Nem preciso começar dizendo que
apoio a Letícia Sabatella e de forma alguma concordo com a Janaína Pascoal.
Mas, fiquei pensando sobre o que li nos últimos tempos, e notei que as
expressões que usaram para se dirigir a ambas, denota o preconceito contra as
mulheres que atuam na política.
Janaína é professora da USP e foi
uma das pessoas que pediram o impeachment da nossa Presidenta Dilma. Discordo
dela, pois sou a favor da Dilma e luto pela sua volta à Presidência da
República, de onde nunca deveria ter saído.
Letícia é atriz, reconhecida por
seu talento, é ferrenha critica do governo golpista Temer e grande defensora da
volta da Dilma. Concordo com a posição da Letícia a favor da Dilma.
Mas, vamos as palavras que usaram
com relação a essas duas mulheres.
Janaína foi chamada de “louca” em
um vídeo em que ela discursava a favor do impeachment, o qual se espalhou pela
Internet, dizendo que devia estar internada, etc etc.
Letícia, por sua vez, foi chamada
de “puta” por defender a Dilma e não esconder seu posicionamento em momento
algum. Homens e mulheres a ofenderam e agrediram em uma manifestação em
Curitiba.
A louca e a puta, como foram
chamadas, estão apenas e tão somente exercendo seu direito à liberdade de
expressão e pagam, com isso, o que muitas de nós mulheres pagam, quando
resolvem adentrar em um universo masculino e masculinizado como é a política.
O que vimos nos últimos anos, foi,
além de uma tremenda falta de educação e respeito, o machismo e o
conservadorismo aflorando em todos os cantos do Brasil e, principalmente, por
parte da chamada elite ou que se sente elite. Tanto a Presidenta Dilma como as
senadoras e deputadas eleitas legitimamente pela população passaram por
constrangimentos e ataques machistas, tanto por parte de homens como de
mulheres, por meio das redes sociais, meios de comunicação e outras formas de
divulgação como adesivos em carros, faixas e cartazes. “Vaca”, “vagabunda”, “puta”,
“louca”, “mal amada” são as palavras mais utilizadas para se dirigir as
mulheres políticas.
As mulheres que atuam no
campo político sofrem com posturas machistas e impropérios de toda ordem. Basta
verificar a forma como foram tratadas as mulheres militantes que lutaram contra
a ditadura militar, nos anos 1960 e 1970, que eram vistas como mulheres
perigosas, terroristas, destruidoras de lares e que estavam no lugar errado
pois política era coisa de homens. Nem vamos entrar no mérito da gravidade das
torturas sexuais que eram impostas a essas mulheres.
E, pra finalizar, alguém leu ou
ouviu alguém chamando Cunha, Aécio ou qualquer outro de “puto” ou “louco” ou “boi”
ou “vagabundo” ou “mal amado”?. Não, pelo contrário, ouvem-se expressões: “cara
de pau”, “playboy”, “o cara é muito poderoso”, “corajoso”, “deve saber de muita
coisa”, “deve ter muita gente presa a ele” etc etc.
Então mulheres e homens, na hora
de nos dirigirmos aquela mulher que achamos que está errada e discordamos
completamente da posição política dela, vamos refletir se com nossas palavras, não
estamos contribuindo para perpetuar o machismo.
Sei que é um grande desafio, mas
podemos começar. Xingar aquela mulher que não me representa não vai contribuir
para que eu contraponha minha posição política a dela, vai apenas me igualar ao
que existe de pior na política brasileira, que é a exclusão em todos os
sentidos.