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sábado, 4 de maio de 2019

Armadilhas do machismo – parte 4: o controle sobre o útero das mulheres

Ao abrir a discussão do controle sobre o útero da mulher como parte de uma das armadilhas do machismo, recorre-se, inicialmente, a função desse órgão tão importante que está ligado à reprodução humana.  Trata-se de um órgão muscular do aparelho genital feminino responsável por acolher o óvulo fecundado e auxiliar no momento do parto.


Nessa discussão entram os direitos reprodutivos, a descriminalização do aborto, a saúde integral, a menstruação, a menopausa, a gravidez...situações que a sociedade toda palpita e controla mas quem padece individualmente é a mulher. O útero da mulher por ser vinculado à fecundação assume os aspectos político, religioso, legal e social.

A vinculação do útero à função da maternidade tornou-se tão relevante na história da humanidade que reinos foram desfeitos e mulheres assassinadas ou menosprezadas quando não conseguiam engravidar para gerar herdeiros. Essas mulheres eram vistas como secas com referência a seus úteros, surgindo, dessa forma, a expressão “útero seco”. Assim, muitas mulheres diante da necessidade de retirar seus úteros por problemas de saúde entram em crise emocional, principalmente se não tiveram filhos, pela impossibilidade de exerceram o papel que a sociedade impõe de serem mães.

As religiões, por sua vez, se apropriaram do útero da mulher ao relacioná-lo com seu papel de boas mães e esposas, cuidadoras do lar e da família e como símbolo da
fertilidade. Esses papéis enaltecidos ao longo dos séculos trouxeram para as mulheres o peso, a frustração e a responsabilidade quando não conseguiam atender a demanda social da gravidez. Junte-se a isso a obrigatoriedade de levar adiante uma gravidez indesejada ou fruto de estupro.

Ressalte-se que cada religião tem uma teoria a respeito da fecundação e do momento em que a vida surge. Algumas consideram que a vida existe a partir do momento da fecundação, outras após algumas semanas e outras após o parto. Sob o ponto de vista religioso, o tema descriminalização do aborto se torna bastante complexo e difícil pois envolve aspectos de espiritualidade e pessoais. 

No entanto, independente da religiosidade existe uma situação cruel na qual as mulheres pobres ao realizar aborto, com parteiras clandestinas ou remédios, morrem ou ficam estéreis. As mulheres ricas ao realizar aborto o fazem em clínicas, em segurança. No caso das mulheres pobres, ao darem entrada em hospitais com hemorragia por aborto provocado são ainda maltratadas ou negligenciadas por profissionais de saúde. Pode-se inferir que o controle sobre o útero das mulheres tem a ver, também, com sua classe social e poder econômico. Chama-se a isso de hipocrisia social pois tanto a pobre como a rica realizam aborto mas o tratamento e as consequência são completamente diferentes para cada uma.

Também, a legislação, em muitos países, regulou o útero da mulher e sua função de procriação ao criminalizar atos de aborto e gravidez resultante de estupro e ao determinar número de filhos. Diferentes países com diferentes legislações decidem sobre o útero das mulheres, ora liberando-as para realizar aborto ora criminalizando-as por sua realização, de acordo com a situação política, social ou econômica.

Entretanto, não se penaliza o homem que aborta ao deixar a mulher sozinha com a responsabilidade pela gravidez e o cuidado com os filhos. Enfim, para a sociedade de modo geral, o controle sobre a fecundação não se estende aos homens, apenas as mulheres.

Se o Estado, a sociedade, a religião, os homens e a legislação regulam o útero da mulher, em que momento a mulher é dona de seu útero?

Imagem de www.drauziovarella.uol.com.br

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