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terça-feira, 23 de abril de 2019

“Armadilhas do Machismo: Parte 3 – o controle sobre o cérebro das mulheres”.

A trilogia criada a partir das reflexões sobre as armadilhas do machismo compõe-se das partes: Na Parte I, foram tratados aspectos públicos da vida da mulher, no mundo do trabalho, na política e sobre a violência; Na Parte II focou-se sobre o controle nos corpos das mulheres  em uma visão mais particular ligada ao mito da beleza e da juventude. Na Parte III destaca-se o cérebro das mulheres que, mesmo sendo uma parte do corpo físico, merece destaque pois, muitas vezes, é visto como separado por possuir o componente emocional junto com o racional.
 Para tanto, abre-se uma reflexão em “Armadilhas do Machismo: Parte 3 – o controle sobre o cérebro das mulheres” de como o cérebro das mulheres é controlado pela sociedade e direcionado para a realização de atividades de acordo com o dito “caráter feminino”.
Três episódios são exemplos desse controle sobre nossos cérebros.
Vou começar por um episódio particular que marcou a minha juventude. Fui aluna de curso da área de computação no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Quando perguntavam o que fazia e dizia que era Processamento de Dados, as pessoas se assustavam e, imediatamente, retrucavam “pensei que fosse estudante de letras pra ser professora de português” (pelos meus óculos, talvez), como se estudar  portugues nao precisasse de raciocinio. A situação era tão gritante que nós, meninas daquela época, adotávamos uma estratégia de afastamento para os meninos indesejáveis: dávamos um  jeito de que eles soubessem de imediato que éramos da área de computação. Era debandada de meninos, na certa.
Destaco, como segundo exemplo, o filme “Estrelas além do tempo” que traz para as telas a história verídica de três mulheres negras que trabalhavam na Nasa no período de estudos para lançamentos de foguetes para a lua: uma engenheira, uma especialista em computação e uma matemática. As três mulheres passaram por grandes desafios para provar aos homens e mulheres colegas de trabalho que possuíam capacidade e conhecimento para solucionar problemas complexos. Além do racismo a que foram submetidas havia o preconceito por serem mulheres, fazendo-as sofrer duplamente.
Como terceiro exemplo, cito duas situações encontradas ao pesquisar as mulheres que lutaram contra o governo da ditadura militar no Brasil. Por um lado, mulheres na clandestinidade realizando tarefas operacionais ou até serviços domésticos com raríssimas mulheres em postos de direção. Quando presas políticas essas mulheres eram questionadas pelos agentes da polícia por estarem no lugar errado e que política era coisa de homem. Ou seja, seus cérebros tensionados para serem boas mães e esposas eram utilizados na militância e questionados pela polícia por não seguirem os padrões sociais estabelecidos na época.
Por décadas, nós, mulheres fomos ensinadas a procurar áreas de estudo que contribuíssem para colaborar no orçamento doméstico e que9 fossem compatíveis com o temperamento dito feminino de cuidar e ensinar. Assim, as mulheres passaram a exercer profissões que funcionavam como continuidade dos serviços executados dentro dos lares como cuidar das crianças e dos enfermos da família. Quando as mulheres começaram a ocupar a função de ensino antes ocupada majoritariamente por professores homens, tanto os salários como a valorização do profissional sofreram quedas consideráveis.
Meninas que se interessavam por áreas como matemática ou física eram vistas como estranhas pois essas áreas eram consideradas relevantes e muito complexas.
Estamos falando no tempo passado. Mas, mudou? Os cérebros das mulheres são autônomos? Elas podem empregar sua inteligência na área que desejarem ou continuam sendo direcionadas?
Muita coisa mudou, certamente, em termos de evolução (nem tanto) e de tecnologia. No entanto, a área tecnológica continua sendo ocupada em sua maioria pelos homens com a alegação de que levam mais jeito para cálculos e resolução de problemas complexos.
Mulheres e meninas ainda ouvem frases como “fica quieta, você não entende disso” ou “isso é assunto para homens”.  Estão ainda nos dizendo a todo instante o que fazer quando se trata de capacidade de raciocínio, de uso do cérebro para gerenciar e solucionar, principalmente em áreas dominadas por homens. Não é a toa que as mulheres que se empoderam na política sofrem todo tipo de preconceitos por atuarem em uma área de poder e tomada de decisão que rompe com o paradigma de mulher submissa.
Observemos que a sociedade determina onde as pessoas podem estar e o que podem realizar. Assim é feito com os negros, indígenas, mulheres e todos os que não se enquadram no estereótipo do homem branco, rico e heterossexual.
Assim, o controle sobre nossos cérebros se dá nas famílias, nas escolas, pelas religiões e pelo Estado. Esse último deveria garantir a Constituição Federal que rege a igualdade de direitos e obrigações entre mulheres e homens e mesmo mantendo um setor governamental de políticas públicas para mulheres ve-se que a ideologia de submissão da mulher é a que prevalece. A mulher deve ter o direito de escolher onde quer atuar e onde se sente mais feliz, seja no lar, na empresa ou na política.
Muitos resquícios do passado nos rondam e impõem controle sobre os cérebros das mulheres com o intuito de direciona-los para a manutenção da sociedade machista e excludente, menosprezando nossa capacidade para melhorar o mundo em que vivemos.

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