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segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Feminismo: a Marcha Mundial das Mulheres presente no Estado do Paraná

A história da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) começou a partir de uma manifestação realizada em 1995, em Quebec, no Canadá, quando 850 mulheres marcharam 200 quilômetros, pedindo, simbolicamente, “Pão e Rosas”. Após a marcha, as reivindicações das mulheres foram atendidas, entre elas: o aumento do salário mínimo, mais direitos para as mulheres imigrantes e apoio à economia solidária.

A partir daí, as mulheres do Quebec contataram organizações em vários países, para compartilhar essa experiência e apresentar a proposta de criar uma campanha global de mulheres.

No Brasil, o primeiro contato foi com as mulheres da Central Única das Trabalhadoras e Trabalhadores (CUT), por meio da secretaria da mulher trabalhadora, quando foram realizadas reuniões para definir as representantes brasileiras para o primeiro encontro internacional da MMM, que aconteceu em 1998, em Quebec. O encontro envolveu a participação de 145 mulheres de 65 países e territórios e foi elaborada uma plataforma com reivindicações para a eliminação da pobreza e da violência contra as mulheres.  A partir daí, foi convocada a Marcha Mundial das Mulheres como uma grande campanha a ser desenvolvida ao longo do ano 2000.

Assim, o movimento da MMM se tornou internacional, com mais de 150 países envolvidos, estabelecendo como campos de ação da MMM: autonomia econômica das mulheres, bens comuns e serviços públicos, paz e desmilitarização e fim da violência contra as mulheres.

No Brasil, no ano 2000 foram realizadas atividades nos estados, tendo como grande movimento nacional a realização da Marcha das Margaridas, proposta pelas mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), em homenagem a sindicalista rural Margarida Alves assassinada brutalmente na porta de sua casa. Para 2023, também está prevista a Marcha das Margaridas, no mês de agosto.

Desde 2000, a MMM realiza, também, atividades do dia internacional da mulher, 08 de março, de forma organizada em vários países. De lá pra cá, a MMM esteve presente em grandes momentos internacionais defendendo ações por autonomia das mulheres, fim da violência contra a mulheres e apoiando as peculiaridades de cada território.

Mulheres e entidades do Paraná também fazem parte da MMM. Representantes de várias cidades, num total de 110 mulheres, estiveram reunidas nos dias 20 a 22 de janeiro de 2023, em Curitiba, para tratar do planejamento das ações e as atividades do 08 de março. Além de diversas atividades, as presentes discutiram a conjuntura nacional e estadual e o papel das mulheres na democracia.

O que chama a atenção na MMM é a união de mulheres de diferentes agrupamentos e regiões, com a diversidade de cada território, no campo, nas cidades, nas florestas, rios e mares.

Neste contexto, com o lema “Seguiremos em marcha, até que todas sejamos livres”, a MMM fortalece a luta pelos direitos das mulheres, com pautas feministas que valorizam a vida, em cada canto do planeta.




 

Fotos: Plenária estadual da Marcha Mundial das Mulheres, de 20 a 22 de janeiro, em Curitiba-PR,

domingo, 15 de janeiro de 2023

O desrespeito às mulheres paranaenses pelo governador Ratinho Jr

Atuo no movimento de mulheres desde a minha vida estudantil, fui uma das fundadoras e primeira presidente do Fórum Maringaense de Mulheres e da Ong Maria do Ingá Direitos da Mulher, atuei como presidente do Conselho Municipal da Mulher de Maringá por duas gestões (2004-2006 e 207-2019) e fui conselheira no Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres. Atualmente, faço parte como voluntária, da coordenação de imprensa da Ong Maria do Ingá,  coordeno o Grupo de Trabalho Igualdade do Movimento ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) Maringá que engloba o ODS 5 – Igualdade de Gênero e ODS 10 – Redução das desigualdades e participo da Marcha Mundial das Mulheres.

 Nesta trajetória, certamente, presenciei muitas coisas absurdas, mas havia uma sensação de consolidar as conquistas femininas, principalmente no estabelecimento de políticas públicas. Sensação destruída de forma concreta a partir do golpe de 2016 que tirou do governo a Presidente Dilma, única mulher no poder maior do país desde sua criação. De lá pra cá as políticas públicas para mulheres foram sendo destruídas, não se realizaram as conferências nacionais e houve corte federal no orçamento de combate à violência contra a mulher. Vale destacar que o primeiro governo após a saída da Presidente Dilma era composto de um ministério de homens brancos, ricos e autodeclarados héteros.

Aqui no Estado do Paraná, famoso por seu conservadorismo, somos cenário de algumas situações alarmantes como figurar entre os estados mais violentos com as mulheres, com aumento de feminicídio e poucas mulheres nos espaços de poder seja na política ou nas empresas privadas, um Estado sem infraestrutura para atender os casos de violência contra a mulher com apenas 20 delegacias da mulher (DM) para seus 399 municípios. Muitas das DMs  com homens delegados na titularidade, a despeito da reivindicação dos movimentos de mulheres para que seja uma delegada.  Um destaque para Sarandi, cidade com mais de 100 mil habitantes, altos índices de violência contra a mulher e sem uma DM especializada para atender a população feminina. É assim que se vê, na prática, a lógica machista e misógina como balizadora das decisões governamentais.

Isso se mostra, fortemente, no decreto do governador Ratinho Jr ao nomear um homem branco para a recém criada Secretaria da mulher e da Igualdade Racial, num desrespeito cabal aos movimentos de mulheres e da comunidade negra do Estado do Paraná.

O governador, então candidato à reeleição, participou de uma reunião com mais de 2000 mulheres em Maringá, quando assumiu o compromisso de criar a Secretaria da Mulher ao ser cobrado pelas presentes. A reunião não estava na agenda do candidato, mas entrou de última hora como oportunidade, provavelmente, pela análise do tamanho expressivo do público. Também houve mobilização do Movimento Mais Mulher no Poder Paraná, o qual congrega mulheres de diferentes partidos políticos, com solicitação da criação da secretaria estadual da mulher, do aumento do orçamento de combate à violência contra a mulher e de 50% dos cargos no executivo ocupado por mulheres.

A criação da Secretaria Estadual de Mulheres, pleiteada pelos movimentos sociais por décadas, finalmente, é criada. No entanto, no dia 12 de janeiro, as paranaenses são surpreendidas com a nomeação, interina, de um homem branco como titular da Secretaria. De acordo com informação dada pelo governo, a nomeação é momentânea até que seja nomeada uma mulher.

Não interessa se é momentâneo, esporádico ou outra coisa, o que importa é o desrespeito às mulheres, como no caso das DMs em que se alega que não existem delegadas; em cidades com alto índice de violência não são criadas DMs, entre outras coisas que mostram que as políticas públicas para mulheres só importam em período eleitoral, depois são descartadas ou maquiadas, com a justificativa de que “não tem mulher para assumir ou não tem orçamento para realizar” entre tantas desculpas que se ouve.

Assim, a nomeação de um homem branco para uma secretaria da mulher e da igualdade racial, além do machismo gritante, apenas consolida o que se sabe: as paranaenses são valorizadas apenas na campanha eleitoral por serem 52% do eleitorado e aí, sim, podem fazer toda a diferença na escolha das candidaturas.

Então, paranaenses, comecem a prestar atenção nas candidaturas, na história e parem de eleger pessoas que votam contra nós e desrespeitam nossa trajetória na construção do Estado do Paraná, afinal somos mais de 50%  e, também somos força produtiva e política. Valorizemos nossa trajetória e nosso legado.

OBS: "Eu não aceito um delegado da mulher! É meu direito!"

http://www.taniatait.com.br/2021/06/eu-nao-aceito-um-delegado-da-mulher-e.html
 

 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

“Vamo bagaça, Lula!”

Assisti à cerimônia de posse do Presidente Lula em Sorocaba na casa de familiares, me emocionei com cada detalhe e cada fala. Talvez imbuída pelo sentimento militante de que o Brasil estava voltando nos eixos, eu esqueci,  por alguns momentos, do fascismo que assolou nosso país e continua fazendo parte do nosso cotidiano. Sabíamos que a reação estava se articulando, pois os que não aceitaram o resultado das eleições ainda estavam acampados na frente dos quartéis. No entanto, a realidade veio contundente, no dia 08 de janeiro, com os atos golpistas e vandalismo perpetrados por apoiadores do ex-presidente que não respeitam a democracia nem o direito da maioria que elegeu o presidente Lula. A reação do governo e do STF, também foi à altura, com prisões, exonerações etc daqueles que facilitaram, apoiaram e realizaram a depredação e roubo do patrimônio público num ataque frontal à democracia.

Mas antes desse triste episódio, no dia da posse, relembrei do nosso tempo de governo municipal e sonhei com o Zé Cláudio. Talvez embalada pela emoção de ver o povo brasileiro subindo a rampa do Planalto, o fato é que acordei com um misto de tristeza e alegria. Pra quem não conheceu, o Zé Cláudio (José Cláudio Pereira Neto) foi prefeito de Maringá pelo Partido dos Trabalhadores (PT), na gestão 2001-2004, chamada Governo Popular. Vitimado por um câncer, ele faleceu no meio do mandato, gerando comoção na cidade.

“Mesmo partindo antes do combinado” como dizia Boldrin, Zé Cláudio deixou sua marca na história e na política maringaense, por sua simplicidade, firmeza e por colocar emoção em tudo que fazia. Famoso por sua cara carrancuda, Zé era dono de um coração gigante que apoiava as lutas dos movimentos sociais se integrando a eles. Foi assim que o vimos cozinhando junto com o Jadilso Salesse (companheiro que a Covid levou) num encontro de mulheres, segundo ele pra apoiar na prática, também respeitando as discussões e os encaminhamentos do encontro.

Foi em seu governo, a criação da Assessoria da Mulher, da Igualdade Racial e da Juventude, reivindicações históricas dos agrupamentos e do PT; em seu governo  um jovem agrônomo negro ligado ao MST (Elson Borges, o Zumbi, falecido em 2020) assumiu a secretaria de agricultura; teve o orçamento participativo; a tecnologia na área de saúde; a integração das políticas sociais em rede; a discussão para formação da Guarda Municipal; entre tantas ações que marcaram a implementação das propostas apresentadas nas eleições 2000 que foram vitoriosas. Com o lema Política de Cara Limpa e buscando a paz numa cidade que havia sido saqueada pelo ex-prefeito e seu tesoureiro (Jairo Gianoto e Luis Paulichi, respectivamente), o Governo Popular precisou, também, sanear as contas da prefeitura para realizar novas obras, como da escola Laura Parente que se tornou a menina dos olhos do prefeito, após a grande reforma realizada.

Agora que apresentei o Zé Claudio e o Governo Popular, vamos voltar ao sonho. Estávamos ele, a Telma Maranho (Secretaria de Assistência Social no mandato) e eu conversando sobre a vida. Mostrei a ele meu livro Elas querem o poder publicado em 2022, sorrindo ele disse: “parabéns, minha quase vice-prefeita”. “Minha quase vice-prefeita” se refere ao episódio do convite que ele fez, quando recebi uma ligação dele e da Lucia Bertin. Achei que estavam brincando, depois percebi que não. Sempre ligado aos movimentos sociais e ao setorial de mulheres do PT, o Zé buscava uma mulher para vice-prefeita. Me senti honrada pelo convite, mas prestes a defender o doutorado na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e morando em Florianópolis não havia formato para viabilizar minha candidatura. No ano seguinte, já doutora, disponibilizada pela UEM, assumi a Diretoria de Informática e posteriormente a Secretaria de Modernização Administrativa e de Administração, no Governo Popular.

No sonho, ele nos disse que agora quem mandava nele era uma mulher e a voz surge: - Zé vem descansar. Ele piscou pra nós e saiu. Sei que ele estava lá em Brasília na posse do Lula e com seus olhos verdes marejados de lágrimas, gritou no meio da multidão: “Vamo bagaça, Lula!”

 “Vamo bagaça” era a expressão usada pelo Zé na campanha que o elegeu Prefeito de Maringá, nas eleições 2000.

                                                         Posse Presidente Lula, 01/01/2023.