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segunda-feira, 18 de julho de 2022

O que desenvolvimento sustentável tem a ver com a igualdade de gênero?

A pergunta “O que desenvolvimento sustentável tem a ver com a igualdade de gênero? “ permeia as discussões sempre que se busca unir os dois temas. Neste ano de 2022, a Organização das Nações Unidas (ONU) deu a resposta ao definir o tema do Dia Internacional da Mulher e sugerir ações para que a igualdade de gênero seja efetivamente incluída na agenda para o desenvolvimento sustentável. Dessa forma, a partir do tema “Não existe desenvolvimento sustentável sem igualdade de gênero”, a ONU estabeleceu uma agenda para destacar a luta das mulheres, empoderar as ativistas e analisar a situação ambiental sob a ótica das mulheres. 

De forma básica, a igualdade de gênero significa que que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos e deveres. Por sua vez, o desenvolvimento sustentável exprime a relação entre crescimento econômico, conservação ambiental e preocupação social, em razão do uso irracional dos recursos naturais e dos impactos ambientais gerados pela ação humana.

No contexto atual, três elementos podem ser destacados para analisar a situação das mulheres no tocante ao desenvolvimento sustentável: as mudanças climáticas, as trabalhadoras do campo e  a pandemia por Covid-19. As mudanças climáticas afetam as mulheres nos quesitos insegurança alimentar, perda de empregabilidade, violência e problemas de saúde. Em muitos casos, os homens se deslocam para outras localidades em busca de trabalho enquanto as mulheres permanecem em seus locais de origem à mercê de todos os problemas.

No caso das trabalhadoras do campo, em países em desenvolvimento, elas representam 43% da força de trabalho e estão expostas a venenos de combate às pragas na agricultura, sem regulamentação e sem proteção à saúde. Além da dupla jornada de trabalho a que são submetidas, no trabalho do campo e em seus lares. Destaque-se a violência contra a mulher que ocorre no campo silenciadas pelo isolamento e distância para buscar ajuda.

A pandemia mostrou uma face cruel adicional, além das milhares de mortes, ao penalizar mais as mulheres que foram as mais desempregadas ou deixaram seus trabalhos para cuidar das crianças sem escola ou dos doentes da família. Também foram as mais expostas ai vírus por serem as que mais utilizam o transporte coletivo e as que mais atuam na área de saúde. Não bastasse a doença, houve aumento de violência contra a mulher na pandemia.

Ao colocar a Igualdade de Gênero nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a ONU estabelece algumas ações que precisam ser realizadas, contempladas no ODS 5 Igualdade de Gênero. São elas: eliminar todas as formas de discriminação; eliminar todas as formas de violência contra a mulher, incluindo o tráfico e exploração sexual; eliminar práticas nocivas como casamento infantil e mutilação genital; reconhecer o trabalho doméstico; promover igualdade de oportunidades para liderança; promover acesso à saúde sexual e direitos reprodutivos; promover acesso aos recursos econômicos e à propriedade da terra; uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) para empoderar as mulheres; elaboração legislação para a igualdade.

Especificamente no caso do Brasil, as ações englobam fortalecer movimentos e organizações de mulheres; tomar decisões políticas para enfrentar a desigualdade e criar programas que estimulem a participação da mulher pelo desenvolvimento sustentável.

As ações estão indicadas, no entanto os caminhos para o desenvolvimento sustentável com igualdade de gênero se dão a partir de ações individuais, coletivas, empresariais e governamentais.

No dia-a-dia podem ser realizadas medidas simples na busca da igualdade e no combate à violência contra a mulher como, por exemplo, não fechar os olhos para a violência que se enxerga ao redor e tomar medidas pro-ativas de combate na defesa da mulher em situação de violência. As empresas podem elaborar planos de carreira que permitam que trabalhadores e trabalhadoras tenham o mesmo acesso às mudanças de nível pautadas por sua qualificação. Os governos podem criar leis, organismos com orçamento adequado para políticas públicas para mulheres e combate à violência contra a mulher.

Ideias, propostas e iniciativas estão presentes, o que falta é a integração entre elas para que a autonomia das mulheres e a igualdade de gênero sejam comuns na sociedade, como caminhos para, também, se chegar ao desenvolvimento sustentável.

 



 Foto: Evento Sede de Energia III, de 17/07/2022, no Bar Donna Ninpha. 

Tema: "Sustentabilidade: indivíduo, empresa e poder público" com as apresentadoras Adrielli Reis, Priscila Brustin, Bruna Barroca e Tania Tait.

 

 

 


quarta-feira, 13 de julho de 2022

segunda-feira, 11 de julho de 2022

O tiro em Marcelo fere a democracia

Senti uma tristeza imensa ao saber do assassinato de Marcelo. Os tiros direcionados a ele, atingem a todos e a todas nós e fere a democracia. É como se uma parte de nós, militantes, tivesse levado o tiro também. Chamamos a isso de luto coletivo, que é o mesmo sentimento que temos ao pensar em tantos mortos por Covid. E da mesma forma que atribuo essas mortes a um presidente que vive do ódio disfarçando a corrupção, atribuo a ele a morte de Marcelo. Mesmo não tendo puxado o gatilho, ele infla sua horda que tem cometido atrocidades por aí.  

Não conheci pessoalmente o Marcelo Arruda, mas conheço a trajetória de militantes petistas como ele. Sei da abnegação de lutar por um mundo justo, solidário, fraterno, sem miséria, sem fome, com respeito ao meio ambiente. Alguns são mais radicais, outros menos, alguns acreditam em Deus, alguns são ateus, alguns se assumem socialistas, outros, comunistas, outros social-democratas. Muitos tem família e se dividem entre a militância no partido, no movimento sindical ou estudantil, movimentos sociais, mulheres, negros, lgbts, indígenas, meio ambiente, entre tantos que precisam de políticas públicas e ações que tragam dignidade e qualidade de vida. São pessoas comuns que trabalham, tem família e encontram um tempo para atividades sociais.

A morte de Marcelo me lembrou 2018 quando o então candidato, hoje presidente, em campanha no Acre, pegou um tripé de microfone simulando uma arma e disse “vamos metralhar os petistas”. Não foi sentido figurado, ele realmente pensa isso. Por “petistas” eles entendem toda a esquerda ou qualquer pessoa que não concorde com ele. Marielle Franco assassinada por ordem de cima, soube bem o que é esse ódio. Vem à mente duas indagações: O que faz um homem jovem, com um filho bebezinho se tornar um assassino?  Que tipo de lavagem cerebral tem sido feita na cabeça dessas pessoas?

Lembrei, também, de episódios particulares quando, em grupo de whatsapp de colegas, no fatídico 2018, um dos integrantes disse que se pudesse matava todos os petistas. Na época, eu escrevi: “oi, estou aqui, você quer me matar?” A resposta: “Claro que não Taninha querida”.   Saí do grupo, é claro. Como ficar num lugar que querem matar pessoas que são como você. No entanto, de grupos a gente saí, de rodas de conversa a gente saí, mas como impedir que alguém se sinta empoderado e com liberdade pra entrar numa festa particular e matar um aniversariante, gritando “Aqui é Bolsonaro”?

Percebi, nestes tempos sombrios que vivemos, que muitas pessoas tem se calado diante do medo. Claro que o medo existe, temos família, amigos e amigas, pessoas que podem sofrer reflexos das nossas atitudes. Só que o medo faz o monstro crescer, faz a democracia morrer. Vimos esse episódio na história recente do Brasil e sabemos as atrocidades e crimes que aconteceram nas mãos da ditadura militar e da extrema direita.

Nos anos 1980, a esquerda também era xingada na rua, mas com a abertura democrática havia um clima de alegria nas eleições. Cada grupo com suas cores e músicas, as casas e os carros eram enfeitados. Agora nos impõem a cor do luto. Mas nada é por acaso, certamente, com essas violências espalhadas por aí, o presidente e sua turma de seguidores estão planejando alguma coisa pra se manter no poder. De uma coisa temos certeza sobre o que devem estar planejando: coisa boa não é, nem para o povo nem para o país.

Resistência é a palavra!

Vou finalizar com o poema atribuído a Bertholt Brecht:

Primeiro levaram os negros.

Mas não me importei com isso Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso. Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego, também não me importei. 

Agora estão me levando. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém.  Ninguém se importa comigo.“





Evento do Movimento Infância e Adolescência comemora os 32 anos do ECA


            No dia 13 de julho, na sede da OAB Maringá acontece o evento em comemoração aos 32 anos do Estatuto da Criança e Adolescência (ECA), realizado pelo MIA - Movimento da Infância e Adolescência com apoio da OAB. Como palestrantes estarão: o Prof. Dr Ailton José Morelli (UEM ex secretário municipal de assistência social) e a Profa. Dra. Ana Claudia Pirajá Bandeira (UEM e OAB).

           O grupo MIA foi criado em Maringá em 2021. Segundo a presidente do movimento, Cris Tazinafo, o MIA nasceu diante da ausência de representação de um movimento em prol da defesa e proteção integral dos direitos das crianças e adolescentes. O objetivo do MIA é garantir que os direitos das crianças e adolescentes não sejam violados.

           A presidente do movimento destaca que o ECA prevê às crianças e adolescentes os direitos à vida, à saúde, à alimentação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à educação, à cultura, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Pela lei: crianças são indivíduos com até 12 anos incompletos e adolescentes, indivíduos entre 12 e 18 anos.

             As inscrições podem ser feitas em @movimentomia. O evento é aberto ao público.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Despertai, Mulheres!

Nos anos 1920 e 1930, no auge da luta das mulheres pelo direito ao voto, a imprensa atacava as feministas, de forma jocosa e feroz. Charges e textos exaltando o feminino como valor e o perigo das mulheres votarem e terem o poder de decisão  eram constantes. As mulheres conquistaram o direito ao voto, em 1932 e depois em 1946, de forma ampla e não trocaram a “lingerie pelo casacão masculino” como temiam alguns homens. Com a abertura democrática em 1985, novas leis surgiram tais como lei de incentivo à mulheres na política, de proteção social, combate à violência, entre outros.

Entretanto, a partir das eleições 2018, algo mudou no país de forma que, em muitas situações, parece que se voltou no tempo, para os anos 1970 ou pior, 1920. As mudanças, principalmente, com relação às mulheres, negros, indígenas e LGBTQIA+ mostraram  uma face machista, misógina, racista e homofóbica que se escondia pelos subterrâneos brasileiros. Junte-se a isso, as barbaridades ditas pelo presidente da república, incentivando o ódio e o armamento da população.  No entanto, as barbaridades não param por aí, pois extrapolam as falas e entram na seara governamental, onde revelam o que realmente deseja o governo, restringindo os direitos das pessoas a uma vida digna.

Não se enganem, o armamento interessa aos grandes fabricantes de armas e aos criminosos e, segundo dados da Segurança Público, os maiores alvos de assassinatos tem sido as mulheres e os negros. Indo mais além, o ataque aos indígenas e quilombolas chamando-os de preguiçosos e vagabundos, tem como alvo a invasão de suas terras, como tem ocorrido pela busca de ouro e outras pedras preciosas, a devastação da floresta para a pecuária e a monocultura. Ali, atacam as indígenas de todas as idades, estuprando-as e matando-as.

Especificamente no tocante às mulheres, a situação se dá tanto pelas falas do presidente como ações de governo.  As falas machistas e misóginas do presidente da república ocorrem a todo instante. Mas, não é de agora, quando deputado ele soltou os inconvenientes “comia gente” (com dinheiro público), “tive quatro filhos, no quinto deu uma fraquejada e veio mulher”, “não contrataria mulher porque ela engravida” e a absurdamente machista, asquerosa e misógina “você não merece ser estuprada porque é muito feia” dita à uma deputada federal petista. O que ele quis dizer com esses exemplos encontrados fartamente em jornais, é que as mulheres não são importantes e as  desqualifica pessoal e profissionalmente. Se ele trata a filha como uma fraquejada e as aliadas tirando-as da primeira fila, mesmo que sejam de primeiro escalão, imagine o que ele não faz com as adversárias políticas e as demais mulheres..

Não se enganem mulheres, as falas do presidente acompanham as ações governamentais que penalizam o público feminino.

A redução do orçamento federal do combate à violência contra a mulher, a não realização de 63% do orçamento das políticas públicas para as mulheres, o ataque ao aborto legal por estupro, o incentivo ao armamento e  a tentativa de retirada de direitos das grávidas são a expressão do machismo e do ódio às mulheres propagada pelo governo.

Não é à toa que os casos de assédio e importunação sexual aumentaram no ano de 2021. Não é por caso que aumentaram os casos de feminícidio. O incentivo vem das autoridades que influenciam alguns homens que passam a pensar e agir como eles, inclusive com a omissão ou apoio de certos religiosos e políticos que usam o nome de Deus em vão, ignorando as atrocidades cometidas contra as mulheres e demais alvos de ataques do governo.

Mulheres, pensem e reflitam a respeito!

Despertai, Mulheres! O que um governante fala, é transformado em ações e no caso atual, retiram os direitos das mulheres conquistados ao longo do tempo.

Despertai, mulheres! Não permitamos que nos tratem como acontecia em 1920. O mundo mudou, nós evoluímos. Exigimos respeito e políticas públicas que nos deem qualidade de vida.  Certamente, um governo que odeia e desrespeita as mulheres não nos interessa!


 Foto: Última Conferência Nacional de Políticas Públicas para Mulheres, realizada em 2016.

domingo, 3 de julho de 2022

Documentário "O Silêncio das Rosas" e as emoções diante da violência

     Um dia recebi uma mensagem do Eliton Oliveira, diretor do documentário O Silêncio das Rosas. Na mensagem ele escreveu que a secretária da mulher Terezinha Pereira passou meu contato, que ele estava realizando um documentário e gostaria de me convidar para ser entrevistada e falar da Ong Maria do Ingá- Direitos da Mulher. Eu fiz perguntas, claro, como sempre. Um dos comentários do Eliton: - Eu e minha equipe queremos que seja um documentário emblemático, que consiga trazer à tona as histórias de violência e luta de muitas mulheres e todos aqueles que estão ao redor policiando e auxiliando.

     O diretor Eliton colocou no roteiro, além dos depoimentos das vítimas, pessoas e entidades que combatem a violência contra a mulher, no setor público e nos movimentos sociais. No setor público, por meio de organismos como Secretaria da mulher, Patrulha Maria da Penha, Delegacia da Mulher, entre outros. No movimento social, a visão do machismo estrutural, do antes e depois da Lei Maria da Penha e a necessidade da mulher buscar ajuda. Foi nesse ponto que a Ong Maria do Ingá entrou, com a minha participação.

Logo, a equipe dele entrou em contato, ele me enviou algumas perguntas, a responsável pela imagem enviou mensagem sobre cores de roupas etc. No dia marcado fui lá. O "lá" foi no consultório do professor, escritor e psicanalista Artur Molina. Eu os apresentei. Essa é outra história. A Madalena e eu fomos conversar com o Artur a respeito do aplicativo Indicador de violência doméstica que o professor estava desenvolvendo como pós-doutorado e no mesmo dia, o Eliton e eu tínhamos nos desencontrado para entregar o livro de autoria dele: “Coisas que aprendemos quando é tarde demais”.  Avisei onde estava e ele foi levar o livro. Ao saber do aplicativo, ele convidou o Artur para conversar. O resultado é que o professor Artur, também, é entrevistado para o documentário.  

Voltando ao documentário. Vimos alguns locais para as filmagens e o local escolhido foi consultório do Artur Molina. Chegando lá, me surpreendi com a produção. Eu imaginava que seríamos o Eliton, a entrevistadora e uma filmadora. Nada disso, era um estúdio completo, se não me engano, o nome técnico é “set de filmagem”. Fui maquiada, cabelos escovados...produzida para a entrevista. No local, todos os muitos profissionais usavam máscaras e todos os cuidados estavam sendo tomados com relação à pandemia.

Respondi as perguntas realizadas pela querida Carol Morais, que realizou a condução com maestria. Mais tarde soube que ela também fora vítima de violência e superou ao dar e realizar as entrevistas. Imagino a dor que ela sentia a cada resposta.

Conversamos por mais ou menos uma hora. Soube que foram 21 entrevistas. Claro que sentimos curiosidade em saber o que a produção aproveitaria das nossas entrevistas pois a produção não poderia a apresentar um documentário de 21 horas. Não fui só eu quem teve esse sentimento, a curiosidade natural fez parte de cada entrevistada(o). Inclusive, uma das entrevistadas que sofreu violência fui eu quem indiquei, ela aceitou e ao ouvi-la me deu uma tristeza enorme por saber que ela passou por tudo aquilo e não soubemos na época.

No dia do lançamento do documentário, confesso que estava com um pouco de ansiedade pra saber o que iria aparecer de nossas falas. Entretanto, nos primeiros depoimentos, com os olhos lacrimejando e o peito apertado, essa ansiedade e a curiosidade desapareceram por completo. Diante de tantas violências sofridas, a emoção foi nos envolvendo de tal forma que parecia que estávamos junto com as mulheres, ouvindo e participando de suas histórias de vida. Tanto no início como no final, o documentário apresenta, também, a reconstrução das vidas das mulheres que sofreram violência e um mensagem fica bastante clara: busque ajuda sempre.

Particularmente, eu sorri, quando li nos agradecimentos finais, o nome da Ong Maria do Ingá, como parte desse belo trabalho que toca as pessoas em um tema tão sensível e senti, mais uma vez, que estamos no caminho certo na defesa dos direitos das mulheres e pelo combate à violência contra a mulher.

Parabéns Eliton e equipe. Muito obrigada por esse momento tão ímpar em nossas vidas e por ter transmitido, por meio do documentário, a mensagem contundente pelo fim da violência contra a mulher.

#Bastadeviolênciacontraamulher