Para compartilhar idéias!







domingo, 15 de janeiro de 2023

O desrespeito às mulheres paranaenses pelo governador Ratinho Jr

Atuo no movimento de mulheres desde a minha vida estudantil, fui uma das fundadoras e primeira presidente do Fórum Maringaense de Mulheres e da Ong Maria do Ingá Direitos da Mulher, atuei como presidente do Conselho Municipal da Mulher de Maringá por duas gestões (2004-2006 e 207-2019) e fui conselheira no Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres. Atualmente, faço parte como voluntária, da coordenação de imprensa da Ong Maria do Ingá,  coordeno o Grupo de Trabalho Igualdade do Movimento ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) Maringá que engloba o ODS 5 – Igualdade de Gênero e ODS 10 – Redução das desigualdades e participo da Marcha Mundial das Mulheres.

 Nesta trajetória, certamente, presenciei muitas coisas absurdas, mas havia uma sensação de consolidar as conquistas femininas, principalmente no estabelecimento de políticas públicas. Sensação destruída de forma concreta a partir do golpe de 2016 que tirou do governo a Presidente Dilma, única mulher no poder maior do país desde sua criação. De lá pra cá as políticas públicas para mulheres foram sendo destruídas, não se realizaram as conferências nacionais e houve corte federal no orçamento de combate à violência contra a mulher. Vale destacar que o primeiro governo após a saída da Presidente Dilma era composto de um ministério de homens brancos, ricos e autodeclarados héteros.

Aqui no Estado do Paraná, famoso por seu conservadorismo, somos cenário de algumas situações alarmantes como figurar entre os estados mais violentos com as mulheres, com aumento de feminicídio e poucas mulheres nos espaços de poder seja na política ou nas empresas privadas, um Estado sem infraestrutura para atender os casos de violência contra a mulher com apenas 20 delegacias da mulher (DM) para seus 399 municípios. Muitas das DMs  com homens delegados na titularidade, a despeito da reivindicação dos movimentos de mulheres para que seja uma delegada.  Um destaque para Sarandi, cidade com mais de 100 mil habitantes, altos índices de violência contra a mulher e sem uma DM especializada para atender a população feminina. É assim que se vê, na prática, a lógica machista e misógina como balizadora das decisões governamentais.

Isso se mostra, fortemente, no decreto do governador Ratinho Jr ao nomear um homem branco para a recém criada Secretaria da mulher e da Igualdade Racial, num desrespeito cabal aos movimentos de mulheres e da comunidade negra do Estado do Paraná.

O governador, então candidato à reeleição, participou de uma reunião com mais de 2000 mulheres em Maringá, quando assumiu o compromisso de criar a Secretaria da Mulher ao ser cobrado pelas presentes. A reunião não estava na agenda do candidato, mas entrou de última hora como oportunidade, provavelmente, pela análise do tamanho expressivo do público. Também houve mobilização do Movimento Mais Mulher no Poder Paraná, o qual congrega mulheres de diferentes partidos políticos, com solicitação da criação da secretaria estadual da mulher, do aumento do orçamento de combate à violência contra a mulher e de 50% dos cargos no executivo ocupado por mulheres.

A criação da Secretaria Estadual de Mulheres, pleiteada pelos movimentos sociais por décadas, finalmente, é criada. No entanto, no dia 12 de janeiro, as paranaenses são surpreendidas com a nomeação, interina, de um homem branco como titular da Secretaria. De acordo com informação dada pelo governo, a nomeação é momentânea até que seja nomeada uma mulher.

Não interessa se é momentâneo, esporádico ou outra coisa, o que importa é o desrespeito às mulheres, como no caso das DMs em que se alega que não existem delegadas; em cidades com alto índice de violência não são criadas DMs, entre outras coisas que mostram que as políticas públicas para mulheres só importam em período eleitoral, depois são descartadas ou maquiadas, com a justificativa de que “não tem mulher para assumir ou não tem orçamento para realizar” entre tantas desculpas que se ouve.

Assim, a nomeação de um homem branco para uma secretaria da mulher e da igualdade racial, além do machismo gritante, apenas consolida o que se sabe: as paranaenses são valorizadas apenas na campanha eleitoral por serem 52% do eleitorado e aí, sim, podem fazer toda a diferença na escolha das candidaturas.

Então, paranaenses, comecem a prestar atenção nas candidaturas, na história e parem de eleger pessoas que votam contra nós e desrespeitam nossa trajetória na construção do Estado do Paraná, afinal somos mais de 50%  e, também somos força produtiva e política. Valorizemos nossa trajetória e nosso legado.

OBS: "Eu não aceito um delegado da mulher! É meu direito!"

http://www.taniatait.com.br/2021/06/eu-nao-aceito-um-delegado-da-mulher-e.html
 

 

Um comentário: