Tive a imensa
oportunidade e satisfação de realizar uma pesquisa com mulheres pioneiras. O
ano era 1996 e não havia no município de Maringá a narrativa da história da formação da cidade sob o
olhar das mulheres. O mito do pioneiro herói homem estava sedimentado e a partir desta constatação fomos em busca do olhar feminino sobre a construção de Maringá.
A
pesquisa com o título: "As excluídas da história: o olhar feminino sobre a formação de Maringá", está publicada no livro Maringá e o Norte do Paraná organizado pelos professores José
Henrique Rollo e Reginaldo Benedito Dias, pela Eduem, em 1999.
Chamou a atenção, nas entrevistas com as mulheres, o amor e o carinho que as mulheres pioneiras entrevistadas sentem pela
cidade como uma forma de pertencimento a uma cidade que viram crescer a partir da mata e
se transformar em uma cidade com qualidade de vida reconhecida no país.
Maringá, finalmente,
pode narrar a história das mulheres que para aqui se dirigiram ou foram
trazidas por familiares, tiveram uma vida de dificuldades em uma terra agreste,
criaram seus filhos em meio a jagunços e cobras, mas sobreviveram para contar
sua história. Todas afirmam que amam a cidade e tem a construção de sua família
junto com o crescimento de Maringá.
Assim, confirma-se que
a história das mulheres ao ser narrada traz a tona a história do cotidiano e da
presença das mulheres nos fatos históricos.
Alijadas do processo de tomada de decisão e de
presença nos espaços de poder político, as mulheres na história de Maringá
trazem a narrativa de sua presença marcada por fatos como a preocupação de
criar os filhos em uma terra agreste e repleta de jagunços, a insegurança em
relação ao futuro, a lavagem das roupas no rio, a moagem do café, a roupa empoeirada
no varal, a passeata dos comunistas (sim, teve), os bailes no Hotel
Bandeirantes, as brigas na cidade, entre outros elementos que nos conduzem ao
modo de vida no início da cidade de Maringá.
Finalmente, as mulheres
pioneiras são sempre lembradas, homenageadas como nomes de ruas, nomes de
escola, em desfiles do aniversário da cidade e em pesquisas científicas sobre
sua presença na formação da cidade.
Lembro muito emocionada
quando a minha avó Marianna Spinelli Tait foi homenageada pela Secretaria da
Mulher em desfile da cidade e tanto ela como a vó Angela foram homenageadas
como nomes de ruas. Lembro da Dona
Augusta Gravena me contando como era criar os filhos no sítio e na cidade, da
Dona Lucia Vilella Pedras me falando dos livros que pediu ao pai quando veio
para cá e do barro vermelho, da professora Odete Alcantara Rosa me mostrando suas fotos
organizadas em albuns e me falando da vida na cidade, da vó Angela me contando que
as mulheres que eram trazidas pelos maridos ou familiares sem nem saber o que
encontrar, da vó Marianna me dizendo da poeira e da solidariedade entre as
pessoas, entre tantas histórias.
Algumas das
entrevistadas na pesquisa faleceram enquanto outras estão recolhidas aos seus
lares, no entanto, suas contribuições para a história da cidade permanecem,
completando dessa forma o cenário em que a cidade foi construída, com a visão
das mulheres, seus anseios e angústias.
Nas entrevistas, muitas
vezes eu me emocionava com elas, afinal elas abriram as portas de suas casas e
de suas vidas e, puderam, finalmente, revelar o seu olhar sobre a construção da
cidade. Dessa forma, as mulheres pioneiras se perpetuam na história da cidade
que contribuíram para nascer, crescer e se tornar a cidade que é.
Confesso que concluo
esse texto com os olhos lacrimejados pelas lembranças e pela alegria em ter
conhecido essas mulheres e sua força, seus medos, sua esperança e seu amor pela
cidade que construíram junto aos seus. Me sinto comprometida com elas e suas
histórias.
Finalmente, me sinto feliz
quando passeio pelas ruas da cidade de Maringá e encontro nomes de rua
começando com “Pioneira...”.
Sorrio e penso: “elas
merecem!!!”.