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segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Colocando “os pingos nos is”: o caso da indicação para a Semulher

No dia 16 de dezembro, em reunião com representantes do Movimento Mais Mulheres no Poder (MMNP) de Maringá, o prefeito municipal Ulisses Maia, reeleito, propôs as mulheres que indicassem a próxima Secretária de Políticas Públicas para Mulheres.

A partir daí, desencadeou-se uma série de discussões a respeito. Tecerei duas considerações: o procedimento adotado pelo MMNP e a postura de alguns homens.  

Tenho a maior consideração pelo MMNP, sempre divulguei nas redes sociais, inclusive participei de live quando fui pré-candidata a vice-prefeita. Acredito que o MMNP atingiu seu objetivo ao trazer de volta para a Câmara Municipal de Maringá, duas mulheres, sendo uma delas, uma das formadoras do MMNP em Maringá.

Após a proposição do prefeito, as integrantes do MMNP que fazem parte do Forum Maringaense de Mulheres (FMM), levaram ao mesmo a discussão para colher propostas de critérios para escolha da indicada.

O FMM indicou os critérios que foram levados ao MMNP. No entanto, o FMM foi surpreendido, conforme a nota divulgada (Nota FMM), com a inclusão do critério criado pelo MMNP de que a indicada deve ter sido candidata em 2020 e faça parte do MMNP.

Ou seja, o MMNP fechou em si mesmo a indicação, desconsiderando que existem muitas mulheres atuantes em políticas públicas para mulheres em Maringá, com vivência e conhecimento na área de direitos da mulher.

Ao fechar em si mesmo, o MMNP, mesmo sendo reconhecido como legítimo, começou a sofrer ataques pela forma como estabeleceu o processo, com auto-indicação de candidatas que se sentem preparadas para o cargo. Inclusive, integrantes do MMNP e candidatas receberam ataques nominais.

Volto a reiterar que discordo da forma como o MMNP se fechou na eleição da próxima secretária da mulher, mas reconheço o alcance dos objetivos e valorizo todo movimento em defesa dos direitos da mulher.

O outro ponto que chamou a atenção foi a postura de alguns homens de diversos setores, palpitando nas decisões das mulheres e nas candidatas, defendendo algumas ou depreciando outras.

Claro, estamos numa democracia e todas as pessoas tem direito a expor sua opinião. No entanto, aprendi no movimento social que existe um paradigma chamado “lugar de fala”, que de forma bem simples e didática, seria “não vamos falar do que não conhecemos”.  Se a indicação foi dada as mulheres, é a voz das mulheres que deve ser ouvida.

Me parece que o famigerado poder dos homens sobre as mulheres, é que, até inconscientemente, os leva a palpitar e a conjecturar sobre discussões travadas pelas mulheres. Ou talvez queiram palpitar mesmo e, como sempre, desejam influenciar as mulheres. Seja o que for, não é o lugar da fala masculina nesse caso.

E da mesma forma, que respeitamos os movimentos, mesmo que discordemos deles, devemos aprender a respeitar as decisões das mulheres, mesmo que não sejamos contempladas(os) por elas.

Democracia e participação política nunca são fáceis e exigem muito de cada um de nós. O que deve prevalecer sempre é o respeito. Da mesma forma, que nós, integrantes do movimento feminista e do movimento de mulheres em geral, iremos respeitar sempre a eleição do MMNP para indicar a nova secretária, mesmo que discordemos do processo e da candidata que, porventura, seja eleita.

 

 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Feliz Natal! 2021 de muita paz e esperança!

A ong Maria do Ingá deseja um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de realizações e alegrias. Aproveitamos para agradecer a todas as pessoas que ajudaram de alguma forma nas atividades de 2020 realizadas pela ong.

 


 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

As doenças e a política

As pessoas sempre pensam que a política está longe de suas vidas, que a mudança de governos não as afeta. No entanto, quando se deparam com problemas gravíssimos como uma pandemia que mata milhares de pessoas, a situação muda. Aí as pessoas percebem como a política é importante em suas vidas e como um político eleito pode influenciar na vida e na morte de todos.

O Brasil tem histórico de problemas de entendimento das doenças como no caso da tuberculose que matou muitas pessoas; da gripe espanhola; da poliomielite; da meningite escondida no governo da ditadura militar; do vírus HIV e o preconceito atrelado a doença.

No entanto, nada se compara ao que está sendo vivenciado no país. Revoltas da vacina pelo medo do novo como no início do século XX podem ser vistas como “naturais” pois não existia uma comunidade científica consolidada e nem conhecimento sobre a necessidade das vacinas para conter pandemias e salvar vidas.

Agora em 2020, a busca pela vacina se tornou uma disputa política, indiferente a mais de 180 mil brasileiros e brasileiras mortos pelo COVID-19. Junte-se a isso, a falta de planejamento por parte do governo federal e o movimento antivacina para tornar o cenário mais aterrorizante.

Como pudemos chegar a esse ponto depois de termos nos tornado referência mundial no combate à AIDS/HIV, tendo erradicado sarampo e poliomielite e no combate a tantas outras doenças?

Nada é por acaso. Estamos diante de uma posição ideológica clara por parte do governo federal. Posição essa marcada pelo negacionismo que menospreza a evolução da ciência e estimula a ignorância como forma de manutenção do poder e privilégios.

Também, volta ao cenário nacional, a escalada privatista de um mandato vinculado ao neoliberalismo e pela defesa do Estado mínimo que coloca à mercê do mercado, as nossas riquezas naturais, nosso patrimônio e nossos direitos conquistados.

Infelizmente, a saúde entra nesse contexto. Mesmo tendo a saúde garantido constitucionalmente seu acesso para todos sob a responsabilidade do Estado, a falta de planejamento do governo em vacinar a população diante da terrível pandemia faz com que o direito a saúde seja vilipendiado.

Não se pode tolerar que morram mais brasileiros e brasileiros por uma postura ideológica de governo enquanto outros países iniciaram a vacinação em sua população.

Não se pode tolerar que haja desdém por parte de governantes com o bem mais precioso que é a vida.

Não se pode tolerar a perda de mais uma vida sabendo que existe vacina que pode salva-la.

 

 Artigo publicado pela autora em 15/12/2020 na  Gazeta de Maringá

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Brasileiros, comam brioches!

O desdém dos poderosos, recorrente na História da Humanidade é marcado por desaforos, festas, requintes de crueldade e toda sorte de zombaria da situação pelo qual a população passa.

A famosa frase atribuída a última rainha francesa ao ser comunicada que o povo não tinha pão para comer: “que comam brioches” foi se modernizando ao longo da história.

O último episódio protagonizado pelo governo brasileiro, com seu presidente e esposa, faz parte dessa zombaria. Numa situação de crise sanitária, econômica e política, o presidente eleito, ao invés de tratar com seriedade o período em que se encontra o país, prefere inaugurar um setor no palácio do governo, com roupas que ele e a esposa usaram em sua posse.

Imediatamente ao ler a notícia vem a comparação com o brioche para os pobres famintos de pão. No caso brasileiro, com quase 180 mil mortos pelo COVID 19, ver uma cena dessa chega a ser revoltante e assustador pois demonstra que a família que está no poder não se incomoda com a crise brasileira e nem com as famílias que choram seus mortos ou com a exaustão dos profissionais de saúde.

Certamente, a inauguração desse setor de extremo mau gosto que beira a cafonice, faz parte de algum planejamento do governo para contemplar seu eleitorado, com a tradicional distração para enganar os eleitores. Tanto apoiadores como opositores passam a discutir o assunto. Uns elogiando, outros criticando. De qualquer forma, o presidente continua a se manter na mídia, principalmente nas redes sociais, movimentando comentários e postagens.

Enquanto acontece essa distração governamental, o SUS vem sendo fatiado, nossas reservas florestais destruídas, a democracia nas universidades federais desmontada, os preços dos alimentos disparam, a inflação cresce a galope, não se tem programa desenvolvimento econômico e geração de renda...e, entre tanto descaso, não se tem um plano de vacinação contra o coronavírus.

E assim segue o Brasil, um gigante “acordado” nas manifestações de 2013 contra o aumento das passagens de ônibus, um gigante usado na falácia lavajatista da luta contra a corrupção, um gigante de verde amarelo que, hoje, chora seus mortos, mas finge que está tudo bem.

Um gigante que chora a nossa pátria mãe tão distraída, tão subtraída em tenebrosas transações como cantou o poeta referindo-se ao período da ditadura militar.  Mesmo com as tecnologias de informações e comunicação, “tem dias que a gente se sente” lá nos anos 1960.

Um gigante anestesiado que passa seus dias comendo o brioche adoçado por uma elite predadora que pra se manter no poder faz qualquer negócio, até aplaudir a insanidade, a crueldade e a irresponsabilidade do dirigente da nação.

Quem sabe de tanto comer brioche, o gigante percebendo que o brioche não satisfaz, resolva assumir sua parte como protagonista na própria história.

 

 Artigo publicado pela autora em 09/12/2020 na  Gazeta de Maringá 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

A participação política como instrumento da democracia

Muito se fala em participação política, principalmente em períodos eleitorais quando ressurge a dicotomia esquerda x direita, os partidos e os candidatos (as) expõem suas propostas. Em uma democracia, a participação política se faz presente, no mínimo, com o exercício do direito ao voto pois estamos dando ao eleito ou eleita o aval para realizar as propostas apresentadas.

A participação política, portanto, faz parte das nossas vidas. Mesmo aqueles que estufam o peito dizendo que odeiam política e que todos os políticos são bandidos, estão tendo uma atitude política que desencadeia na participação mesmo que seja votar em branco.

Entretanto, a participação política vai além do direito de escolha pelo voto. Ela pode se dar em várias formas, em todos os setores e áreas da sociedade.

Para exemplificar, uma pessoa que defende o meio ambiente, participa de mobilizações e das atividades públicas pró-meio ambiente, está tendo participação política. Essa participação pode se dar na defesa do meio ambiente junto aos conhecidos e nas redes sociais. No entanto, a pessoa pode ir além e atuar como militante nas ruas e junto às autoridades. Pode, ainda, disputar um cargo político e se tornar defensora com proposição de projetos de leis relacionadas a proteção do meio ambiente. Nessa luta pelo meio ambiente, a pessoa pode descobrir que falta vontade política dos governos, que empresas lucram muito com o desmatamento, que há necessidade de preservar as reservas indígenas, que o governo que está no poder não tem política para a defesa do meio ambiente e... pronto, a pessoa descobre que tudo é política e que sua participação é fundamental para que a política promova o bem comum e a cidadania.

O exemplo do meio ambiente pode trazer à luz várias outras lutas que exigem participação política como o combate ao racismo, a luta pelo fim da violência contra a mulher, contra homofobia, defesa dos direitos da pessoa com deficiência, saúde pública e educação  de qualidade, moradia digna, defesa da água como bem público...enfim, a lista aumenta, na medida que a participação promove a visão do entorno e dos problemas que a comunidade enfrenta. Isso leva a atuação em movimentos de bairros, movimento sindical, estudantil, feminista, anti-racismo, entre tantos outros que são resultados da participação política.

A participação política na democracia, portanto, não se resume a votar ou a se candidatar a cargo público. Não se trata de participar apenas no período eleitoral, essa participação pode se dar em vários níveis e cada pessoa escolhe aquilo que mais se adequa ao seu perfil. Inclusive, a participação em partidos políticos como membro, também, é uma forma de participação pois a pessoa comunga das ideias do partido, participa de reuniões e das decisões coletivas.

Com a participação política ganham os cidadãos e, mais do tudo, ganha a democracia que se fortalece sempre que a população participa ativamente na política, como forma de contribuir para a melhoria da vida em sociedade e do bem comum.

                        Foto: Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, Brasília, 2016


Artigo publicado, originalmente, pela autora em 03/12/2020 na
Gazeta de Maringá