso. Por acaso, após ler algumas dessas postagens, lembrei de mim. 

Sempre tão alegre e pró-ativa, tive um grande momento de tristeza proporcionado por vários acontecimentos tristes, dessas coisas da vida que todos e todas nós passamos. Esses acontecimentos foram todos muito próximos, a ponto de eu ficar esperando, traumatizada, a cada seis meses o que iria aparecer de ruim. Tinha perdido a vontade de passar baton e de dançar e acordava sempre cansada. Pensava muito nas minhas filhas. Aí resolvi ir ao médico. Ele me disse que o luto de perdas era natural e tinha seu tempo. Se demorasse demais, eu deveria voltar a procurar ajuda psicológica. Enfim, passou e como diz uma amiga oriental para cada três coisas ruins vem três coisas boas, então vamos lá ser otimistas.

Mas, me lembro muito bem da sensação de tristeza profunda e os pensamentos assustadores que caminhavam junto com ela, naquele período.
Era como se tivesse uma viga de cimento enorme e pesada sobre o meu peito que prendia minha respiração e eu não consegui levanta-la. Tentei várias vezes erguer a viga, mas os braços não eram fortes o suficiente para o peso dela. Até que uma noite eu pensei: “se não tenho força pra ergue-la, vou desmancha-la aos pedaços até que ela se acabe e eu possa respirar sem dor”.
Assim foi feito, a cada dia eu desmanchava uma parte da viga de cimento sobre o meu peito até que a viga ficou pequena e meus braços conseguiram tira-la totalmente. Sem saber, a família, amigas e amigos auxiliaram no desmanche da viga. Pude, enfim, respirar sem dor. Não foi fácil. Nunca é. A vida, sempre encantadora, as vezes nos dá lições aterradoras e traz acontecimentos que nos derrubam. Ao mesmo tempo esses acontecimentos podem nos fortalecer e contribuir para nos tornar seres humanos melhores. 

Sei que muitas pessoas ao sentirem o que chamo de “tristeza infinita” podem não ter fatores desencadeadores como no meu caso pois são diversas situações e muita complexidade.
O que trago comigo é que independente se a tristeza vem da alma como dizem ou se vem pelos acontecimentos da vida, buscar ajuda e apoio sempre é o melhor caminho.

sábado, 4 de maio de 2019

Armadilhas do machismo – parte 4: o controle sobre o útero das mulheres

Ao abrir a discussão do controle sobre o útero da mulher como parte de uma das armadilhas do machismo, recorre-se, inicialmente, a função desse órgão tão importante que está ligado à reprodução humana.  Trata-se de um órgão muscular do aparelho genital feminino responsável por acolher o óvulo fecundado e auxiliar no momento do parto.


Nessa discussão entram os direitos reprodutivos, a descriminalização do aborto, a saúde integral, a menstruação, a menopausa, a gravidez...situações que a sociedade toda palpita e controla mas quem padece individualmente é a mulher. O útero da mulher por ser vinculado à fecundação assume os aspectos político, religioso, legal e social.

A vinculação do útero à função da maternidade tornou-se tão relevante na história da humanidade que reinos foram desfeitos e mulheres assassinadas ou menosprezadas quando não conseguiam engravidar para gerar herdeiros. Essas mulheres eram vistas como secas com referência a seus úteros, surgindo, dessa forma, a expressão “útero seco”. Assim, muitas mulheres diante da necessidade de retirar seus úteros por problemas de saúde entram em crise emocional, principalmente se não tiveram filhos, pela impossibilidade de exerceram o papel que a sociedade impõe de serem mães.

As religiões, por sua vez, se apropriaram do útero da mulher ao relacioná-lo com seu papel de boas mães e esposas, cuidadoras do lar e da família e como símbolo da
fertilidade. Esses papéis enaltecidos ao longo dos séculos trouxeram para as mulheres o peso, a frustração e a responsabilidade quando não conseguiam atender a demanda social da gravidez. Junte-se a isso a obrigatoriedade de levar adiante uma gravidez indesejada ou fruto de estupro.

Ressalte-se que cada religião tem uma teoria a respeito da fecundação e do momento em que a vida surge. Algumas consideram que a vida existe a partir do momento da fecundação, outras após algumas semanas e outras após o parto. Sob o ponto de vista religioso, o tema descriminalização do aborto se torna bastante complexo e difícil pois envolve aspectos de espiritualidade e pessoais. 

No entanto, independente da religiosidade existe uma situação cruel na qual as mulheres pobres ao realizar aborto, com parteiras clandestinas ou remédios, morrem ou ficam estéreis. As mulheres ricas ao realizar aborto o fazem em clínicas, em segurança. No caso das mulheres pobres, ao darem entrada em hospitais com hemorragia por aborto provocado são ainda maltratadas ou negligenciadas por profissionais de saúde. Pode-se inferir que o controle sobre o útero das mulheres tem a ver, também, com sua classe social e poder econômico. Chama-se a isso de hipocrisia social pois tanto a pobre como a rica realizam aborto mas o tratamento e as consequência são completamente diferentes para cada uma.

Também, a legislação, em muitos países, regulou o útero da mulher e sua função de procriação ao criminalizar atos de aborto e gravidez resultante de estupro e ao determinar número de filhos. Diferentes países com diferentes legislações decidem sobre o útero das mulheres, ora liberando-as para realizar aborto ora criminalizando-as por sua realização, de acordo com a situação política, social ou econômica.

Entretanto, não se penaliza o homem que aborta ao deixar a mulher sozinha com a responsabilidade pela gravidez e o cuidado com os filhos. Enfim, para a sociedade de modo geral, o controle sobre a fecundação não se estende aos homens, apenas as mulheres.

Se o Estado, a sociedade, a religião, os homens e a legislação regulam o útero da mulher, em que momento a mulher é dona de seu útero?

Imagem de www.drauziovarella.uol.com.br