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segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Terão as mulheres uma história?

A indagação "Terão as mulheres uma história?" faz parte da introdução da coletânea História das Mulheres no Ocidente, de George Duby a Michele Perrot (Porto: Edições Afrontamento, 1990). A coletânea com 5 volumes, de, aproximadamente, 600 páginas em cada um, traz narrativas da história das mulheres desde a antiguidade até os tempos modernos.

Munidos de vestígios pois letras não havia, historiadores e historiadoras puderam narrar a presença e a atuação das mulheres nos fatos históricos. Assim, confirma-se o que sempre soubemos, as mulheres tem história, afinal sempre trabalharam nos campos, foram subjugadas sexualmente, casadas por força de interesses políticos, queimadas em fogueiras por sua espiritualidade e conhecimento de plantas medicinais.

Como puderam impor na história oficial, a ausência das mulheres?  Para Duby e Perrot, a partir de movimentos como a importância do feminino nas famílias no século XIX, da Escola de Annales que coloca no campo histórico as práticas do cotidiano e o Maio de 1968 como instrumento de reflexão política sobre as chamadas minorias ( exilados, negros, mulheres, periferia, entre tantos), surge a possibilidade de completar os fatos históricos com a presença feminina.

Não se pode ignorar, também, o papel do movimento feminista surgido no início do século XX, mas que teve percursoras, como Olympe Gouges, já no século XVII, no bojo da Revolução Francesa.

No entanto, com a criação dos grupos de estudos de gênero no Brasil, a partir dos anos 1990, a busca pela história das mulheres tornou-se objeto de pesquisas, realizadas, principalmente, por historiadoras feministas. Um dos clássicos nesta empreitada é o livro História das Mulheres no Brasil, o qual reúne pesquisas dos mais diversos setores tendo como protagonista a atuação das mulheres.

Embuida por esse espírito de pensar as mulheres na história, percebi a emoção da minha avó Marianna na inauguração da rua com o nome do meu avô Pioneiro Antonio Tait. Naquele momento, indaguei internamente: e ela, que veio pra cá com os filhos, mulher jovem como tantas outras que deixaram o conforto de seus locais de origem para se aventurar com sua família em locais agrestes, terá sua história conhecida? A partir dali despertou meu interesse na história das mulheres maringaenses, cujo cadastramento das pioneiras se deu somente a partir de 1986. Comecei, obviamente, com a pesquisa sobre as pioneiras, que está publicado no livro Maringá e o Norte do Paraná (organizado pelo professores Reginaldo Dias e José Henrique Gonçalves, Maringá: EDUEM, 1999) sob o título: As excluídas da história: o olhar feminino sobre a formação de Maringá.

Pensei que pararia por aí na minha incursão na história das mulheres, quando em 2014, nas manifestações contra os 50 anos da ditadura militar no Brasil, refleti sobre as militantes em Maringá, quem seriam, onde estavam elas. Seria apenas uma professora referenciada sempre ou teve mais mulheres militantes?. Essa indagação se converteu no meu pós-doutorado em História (UEM, 2018), que por sua vez, se transformou no meu livro As mulheres na luta política (Curitiba,: CRV, 2020). Nem preciso falar da emoção em realizar entrevistas com as mulheres, tanto as pioneiras como as militantes contra a ditadura militar. Me senti uma espécie de guardiã de suas histórias, o que aumentou a minha responsabilidade.

Chegamos então ao ano 2020, marcado por uma pandemia que anestesiou a humanidade, no limiar de uma nova graduação, após a aposentadoria, o curso de Jornalismo. No TCC – trabalho de conclusão de curso - surge a proposta de escrever sobre o MMNP – Movimento Mais Mulheres no Poder Maringá, no formato livro-reportagem, combinando história, literatura e jornalismo.

Na pesquisa foram realizadas entrevistas com candidatas de diferentes posições ideológicas integrantes do MMNP, análise de blogs e sites de notícias e das redes digitais do MMNP para traçar a criação e trajetória de um movimento de mulheres que, com o objetivo claro de ocupar cadeiras numa legislatura que não possuía vereadoras, criou coesão do grupo e teve uma trajetória considerada vitoriosa.

O rigor da banca de TCC com sua experiência e considerações me impulsionou a publicar o livro sobre a criação e a trajetória do MMNP intitulado: Elas querem o poder – o caso do movimento mais mulheres no poder para o legislativo maringaense (Maringá: Iperfil Editora, 2022), o qual será lançado dia 05 de outubro. A data escolhida para o lançamento do livro é o dia da cidadania e da promulgação da Constituição Federal Brasileira de 1988, a que declarou, pela primeira vez, a igualdade para mulheres e homens em direitos e obrigações.

Procurei, no livro,  colocar a luta das mulheres na busca dos espaços de poder dentro da história da cidade e dos movimentos organizados de mulheres, afinal uma cidade que tem nome de mulher e tantas atuantes em vários setores, nunca teve sequer prefeita ou vice-prefeita e uma legislatura (2017-2020), sem vereadoras. Assim, o livro se divide em quatro partes: mulher na política e os movimentos organizados de mulheres apresentados na primeira; a criação e a trajetória do MMNP, na segunda e terceira partes e quando falar em feminismo, na quarta parte. O MMNP, por sua vez, se encontra em todas as partes e mostrou, ao conquistar cadeira na Câmara Municipal e na ocupação de cargos no Executivo, que com a união, é possível.

Com a narrativa da história das mulheres, enxergamos que é possível sim que elas estejam em todo lugar, como e se elas quiserem. E, podemos responder com convicção: sim, as mulheres tem uma história.

Agora, parece que cumpri uma espécie de trilogia: as pioneiras, as militantes contra a ditadura militar e as mulheres nas eleições. O que vem pela frente, não sei, só o tempo dirá. Todas as pesquisas sobre as mulheres mostram que as portas e janelas se abriram e basta ocuparmos os espaços que nos cabem, afinal, somos metade da população e isso precisa se refletir de forma igualitária em todos os setores da sociedade.

“Elas querem o poder” reflete a força e união das mulheres, na busca de um objetivo comum, afinal se buscar o poder pelos homens é bem visto porque não seria bem vista a mesma busca pelas mulheres.

“Elas querem o poder” e mostraram que, com união, é possível!

Aproveito para convidar para vocês compartilharem a alegria desse momento comigo, no dia 05 de outubro, às 19h30 no Bar Sabores do Malte, no Mercadão em Maringá.

 


 

 

 

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