Três episódios da vida nacional chamaram a
atenção recentemente: a divulgação de conversas entre o juiz Moro e procuradores
mostrando a imparcialidade e indicações em julgamentos, o que vai contra a Lei;
o presidente da República numa Marcha para Jesus fazendo sinal de metralhadora
e uma moça estuprada acusando um jogador famoso.
Os fatos em si são aterradores, no
entanto, mais aterradoras são as posturas de brasileiros e brasileiras diante
dos fatos, minimizando as culpas e tornando o culpado em vítima ou idolatrando
posturas incorretas do ponto de vista moral e legal.
Vamos ao primeiro caso, o do juiz que foi
pego em mentiras. Os que não tem como defende-lo pois ele mesmo se contradisse
em seu depoimento, buscam inverter o jogo e mostram mais preocupações com a
invasão dos dados do que com o conteúdo criminoso dos dados. Mesmo os “tontos
do MBL” conforme chamados pelo juiz numa das conversas, aceitaram um pedido de
desculpas estranho pois o juiz disse que não falou aquilo e chamam uma
manifestação para dar seu apoio ao juiz, que certamente, ri deles pelas costas.
No segundo caso, vemos a incoerência de cristãos
que deveriam pregar amor envolvidos com liberação de armas e incentivo à
violência, como protagonizado inúmeras vezes pelo presidente da República, que
culminou com a sua participação na Marcha para Jesus, simulando uma arma. É totalmente
incoerente com os princípios apregoados por Jesus de amor ao próximo e que se
retornasse hoje, seria crucificado novamente.
O terceiro episódio, sem entrar no mérito
que cabe a polícia investigar, não surpreende pois em praticamente todos os
casos de estupro, uma parcela da sociedade considera que a vítima é culpada,
pela roupa que usou, por estar ali ou, simplesmente, por ser mulher. Essa
parcela da sociedade passa a mão na cabeça dos meninos por serem homens que não
conseguem se conter diante de uma mulher, isenta o juiz pois odeia tanto o
incriminado que acha certo o juiz burlar a Lei para prende-lo e inebriados pela
falsa idéia de segurança admiram o gesto absurdo do presidente da República em
uma manifestação chamada Marcha para Jesus.
O conjunto dos três episódios, vistos por
outro lado que não o político, é resultado de uma cultura existente no país que
durante anos se incomodou com a necessidade de tratar bem as pessoas, não
discriminar negros e homossexuais, respeitar as mulheres (mesmo que por força
da Lei Maria da Penha), entre outras. Essa cultura que leva pessoas a acharem
bonito o famoso jeitinho brasileiro, a burlar o Imposto de Renda, a achar que
pobre tem de ficar no lugar de pobre (mesmo sendo pobre e se enxergando como
não pobre), a jogar lixo pela janela do carro, a não respeitar filas, radares e
leis.
Essas pessoas não aguentaram o “politicamente
correto” e viram esperança num modo de vida que atenda suas
necessidades, explicitadas em conversas de bar e churrascos de família. Essa esperança se deu nas eleições quando
começaram a achar que podem “tudo” e passaram a desmerecer a própria Constituição
Brasileira, chamada de Constituição Cidadã, exatamente por primar pelo respeito
as diferenças.
A própria Internet deu voz a essas pessoas
que sentindo-se dona da verdade, ofendem, ameaçam de morte e depreciam pessoas
que pensam diferente delas, como se isso também não fizesse parte de uma
ideologia que indica claramente que os fins justificam os meios.
As eleições revelaram assustadoramente o
que pensam e fazem mais de 50 milhões de brasileiros, pessoas que se dizem de
fé, muitas religiosas, mas que desejam ter armas e que torcem para que
adolescentes infratores sejam mortos e que a “turma dos direitos humanos” como
dizem seja presa e morta.
O “politicamente incorreto” foi proclamado
pelo presidente da República e amplamente aplaudido por seus eleitores, o que
leva a reflexão de que essas pessoas não perceberam que aquele aspecto moral
que tanto discordam e do ódio criado pelos meios de comunicação contra os
partidos de esquerda, as levaram para um programa político de venda do Brasil,
de falta de geração de emprego e renda e de desenvolvimento econômico, num projeto
que transforma o país em colônia dos países mais ricos.
O politicamente correto era símbolo de
civilidade enquanto o "politicamente incorreto" leva o mundo à barbárie, ao olho
por olho e dente por dente, a tudo aquilo que a História da Humanidade mostra e
que levou, por exemplo, aos fornos nazistas de cremação de adultos e crianças
vivos.