O pé de jabuticaba deve
ter uns 30 anos de existência no meu quintal. Tornou-se um símbolo familiar no
qual as minhas filhas e eu subíamos pra pegar jabuticabas e comíamos a fruta
direto do pé.
Lembro até que meu pai havia
colocado uma tábua no meio do tronco pra facilitar nossa subida na árvore. Meu pai
se tornou mais um anjo pra continuar nos protegendo, a tábua ficou velha e
pequena para a árvore, as meninas se tornaram mães e agora meus netos também
saboreiam a jabuticaba da mesma árvore.
Dias atrás, como faz de
tempos em tempo, a jabuticabeira nos brindou com muitos frutos. Não resisti a
beleza de tantas bolinhas na árvore, a fotografei e fiz uma postagem com uma
frase simples: “Natureza generosa”. Daí veio minha surpresa por tantas curtidas
e comentários a respeito das jabuticabas.
As fotos despertaram
variados sentimentos, sempre muito bons, explicitados nos comentários. Percebi
que nossa jabuticabeira chamou mais a atenção na rede social digital do que
postagens políticas ou sociais, do que textos sobre reflexão a respeito da
falácia e desumanidade do governo federal atual ou da pandemia do coronavírus.
Isso me leva a pensar no
cansaço que a maioria das pessoas se encontra a ponto de algo tão simples como
um pé de jabuticaba trazer à tona sentimentos ora esquecidos como a
simplicidade da vida, o poder de andar sem amarras pra não se contaminar e nem
contaminar outras pessoas, as reuniões de família e amigos, as festas, entre
tantas atividades prazerosas suspensas no aguardo de uma vacina. Uma vacina que possa nos trazer de volta a
vida que conhecíamos antes, se isso for possível.
Penso que o pé de
jabuticaba trouxe lembranças de cores, sabores e movimentos. Não é apenas pelo
doce da jabuticaba. Não é apenas um pé de jabuticaba. Talvez seja a sensação de
vida que tem nos escapado.
Fiquei com vontade de colocar
jabuticabas em vários saquinhos e distribuir para as pessoas, mas, aí a
realidade apareceu na forma de 103 novos casos de pessoas contaminadas na minha
cidade, o que segurou minha vontade.
Fica para a próxima
colheita, que esperamos seja doce como a jabuticaba. Que a vida volte a nos
sorrir, como seu ciclo de flores e frutos, com a jornada no seu tempo sem
precipitação ou interrupção antes de ser saboreada, apenas no seu tempo.
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