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terça-feira, 23 de abril de 2019

“Armadilhas do Machismo: Parte 3 – o controle sobre o cérebro das mulheres”.

A trilogia criada a partir das reflexões sobre as armadilhas do machismo compõe-se das partes: Na Parte I, foram tratados aspectos públicos da vida da mulher, no mundo do trabalho, na política e sobre a violência; Na Parte II focou-se sobre o controle nos corpos das mulheres  em uma visão mais particular ligada ao mito da beleza e da juventude. Na Parte III destaca-se o cérebro das mulheres que, mesmo sendo uma parte do corpo físico, merece destaque pois, muitas vezes, é visto como separado por possuir o componente emocional junto com o racional.
 Para tanto, abre-se uma reflexão em “Armadilhas do Machismo: Parte 3 – o controle sobre o cérebro das mulheres” de como o cérebro das mulheres é controlado pela sociedade e direcionado para a realização de atividades de acordo com o dito “caráter feminino”.
Três episódios são exemplos desse controle sobre nossos cérebros.
Vou começar por um episódio particular que marcou a minha juventude. Fui aluna de curso da área de computação no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Quando perguntavam o que fazia e dizia que era Processamento de Dados, as pessoas se assustavam e, imediatamente, retrucavam “pensei que fosse estudante de letras pra ser professora de português” (pelos meus óculos, talvez), como se estudar  portugues nao precisasse de raciocinio. A situação era tão gritante que nós, meninas daquela época, adotávamos uma estratégia de afastamento para os meninos indesejáveis: dávamos um  jeito de que eles soubessem de imediato que éramos da área de computação. Era debandada de meninos, na certa.
Destaco, como segundo exemplo, o filme “Estrelas além do tempo” que traz para as telas a história verídica de três mulheres negras que trabalhavam na Nasa no período de estudos para lançamentos de foguetes para a lua: uma engenheira, uma especialista em computação e uma matemática. As três mulheres passaram por grandes desafios para provar aos homens e mulheres colegas de trabalho que possuíam capacidade e conhecimento para solucionar problemas complexos. Além do racismo a que foram submetidas havia o preconceito por serem mulheres, fazendo-as sofrer duplamente.
Como terceiro exemplo, cito duas situações encontradas ao pesquisar as mulheres que lutaram contra o governo da ditadura militar no Brasil. Por um lado, mulheres na clandestinidade realizando tarefas operacionais ou até serviços domésticos com raríssimas mulheres em postos de direção. Quando presas políticas essas mulheres eram questionadas pelos agentes da polícia por estarem no lugar errado e que política era coisa de homem. Ou seja, seus cérebros tensionados para serem boas mães e esposas eram utilizados na militância e questionados pela polícia por não seguirem os padrões sociais estabelecidos na época.
Por décadas, nós, mulheres fomos ensinadas a procurar áreas de estudo que contribuíssem para colaborar no orçamento doméstico e que9 fossem compatíveis com o temperamento dito feminino de cuidar e ensinar. Assim, as mulheres passaram a exercer profissões que funcionavam como continuidade dos serviços executados dentro dos lares como cuidar das crianças e dos enfermos da família. Quando as mulheres começaram a ocupar a função de ensino antes ocupada majoritariamente por professores homens, tanto os salários como a valorização do profissional sofreram quedas consideráveis.
Meninas que se interessavam por áreas como matemática ou física eram vistas como estranhas pois essas áreas eram consideradas relevantes e muito complexas.
Estamos falando no tempo passado. Mas, mudou? Os cérebros das mulheres são autônomos? Elas podem empregar sua inteligência na área que desejarem ou continuam sendo direcionadas?
Muita coisa mudou, certamente, em termos de evolução (nem tanto) e de tecnologia. No entanto, a área tecnológica continua sendo ocupada em sua maioria pelos homens com a alegação de que levam mais jeito para cálculos e resolução de problemas complexos.
Mulheres e meninas ainda ouvem frases como “fica quieta, você não entende disso” ou “isso é assunto para homens”.  Estão ainda nos dizendo a todo instante o que fazer quando se trata de capacidade de raciocínio, de uso do cérebro para gerenciar e solucionar, principalmente em áreas dominadas por homens. Não é a toa que as mulheres que se empoderam na política sofrem todo tipo de preconceitos por atuarem em uma área de poder e tomada de decisão que rompe com o paradigma de mulher submissa.
Observemos que a sociedade determina onde as pessoas podem estar e o que podem realizar. Assim é feito com os negros, indígenas, mulheres e todos os que não se enquadram no estereótipo do homem branco, rico e heterossexual.
Assim, o controle sobre nossos cérebros se dá nas famílias, nas escolas, pelas religiões e pelo Estado. Esse último deveria garantir a Constituição Federal que rege a igualdade de direitos e obrigações entre mulheres e homens e mesmo mantendo um setor governamental de políticas públicas para mulheres ve-se que a ideologia de submissão da mulher é a que prevalece. A mulher deve ter o direito de escolher onde quer atuar e onde se sente mais feliz, seja no lar, na empresa ou na política.
Muitos resquícios do passado nos rondam e impõem controle sobre os cérebros das mulheres com o intuito de direciona-los para a manutenção da sociedade machista e excludente, menosprezando nossa capacidade para melhorar o mundo em que vivemos.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Armadilhas do Machismo: Parte 2 – O controle sobre os corpos das mulheres


Na primeira parte das armadilhas do machismo tratamos de modo geral sobre a infância e a maturidade das mulheres, com relação a divisão de tarefas e atitudes dada a mulheres e homens; a desigualdade no mundo do trabalho e a ausência da mulher na política. Dentre os mecanismos de submissão da mulher foram destacados o amor romântico e a violência emocional, psicológica e moral tipificadas como crimes na Lei Maria da Penha.

Nessa segunda parte das Armadilhas do Machismo vamos tratar sobre o controle de nossos corpos, a partir do ideal de beleza, o qual, em muitos casos aprisiona as mulheres, em detrimento de sua saúde.

Existe um limite no cuidado para que a mulher se sinta melhor e no cuidado para agradar o homem e a sociedade. No primeiro caso, a mulher pode fazer o que ela assim desejar para que se sinta melhor. Atividades físicas, alimentação adequada e pequenas correções são comuns nesse primeiro caso.
No segundo caso, os cuidados se estendem a manutenção de uma aparência jovem e a mulher se submete a toda ordem de técnicas modernas, inclusive de alta periculosidade.  

O mito da eterna juventude acompanha as mulheres, as quais, em muitas situações, se sentem ameaçadas pela possibilidade de serem trocadas por mulheres mais jovens e a partir dessa insegurança procuram meios para esticar o período da juventude ou, pelo menos, garantir a aparência jovem almejada.
Num país de clima tropical como é o caso do Brasil, com grande exposição de partes dos corpos, a indústria de cirurgia plástica está entre as mais rentáveis. Desde aplicações de produtos e elementos na face, cirurgia para afinar bochechas até cirurgia de retirada de gordura abdominal, entre outros tipos são procuradas pelas mulheres, em número muito mais expressivo do que pelos homens.  

Homens se sentem à vontade andando por aí de cabelos grisalhos, sem cabelos e com barrigas proeminentes. Mulheres, de modo geral, se sentem mal com cabelos grisalhos e barrigas proeminentes e as cobranças sociais as fazem se sentirem piores. 

O simples fato de não querer colorir os cabelos e deixar os fios brancos na cabeleira faz com que surjam reações negativas e questionamentos na família, no trabalho e nas ruas.  Muitas mulheres, mesmo desejando seus fios brancos, não resistem à pressão e os colorem para não ficar com “cara de velha”, usando a expressão corriqueira.

Não há mal em pintar os cabelos, a não ser pelo efeito dos produtos químicos que não conhecemos. O mal está em se sentir forçada a fazer isso mesmo que não queira, ou seja, até nos cabelos, o corpo da mulher é controlado pelo que a sociedade considera mais adequado. 

O que dizer então do útero, os seios, a genitália e o cérebro das mulheres que são controlados pela sociedade? O útero da mulher e sua genitália são controlados com a disseminação da idéia de que mulheres devem procriar filhos para a continuidade da espécie humana e se tornarem boas mãe e esposas. Não há nada de mal nisso desde que a mulher assim o deseje. No entanto, se ela desejar não ser mãe e nem esposa, ela deve ser respeitada por sua escolha. 

A mulher deve ter o direito de escolher o que deseja para sua vida e não ficar subordinada ao que a sociedade deseja o que ela faça. A regra é simples: se ela está feliz com sua escolha, está tudo certo, nos moldes do filme “O sorriso de Monalisa”, o qual sugiro assistirem.

O medo de que a mulher conheça e controle seu corpo, assusta o mundo machista pois temem que a mulher possa se masturbar e ter prazer sem a necessidade de um parceiro ou que a mulher possa vivenciar o “sexo sem amor”, ou não queria ter filhos, entre outras situações que são permitidas apenas aos homens. 

Ainda na atualidade mesmo quando homens e mulheres tem o mesmo comportamento em relação à sexualidade, são tratados de forma diferenciada. A mulher que sai com todos é tratada de “galinha ou puta”. Por sua vez, o homem que sai com todas, é visto como “garanhão”.  Não vamos discutir aqui se o comportamento é certo ou errado. O que chama a atenção é que o mesmo comportamento realizado por parte de dois seres humanos, um homem e uma mulher, são tratados de forma completamente diferente pela sociedade.

Por fim, tomo a liberdade de sugerir uma leitura: “0 MITO DA BELEZA: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Tradução: Waldea Barcellos. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1992”. A autora nos leva a reflexão da contradição entre o protagonismo alcançado pelas mulheres em contraposição ao padrão estipulado pela sociedade de juventude e beleza, o qual aprisiona as mulheres. Vale a pena a leitura.

Não encerramos a reflexão sobre As Armadilhas do Machismo. Vamos escrever mais uma Parte 3 na qual trataremos sobre o controle da sociedade machista nos cérebros das mulheres. Enfim criamos uma trilogia: As Armadilhas do Machismo. Na Parte I, foram tratados aspectos públicos da vida da mulher, no mundo do trabalho, na política e sobre a violência. Na Parte II focamos sobre o controle sobre nossos corpos em uma visão mais particular ligada ao mito da beleza e da juventude. Essa reflexão nos levou a dar destaque a uma parte do nosso corpo, que muitas vezes, é vista como separada, tanto que daremos um destaque a ela e vamos abrir uma reflexão em “Armadilhas do Machismo: Parte 3 – o controle sobre o cérebro das mulheres”.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Câmara de Vereadores de Maringá homenageia o Conselho da Mulher

"Receber o Brasão do Municipio de Maringá fortalece a caminhada e a história do Conselho da Mulher, nos anima a luta e aumenta nossa responsabilidade em defesa das politicas publicas para mulheres. Parabéns conselheiras!!! Que sejamos sempre fortalecidas no cumprimento da finalidade do Conselho da Mulher de assegurar á mulher a participação e o conhecimento de seus direitos como cidadã." 11/04/2019 (Tania Tait).

A homenagem foi indicação dos vereadores Carlos Mariucci, Mario Verri, Sidnei Telles e Onivaldo Barris. A cerimonia foi realizada no dia 11 de abril e foram homenageadas com mérito comunitário as ex-presidentes do Conselho da Mulher. Recebi o mérito comunitário e o brasão do município por ser a atual presidente.


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segunda-feira, 1 de abril de 2019

As armadilhas do machismo


Num período em que o feminismo vem sendo atacado, tanto por homens como por mulheres, com informações distorcidas e maldosas, cabe uma reflexão sobre o papel do machismo em nossas vidas.
Começamos afirmando que o feminismo não é o contrário do machismo pois o feminismo não quer oprimir ninguém, quer apenas igualdade de direitos, o compartilhamento das tarefas domésticas e o direito da mulher ao próprio corpo. No entanto, essas reivindicações não são aceitas de forma tão simples pela sociedade conservadora que para combate-las faz uso de artifícios que encantam as próprias mulheres.  Chamaremos esses artifícios de “armadilhas do machismo”.

Tudo começa na infância com a suposta proteção às meninas, o que as impede de explorar a rua e o mundo como os meninos. Mesmo que a exploração seja dentro de casa, no uso de computadores e celulares, quando, por exemplo, o computador fica no quarto do menino para que ele passe horas a fio em jogos de computador e nas redes sociais. Não vamos discutir se o comportamento de trancafiar no quarto é correto ou não, isso fica para a psicologia. O que nos chama a atenção é a diferença na própria disposição do equipamento, cuja responsabilidade fica a cargos dos meninos.

As festinhas de aniversário são outro exemplo. Se uma menina pedir uma festa com o tema de carros, vingadores ou dinossauros vai assustar a família. O contrário, também, imagina se um menino pedir a festa com tema Mulher Maravilha? Será um escândalo. Na infância de antigamente, quando tinha festa de aniversário, era bolo com refrigerante e ponto final. Nos parece que o mercado consumidor conquistou o público ao fortalecer as supostas  diferenças de gênero. Segundo a professora Eliane Maio, em um palestra, o próprio colocar de brincos na criança reproduz a visão de gênero. No bebê menina colocam o brinco logo que nasce pra não ser confundida com menino. O menino pode decidir no futuro se quiser usar brinco ou não.

Depois vamos entrando na vida adolescente e vemos, em grande parte dos lares, que as meninas assumem as tarefas de lavar louça e fazer comida enquanto os meninos continuam passando seu tempo em computadores, por exemplo. Na escola, os meninos correm e jogam futebol no pátio enquanto as meninas fazem outras atividades mais comportadas.

Na vida adulta, as mulheres realizam as atividades do mercado de trabalho e as atividades domésticas, sendo cobradas em todas elas, para serem perfeitas, como se fosse uma espécie de “castigo” por querem os mesmo direitos e obrigações dos homens. Aliás, direitos e obrigações entre mulheres e homens garantidos na Constituição Brasileira de 1988. Certamente, as mulheres padecem muito mais de assédio sexual e moral no local de trabalho do que os homens, além delas receberem os menores salários. Para a mulher negra, a situação é pior ainda pois entram no mercado precocemente, ocupam mais as atividades do trabalho doméstico, são discriminadas e maltratadas.

Ao crescer, as meninas e mulheres começam a descobrir o amor. O amor que deveria libertar, ser um sentimento que fizesse as pessoas crescerem como ser humano e dar o melhor de si, torna-se, em muitos casos, uma prisão.  Dessa forma, uma armadilha feroz do machismo configura-se no chamado “amor romântico”, no qual a mulher envolvida pelo sentimento, não se apercebe dos sinais de violência no relacionamento, os quais começam como menosprezo, proibição de fazer coisas que ela gosta ou afastamento da família e amigos. Muitas mulheres, inclusive, não realizam boletins de ocorrência das violências emocionais, psicológicas ou morais sofridas por incorporarem essas violências como algo natural e corriqueiro nos relacionamentos, mesmo que a Lei Maria da Penha tipifique esses tipos de violência como crime.

Toda mulher, em algum momento da sua vida, ouviu um “pára de falar, você não entende disso” ou “isso é conversa de homem”;  levou uma passada de mão, sem desejar, em algum lugar do corpo, inclusive andando na rua; foi “cantada”  de uma maneira  que a incomodou; foi demitida ou não arrumou emprego por ser mulher; foi desprestigiada, mesmo sendo mais qualificada ou preparada;  enfim existe uma série de situações pelas quais as mulheres passam e que fazem parte do universo feminino quase que como natural. Mas, não é natural. Tudo aquilo que faz as mulheres sofrerem por sua condição de ser mulher  é fruto de uma sociedade conservadora e machista que aprisiona as mulheres e as impede de ser e estar onde elas desejarem.

Uma outra armadilha bastante camuflada e incorporada na vida das mulheres é de que as mulheres competem entre si, como se o homem fosse um troféu a ser conquistado e a mulher que obtem o noivo ou marido é uma felizarda diante das demais mulheres. Colocaram essa história de competição entre as mulheres em nossas cabeças para fortalecer o machismo que prega a todo instante que as mulheres não são unidas, nem votam em mulheres etc.

No mundo do trabalho e na política, as armadilhas do machismo são gritantes. Mesmo mais qualificadas, as mulheres não relegadas em promoções, recebem até 30% a menos do salários do homens, na mesma função e sofrem mais assédio moral e sexual. 

Na política, a despeito  dos 30% de cotas para candidaturas, muitas mulheres são usadas como candidatas laranjas para receber o recurso do fundo partidário. A maioria das mulheres eleitas é por herança familiar de um homem político conhecido. A cota, por sua vez, deveria ser paritária afinal as mulheres são 52% da população brasileira.

Nem sempre é fácil identificar as armadilhas do machismo pois a proteção às mulheres e o cavalheirismo estão sempre nos discursos e atitudes. Abrir uma porta do carro para uma mulher pode ser realmente uma gentileza por parte do homem, mas ele pode, também, querer mostrar que você precisa de uma figura masculina até pra abrir uma porta.

Os tempos atuais de informação rápida e em tempo real trazem mais oportunidades para as mulheres, no entanto, percebe-se que uma parcela da sociedade quer dar uma guinada em direção ao século retrasado e ignorar a contribuição dada pelas mulheres, ora dentro do lar ora na vida pública. 

Não se pode permitir retrocessos! O feminismo atua para que as mulheres tenham o direito de escolha e sejam felizes. Parceiros na vida e por um mundo melhor, mulheres e homens tem muito a contribuir, de forma equilibrada e igualitária, respeitando os direitos e a liberdade.

sexta-feira, 29 de março de 2019

O que a mulher trabalhadora tem a ver com o feminismo?


O feminismo é considerado pelos historiadores como a maior revolução de todos os tempos, pois modificou as estruturas sociais, sem o uso de armas e derramamento de sangue. O feminismo não é o contrário do machismo.  O machismo mata e exclui as mulheres do direito à vida enquanto o feminismo procura salvar a vida das mulheres. 

 As mulheres começaram sua luta por melhores condições de trabalho para si e para as crianças no período da Revolução Industrial na qual trabalhavam sem condições adequadas e com carga horária excessiva. Essa luta levou as mulheres, também, a busca pelo direito ao voto, conquistado há tempos pelos homens. 

Em diversos países, no início do século XX, a luta pelo direito ao voto e participação da vida política levou as mulheres ao conhecimento de sua situação na sociedade enquanto trabalhadoras, mães ou esposas, as quais sofriam violência e discriminação de toda ordem.  

Após a conquista do direito ao voto, a vida das mulheres continuou marcada por repressões. A percepção da violência contra a mulher, tanto no ambiente público como privado, mascarado pelo ditado familiar que lugar de mulher é no lar, como boas mães e esposas, começa a fazer parte da luta feminista, que é, na sua essência, a luta pelos direitos das mulheres, com afirmação de que lugar de mulher é onde ela quiser. 

Dessa forma, nos anos 1960, a luta pela igualdade de direitos entre mulheres e homens e pelo fim da violência contra a mulher tomam conta do cenário mundial. Idéias como “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” ou “matou em defesa da honra” utilizadas arbitrariamente em defesa de homens agressores e assassinos, começam a ser desmanchadas pelas mulheres que clamam por justiça.

Conquistas relevantes foram acrescentadas às lutas pelos direitos das mulheres no mundo todo, os quais englobam aspectos da vida privada e pública, no mundo do trabalho e na política, na saúde integral, nos direitos reprodutivos e sexuais e direito ao próprio corpo, na geração de emprego e renda, no meio ambiente, entre outros. O slogan “se nossos corpos não importam, que produzam sem nós” traduz essa integração em todos os aspectos da vida da mulher, como cidadãs e mulheres trabalhadoras.

No Brasil, em especial, um dos países mais violentos com suas mulheres, leis promulgadas no mundo do trabalho como proibir salários diferenciados entre mulheres e homens, aposentadoria para donas de casa, proibir assédio moral e sexual, entre outras, contribui para o empoderamento e a autonomia das mulheres. Destacam-se, também, leis importantes como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio (promulgadas nos governos Lula e Dilma, respectivamente) como aliadas aos direitos das mulheres no combate à violência contra a mulher. 
 Foto: Walter Bapstitoni. Evento no Sismmar.

A defesa dos direitos das mulheres tem como base a Constituição Federal Brasileira, de 1988, que rege que em seu artigo 5., Inciso I: “mulheres e homens são iguais em direitos e obrigações”, o qual, finalmente, coloca as mulheres como protagonistas da própria história.

                                                  Ato contra a Reforma da Previdência, em Maringá, no dia 22/03/2019. 
                                                  Foto: Walter Bapstitoni.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Patriotismo versus Submissão: contradições do “novo” Brasil


Nos anos 1970, no ritmo sinistro do governo da ditadura militar pairava no ar, a tutela dos EUA sobre o Brasil marcada desde grandes ações como a venda de nossos produtos in natura por preços irrisórios ou controle das ações e torturas em militantes contra o governo militar até ações do cotidiano como a influência musical, religiosa e o uso de vestimentas no estilo estadunidense. Nunca foi segredo que a polícia política brasileira aprendeu e recebeu treinamento de militares estadounidenses para o combate aos que se insurgiam contra o governo militar no período de 1964 a 1985.
Por outro lado, havia um nacionalismo traduzido ao som do poema de Gonçalves Dias “Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá...”, em músicas e propaganda governamental como “Eu te amo meu Brasil, eu te amo” ou “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Proibia-se o uso da bandeira brasileira e de suas estampas em camisetas mas se permitia o uso de estampas da bandeira dos EUA.
Dessa forma, ao mesmo tempo em que se exaltava o sentimento de patriotismo, havia uma submissão escancarada ao poderio norte americano. O Brasil seguia, assim, sua tradição de colônia de Portugal, de submissão à Inglaterra e posteriormente aos EUA.
Notório, portanto, em nossa história, traços desse colonialismo, num país que teve sua primeira universidade criada apenas em 1808, a Escola de Cirurgia da Bahia, considerada a primeira instituição de ensino superior. Depois vieram as faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda, em 1827. Apenas no início do século XX, foram criadas, oficialmente as universidades brasileiras.
Em diversos governos na República, o nacionalismo ressurge em consonância com a submissão aos interesses do mercado internacional. No Governo Fernando Henrique Cardoso, em que pese a criação do Plano Real e o controle inflacionário no país, continuou-se com a mesma política de atendimento aos interesses do Fundo Monetário Internacional (FMI) em detrimento das condições de vida do povo brasileiro.
A própria América Latina se ressentia da falta de liderança por enxergar no Brasil uma voz forte do continente diante do mundo pela sua grandeza e por suas riquezas. No entanto, o país gigante do continente latino americano se subjugava, de forma estonteante, aos interesses internacionais dos países do primeiro mundo.
Com o governo Lula, a história se modificou, o Brasil se tornou porta voz dos países em desenvolvimento e passou a figurar como liderança no cenário internacional. Um governo que promulgava a aliança com outros países, se mostrou mais nacionalista no sentido de soberania do seu país dos que os governos anteriores que se diziam nacionalistas mas não exerciam a soberania.
A construção da soberania colocou o país em igualdade de negociação com outros países e, por um período ocorreu uma interrupção na submissão aos interesses do famigerado FMI, quando houve crescimento em termos de soberania e economia, segundo dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Assim, a América Latina, finalmente, conseguiu que seu maior país se colocasse de pé e em negociação com igualdade com os países mais poderosos do mundo. Por sua vez, a criação dos BRICs (Brasil, Russia, India e China) colocou uma nova ordem na economia mundial.
Após o governo Dilma que manteve o Brasil como expoente e soberano, o país se vê as voltas, como num “Deja Vu”, no qual se coloca, novamente, os EUA como protagonista e mandatário nos interesses nacionais.
O lema da campanha do presidente eleito, que bateu continência para a bandeira norte americana, contraditoriamente, dizia “Brasil acima de tudo” numa demonstração de nacionalismo exacerbado com uso das cores da bandeira brasileira, em camisetas, adesivos e na campanha eleitoral, de modo geral.
No entanto, as medidas unilateriais por parte do governo que beneficiam os EUA, sem contrapartida ao Brasil, traz à tona a dicotomia vivida no período da ditadura militar, em que o nacionalismo e o amor ao Brasil se tornou uma falácia diante do poderio estadounidense e sua influência em todos os setores da economia e da sociedade brasileira de modo geral.
A apropriação da Base Militar de Alcantara por parte dos EUA, a entrega do pré-sal e a retirada do visto para visitantes norte americanos, os comunicados do governo, entre outras ações confirmam a submissão brasileira aos interesses dos EUA e a entrega do país, de forma assombrosa.
Portanto, a submissão aos interesses dos EUA torna-se intrigante, na medida em que ela parte da política, mas chega ao cotidiano e as casas de muitos brasileiros e muitas brasileiras, que por mais que saibam cantar o Hino Nacional, por mais que valorizem as cores do Brasil e se autodenominam “nacionalistas e patriotas”, se encantam com o “american way of life “.
O modo de vida norte americano, com sua religiosidade, suas músicas e costumes entraram na vida brasileira e, até hoje, influenciam a existência dos brasileiros. Até a perversidade de ataques em escolas, igrejas e outros locais públicos, outrora outorgado aos sobreviventes atormentados da Guerra do Vietnã, passa a fazer parte da vida brasileira. Também, não é a toa, que inúmeros brasileiros, tentam a vida no país da Disney e de Hollywood, pois a sociedade brasileira é impregnada desses valores consumistas e de deslumbramento.
Mistura-se, dessa forma, no cenário brasileiro, as contradições de soberania, nacionalismo e submissão. A conta dessa contradição toda, sempre é paga, no final das contas, pelo povo brasileiro.