Artigo publicado em 03/03/2020 em http://www.cafecomjornalista.com/2020/03/as-mulheres-na-luta-politica.html
Maringá, mesmo longe dos
grandes centros e sendo uma cidade de pequeno porte, esteve, nos anos da
ditadura militar no Brasil, no período de 1964 a 1985, inserida no combate ao
governo militar.
Com tradição agrícola, a
cidade naquele período possuía um sindicalismo de trabalhadores rurais forte
que trouxe para a região militantes para organizar a luta contra a ditadura
militar. Houve também caso de militantes
que se deslocavam para o Paraguai colocando a cidade como rota de fuga da
polícia política.
Nos anos 1960 fatores
como a criação da faculdade que se tornaria Universidade Estadual de Maringá, o
grupo atuante de estudantes secundaristas, a vinda de militantes do Partido
Comunista e das organizações como Ação Popular, entre outras aliado ao
sindicalismo trouxe ebulição para a cidade tanto que historiadores do período
relatam a união das igrejas e do empresariado rural para o combate aos
movimentos que se organizavam na cidade.
Dentro deste cenário, as
mulheres começam a participar da vida política da cidade, de forma tímida e aos
poucos algumas mulheres da cidade e mulheres que para cá vieram, somaram forças
para atuar no campo de luta contra a ditadura militar.
Em pesquisa realizada no
programa de pós-graduação em História foram narradas as histórias de mulheres,
tanto jovens estudantes como adultas que participaram de organizações
clandestinas de combate ao governo militar.
Intrigante pensar como
mulheres jovens moradoras de uma cidade igualmente jovem se interessavam pela
luta política em um período em que as moças eram criadas para casar, ser boas
mães e cuidar dos filhos. Elas foram transgressoras de duas formas: não aceitaram
o papel atribuído às mulheres pela sociedade e adentraram num campo visto como
masculino, que é a política.
Poucas mulheres participavam
do processo decisório em suas organizações ou partidos políticos e suas
atividades eram na maioria das vezes panfletagens. Em alguns casos, as mulheres
escondiam militantes procurados que fugiam do país via Guaíra ou Foz do Iguaçu.
Interessante notar, pelos relatos das mulheres, que essas atividades não eram
vistas como perigosas mas, claramente representavam perigo para as militantes
que poderiam ser presas ou mortas.
De modo geral, encontrar
mulheres protagonistas na História do Brasil se torna um desafio, ora tratadas
como esposas/amantes dos heróis homens ou simplesmente ignoradas. No entanto,
narrar a história do ponto de vista da atuação das mulheres contribui para
completar os fatos históricos, preenchendo uma lacuna importante de atuação das
mulheres, seja no cotidiano das lutas, seja no protagonismo nas decisões.
O que não se pode mais é
ignorar a importância e a contribuição das mulheres para os fatos históricos,
portanto, o silêncio a que as mulheres foram submetidas se desfez e sua voz passa
a ser ouvida.
Uma parte desta história
é narrada no livro As mulheres na Luta Política, de minha autoria. A pesquisa e
a escrita do livro trouxeram emoção ao narrar, finalmente, a história das
mulheres.
O livro será lançado no
dia 12 de março, as 19 hs, no Auditório Nadir Cancian, na Aduem (Associação dos
Docentes da UEM), na Rua Itamar Orlando Soares, 305, em Maringá.
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