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quarta-feira, 17 de abril de 2019

Armadilhas do Machismo: Parte 2 – O controle sobre os corpos das mulheres


Na primeira parte das armadilhas do machismo tratamos de modo geral sobre a infância e a maturidade das mulheres, com relação a divisão de tarefas e atitudes dada a mulheres e homens; a desigualdade no mundo do trabalho e a ausência da mulher na política. Dentre os mecanismos de submissão da mulher foram destacados o amor romântico e a violência emocional, psicológica e moral tipificadas como crimes na Lei Maria da Penha.

Nessa segunda parte das Armadilhas do Machismo vamos tratar sobre o controle de nossos corpos, a partir do ideal de beleza, o qual, em muitos casos aprisiona as mulheres, em detrimento de sua saúde.

Existe um limite no cuidado para que a mulher se sinta melhor e no cuidado para agradar o homem e a sociedade. No primeiro caso, a mulher pode fazer o que ela assim desejar para que se sinta melhor. Atividades físicas, alimentação adequada e pequenas correções são comuns nesse primeiro caso.
No segundo caso, os cuidados se estendem a manutenção de uma aparência jovem e a mulher se submete a toda ordem de técnicas modernas, inclusive de alta periculosidade.  

O mito da eterna juventude acompanha as mulheres, as quais, em muitas situações, se sentem ameaçadas pela possibilidade de serem trocadas por mulheres mais jovens e a partir dessa insegurança procuram meios para esticar o período da juventude ou, pelo menos, garantir a aparência jovem almejada.
Num país de clima tropical como é o caso do Brasil, com grande exposição de partes dos corpos, a indústria de cirurgia plástica está entre as mais rentáveis. Desde aplicações de produtos e elementos na face, cirurgia para afinar bochechas até cirurgia de retirada de gordura abdominal, entre outros tipos são procuradas pelas mulheres, em número muito mais expressivo do que pelos homens.  

Homens se sentem à vontade andando por aí de cabelos grisalhos, sem cabelos e com barrigas proeminentes. Mulheres, de modo geral, se sentem mal com cabelos grisalhos e barrigas proeminentes e as cobranças sociais as fazem se sentirem piores. 

O simples fato de não querer colorir os cabelos e deixar os fios brancos na cabeleira faz com que surjam reações negativas e questionamentos na família, no trabalho e nas ruas.  Muitas mulheres, mesmo desejando seus fios brancos, não resistem à pressão e os colorem para não ficar com “cara de velha”, usando a expressão corriqueira.

Não há mal em pintar os cabelos, a não ser pelo efeito dos produtos químicos que não conhecemos. O mal está em se sentir forçada a fazer isso mesmo que não queira, ou seja, até nos cabelos, o corpo da mulher é controlado pelo que a sociedade considera mais adequado. 

O que dizer então do útero, os seios, a genitália e o cérebro das mulheres que são controlados pela sociedade? O útero da mulher e sua genitália são controlados com a disseminação da idéia de que mulheres devem procriar filhos para a continuidade da espécie humana e se tornarem boas mãe e esposas. Não há nada de mal nisso desde que a mulher assim o deseje. No entanto, se ela desejar não ser mãe e nem esposa, ela deve ser respeitada por sua escolha. 

A mulher deve ter o direito de escolher o que deseja para sua vida e não ficar subordinada ao que a sociedade deseja o que ela faça. A regra é simples: se ela está feliz com sua escolha, está tudo certo, nos moldes do filme “O sorriso de Monalisa”, o qual sugiro assistirem.

O medo de que a mulher conheça e controle seu corpo, assusta o mundo machista pois temem que a mulher possa se masturbar e ter prazer sem a necessidade de um parceiro ou que a mulher possa vivenciar o “sexo sem amor”, ou não queria ter filhos, entre outras situações que são permitidas apenas aos homens. 

Ainda na atualidade mesmo quando homens e mulheres tem o mesmo comportamento em relação à sexualidade, são tratados de forma diferenciada. A mulher que sai com todos é tratada de “galinha ou puta”. Por sua vez, o homem que sai com todas, é visto como “garanhão”.  Não vamos discutir aqui se o comportamento é certo ou errado. O que chama a atenção é que o mesmo comportamento realizado por parte de dois seres humanos, um homem e uma mulher, são tratados de forma completamente diferente pela sociedade.

Por fim, tomo a liberdade de sugerir uma leitura: “0 MITO DA BELEZA: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Tradução: Waldea Barcellos. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1992”. A autora nos leva a reflexão da contradição entre o protagonismo alcançado pelas mulheres em contraposição ao padrão estipulado pela sociedade de juventude e beleza, o qual aprisiona as mulheres. Vale a pena a leitura.

Não encerramos a reflexão sobre As Armadilhas do Machismo. Vamos escrever mais uma Parte 3 na qual trataremos sobre o controle da sociedade machista nos cérebros das mulheres. Enfim criamos uma trilogia: As Armadilhas do Machismo. Na Parte I, foram tratados aspectos públicos da vida da mulher, no mundo do trabalho, na política e sobre a violência. Na Parte II focamos sobre o controle sobre nossos corpos em uma visão mais particular ligada ao mito da beleza e da juventude. Essa reflexão nos levou a dar destaque a uma parte do nosso corpo, que muitas vezes, é vista como separada, tanto que daremos um destaque a ela e vamos abrir uma reflexão em “Armadilhas do Machismo: Parte 3 – o controle sobre o cérebro das mulheres”.

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