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segunda-feira, 11 de julho de 2022

O tiro em Marcelo fere a democracia

Senti uma tristeza imensa ao saber do assassinato de Marcelo. Os tiros direcionados a ele, atingem a todos e a todas nós e fere a democracia. É como se uma parte de nós, militantes, tivesse levado o tiro também. Chamamos a isso de luto coletivo, que é o mesmo sentimento que temos ao pensar em tantos mortos por Covid. E da mesma forma que atribuo essas mortes a um presidente que vive do ódio disfarçando a corrupção, atribuo a ele a morte de Marcelo. Mesmo não tendo puxado o gatilho, ele infla sua horda que tem cometido atrocidades por aí.  

Não conheci pessoalmente o Marcelo Arruda, mas conheço a trajetória de militantes petistas como ele. Sei da abnegação de lutar por um mundo justo, solidário, fraterno, sem miséria, sem fome, com respeito ao meio ambiente. Alguns são mais radicais, outros menos, alguns acreditam em Deus, alguns são ateus, alguns se assumem socialistas, outros, comunistas, outros social-democratas. Muitos tem família e se dividem entre a militância no partido, no movimento sindical ou estudantil, movimentos sociais, mulheres, negros, lgbts, indígenas, meio ambiente, entre tantos que precisam de políticas públicas e ações que tragam dignidade e qualidade de vida. São pessoas comuns que trabalham, tem família e encontram um tempo para atividades sociais.

A morte de Marcelo me lembrou 2018 quando o então candidato, hoje presidente, em campanha no Acre, pegou um tripé de microfone simulando uma arma e disse “vamos metralhar os petistas”. Não foi sentido figurado, ele realmente pensa isso. Por “petistas” eles entendem toda a esquerda ou qualquer pessoa que não concorde com ele. Marielle Franco assassinada por ordem de cima, soube bem o que é esse ódio. Vem à mente duas indagações: O que faz um homem jovem, com um filho bebezinho se tornar um assassino?  Que tipo de lavagem cerebral tem sido feita na cabeça dessas pessoas?

Lembrei, também, de episódios particulares quando, em grupo de whatsapp de colegas, no fatídico 2018, um dos integrantes disse que se pudesse matava todos os petistas. Na época, eu escrevi: “oi, estou aqui, você quer me matar?” A resposta: “Claro que não Taninha querida”.   Saí do grupo, é claro. Como ficar num lugar que querem matar pessoas que são como você. No entanto, de grupos a gente saí, de rodas de conversa a gente saí, mas como impedir que alguém se sinta empoderado e com liberdade pra entrar numa festa particular e matar um aniversariante, gritando “Aqui é Bolsonaro”?

Percebi, nestes tempos sombrios que vivemos, que muitas pessoas tem se calado diante do medo. Claro que o medo existe, temos família, amigos e amigas, pessoas que podem sofrer reflexos das nossas atitudes. Só que o medo faz o monstro crescer, faz a democracia morrer. Vimos esse episódio na história recente do Brasil e sabemos as atrocidades e crimes que aconteceram nas mãos da ditadura militar e da extrema direita.

Nos anos 1980, a esquerda também era xingada na rua, mas com a abertura democrática havia um clima de alegria nas eleições. Cada grupo com suas cores e músicas, as casas e os carros eram enfeitados. Agora nos impõem a cor do luto. Mas nada é por acaso, certamente, com essas violências espalhadas por aí, o presidente e sua turma de seguidores estão planejando alguma coisa pra se manter no poder. De uma coisa temos certeza sobre o que devem estar planejando: coisa boa não é, nem para o povo nem para o país.

Resistência é a palavra!

Vou finalizar com o poema atribuído a Bertholt Brecht:

Primeiro levaram os negros.

Mas não me importei com isso Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso. Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego, também não me importei. 

Agora estão me levando. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém.  Ninguém se importa comigo.“





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