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segunda-feira, 1 de abril de 2019

As armadilhas do machismo


Num período em que o feminismo vem sendo atacado, tanto por homens como por mulheres, com informações distorcidas e maldosas, cabe uma reflexão sobre o papel do machismo em nossas vidas.
Começamos afirmando que o feminismo não é o contrário do machismo pois o feminismo não quer oprimir ninguém, quer apenas igualdade de direitos, o compartilhamento das tarefas domésticas e o direito da mulher ao próprio corpo. No entanto, essas reivindicações não são aceitas de forma tão simples pela sociedade conservadora que para combate-las faz uso de artifícios que encantam as próprias mulheres.  Chamaremos esses artifícios de “armadilhas do machismo”.

Tudo começa na infância com a suposta proteção às meninas, o que as impede de explorar a rua e o mundo como os meninos. Mesmo que a exploração seja dentro de casa, no uso de computadores e celulares, quando, por exemplo, o computador fica no quarto do menino para que ele passe horas a fio em jogos de computador e nas redes sociais. Não vamos discutir se o comportamento de trancafiar no quarto é correto ou não, isso fica para a psicologia. O que nos chama a atenção é a diferença na própria disposição do equipamento, cuja responsabilidade fica a cargos dos meninos.

As festinhas de aniversário são outro exemplo. Se uma menina pedir uma festa com o tema de carros, vingadores ou dinossauros vai assustar a família. O contrário, também, imagina se um menino pedir a festa com tema Mulher Maravilha? Será um escândalo. Na infância de antigamente, quando tinha festa de aniversário, era bolo com refrigerante e ponto final. Nos parece que o mercado consumidor conquistou o público ao fortalecer as supostas  diferenças de gênero. Segundo a professora Eliane Maio, em um palestra, o próprio colocar de brincos na criança reproduz a visão de gênero. No bebê menina colocam o brinco logo que nasce pra não ser confundida com menino. O menino pode decidir no futuro se quiser usar brinco ou não.

Depois vamos entrando na vida adolescente e vemos, em grande parte dos lares, que as meninas assumem as tarefas de lavar louça e fazer comida enquanto os meninos continuam passando seu tempo em computadores, por exemplo. Na escola, os meninos correm e jogam futebol no pátio enquanto as meninas fazem outras atividades mais comportadas.

Na vida adulta, as mulheres realizam as atividades do mercado de trabalho e as atividades domésticas, sendo cobradas em todas elas, para serem perfeitas, como se fosse uma espécie de “castigo” por querem os mesmo direitos e obrigações dos homens. Aliás, direitos e obrigações entre mulheres e homens garantidos na Constituição Brasileira de 1988. Certamente, as mulheres padecem muito mais de assédio sexual e moral no local de trabalho do que os homens, além delas receberem os menores salários. Para a mulher negra, a situação é pior ainda pois entram no mercado precocemente, ocupam mais as atividades do trabalho doméstico, são discriminadas e maltratadas.

Ao crescer, as meninas e mulheres começam a descobrir o amor. O amor que deveria libertar, ser um sentimento que fizesse as pessoas crescerem como ser humano e dar o melhor de si, torna-se, em muitos casos, uma prisão.  Dessa forma, uma armadilha feroz do machismo configura-se no chamado “amor romântico”, no qual a mulher envolvida pelo sentimento, não se apercebe dos sinais de violência no relacionamento, os quais começam como menosprezo, proibição de fazer coisas que ela gosta ou afastamento da família e amigos. Muitas mulheres, inclusive, não realizam boletins de ocorrência das violências emocionais, psicológicas ou morais sofridas por incorporarem essas violências como algo natural e corriqueiro nos relacionamentos, mesmo que a Lei Maria da Penha tipifique esses tipos de violência como crime.

Toda mulher, em algum momento da sua vida, ouviu um “pára de falar, você não entende disso” ou “isso é conversa de homem”;  levou uma passada de mão, sem desejar, em algum lugar do corpo, inclusive andando na rua; foi “cantada”  de uma maneira  que a incomodou; foi demitida ou não arrumou emprego por ser mulher; foi desprestigiada, mesmo sendo mais qualificada ou preparada;  enfim existe uma série de situações pelas quais as mulheres passam e que fazem parte do universo feminino quase que como natural. Mas, não é natural. Tudo aquilo que faz as mulheres sofrerem por sua condição de ser mulher  é fruto de uma sociedade conservadora e machista que aprisiona as mulheres e as impede de ser e estar onde elas desejarem.

Uma outra armadilha bastante camuflada e incorporada na vida das mulheres é de que as mulheres competem entre si, como se o homem fosse um troféu a ser conquistado e a mulher que obtem o noivo ou marido é uma felizarda diante das demais mulheres. Colocaram essa história de competição entre as mulheres em nossas cabeças para fortalecer o machismo que prega a todo instante que as mulheres não são unidas, nem votam em mulheres etc.

No mundo do trabalho e na política, as armadilhas do machismo são gritantes. Mesmo mais qualificadas, as mulheres não relegadas em promoções, recebem até 30% a menos do salários do homens, na mesma função e sofrem mais assédio moral e sexual. 

Na política, a despeito  dos 30% de cotas para candidaturas, muitas mulheres são usadas como candidatas laranjas para receber o recurso do fundo partidário. A maioria das mulheres eleitas é por herança familiar de um homem político conhecido. A cota, por sua vez, deveria ser paritária afinal as mulheres são 52% da população brasileira.

Nem sempre é fácil identificar as armadilhas do machismo pois a proteção às mulheres e o cavalheirismo estão sempre nos discursos e atitudes. Abrir uma porta do carro para uma mulher pode ser realmente uma gentileza por parte do homem, mas ele pode, também, querer mostrar que você precisa de uma figura masculina até pra abrir uma porta.

Os tempos atuais de informação rápida e em tempo real trazem mais oportunidades para as mulheres, no entanto, percebe-se que uma parcela da sociedade quer dar uma guinada em direção ao século retrasado e ignorar a contribuição dada pelas mulheres, ora dentro do lar ora na vida pública. 

Não se pode permitir retrocessos! O feminismo atua para que as mulheres tenham o direito de escolha e sejam felizes. Parceiros na vida e por um mundo melhor, mulheres e homens tem muito a contribuir, de forma equilibrada e igualitária, respeitando os direitos e a liberdade.

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