Nessa discussão entram os
direitos reprodutivos, a descriminalização do aborto, a saúde integral, a
menstruação, a menopausa, a gravidez...situações que a sociedade toda palpita e
controla mas quem padece individualmente é a mulher. O útero da mulher por ser
vinculado à fecundação assume os aspectos político, religioso, legal e social.
A vinculação do útero à função da
maternidade tornou-se tão relevante na história da humanidade que reinos foram
desfeitos e mulheres assassinadas ou menosprezadas quando não conseguiam
engravidar para gerar herdeiros. Essas mulheres eram vistas como secas com
referência a seus úteros, surgindo, dessa forma, a expressão “útero seco”.
Assim, muitas mulheres diante da necessidade de retirar seus úteros por
problemas de saúde entram em crise emocional, principalmente se não tiveram
filhos, pela impossibilidade de exerceram o papel que a sociedade impõe de
serem mães.
As religiões, por sua vez, se
apropriaram do útero da mulher ao relacioná-lo com seu papel de boas mães e
esposas, cuidadoras do lar e da família e como símbolo da
Ressalte-se que cada religião tem
uma teoria a respeito da fecundação e do momento em que a vida surge. Algumas consideram
que a vida existe a partir do momento da fecundação, outras após algumas
semanas e outras após o parto. Sob o ponto de vista religioso, o tema
descriminalização do aborto se torna bastante complexo e difícil pois envolve
aspectos de espiritualidade e pessoais.
No entanto, independente da
religiosidade existe uma situação cruel na qual as mulheres pobres ao realizar
aborto, com parteiras clandestinas ou remédios, morrem ou ficam estéreis. As
mulheres ricas ao realizar aborto o fazem em clínicas, em segurança. No caso
das mulheres pobres, ao darem entrada em hospitais com hemorragia por aborto
provocado são ainda maltratadas ou negligenciadas por profissionais de saúde. Pode-se
inferir que o controle sobre o útero das mulheres tem a ver, também, com sua
classe social e poder econômico. Chama-se a isso de hipocrisia social pois
tanto a pobre como a rica realizam aborto mas o tratamento e as consequência
são completamente diferentes para cada uma.
Também, a legislação, em muitos
países, regulou o útero da mulher e sua função de procriação ao criminalizar
atos de aborto e gravidez resultante de estupro e ao determinar número de
filhos. Diferentes países com diferentes legislações decidem sobre o útero das
mulheres, ora liberando-as para realizar aborto ora criminalizando-as por sua
realização, de acordo com a situação política, social ou econômica.
Entretanto, não se penaliza o
homem que aborta ao deixar a mulher sozinha com a responsabilidade pela
gravidez e o cuidado com os filhos. Enfim, para a sociedade de modo geral, o
controle sobre a fecundação não se estende aos homens, apenas as mulheres.
Se o Estado, a sociedade, a
religião, os homens e a legislação regulam o útero da mulher, em que momento a
mulher é dona de seu útero?
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