A promulgação da Lei
Maria da Penha, em 07 de agosto de 2006, pelo presidente Lula, desencadeou, ao
longo dos anos, ações para marcar o mês de agosto com prevenção e combate à
violência contra a mulher, chamado “Agosto Lilás”. Tanto por parte das prefeituras
como das entidades da sociedade civil, são realizados palestras, debates, rodas
de conversa, ente outras ações, durante o período.
Agora, o mês de agosto terminou.
Entretanto, o número de
feminicídios, as agressões contra as mulheres, em todos os níveis crescem a
cada dia. Além da crueldade da violência doméstica, ataques desferidos às mulheres
são constantes, também, na política e nos espaços de poder.
A palavra misoginia, que
significa “ódio ou aversão às mulheres” passou a fazer parte do cenário
nacional, infelizmente, propagada por uma autoridade eleita que deveria
respeitar a Constituição Brasileira que prega em seu artigo 5, a igualdade entre mulheres e homens, em direitos
e obrigações.
Não se pode admitir
comentários e ataques realizados pelo atual presidente da república, que
escolhe jornalistas e adversárias políticas, de um modo geral, para ofensas,
calúnia e difamação.
Na prática, ao ofender
uma mulher, ele está reforçando as frases que disse a longo de sua vida
pública, registradas pela imprensa e em vídeos. Frases ditas por ele, tais como:
você é tão feia que nem merece ser estuprada; não contraria mulher porque
mulher engravida; meus filhos foram bem educados e não casariam com uma negra;
na quinta dei uma fraquejada e veio uma menina...entre tantas mostram o lado
misógino, preconceituoso, racista e machista daquele que deveria servir de
exemplo para o povo.
Quando sua equipe, na
análise dos dados detectou que as mulheres, em sua maioria não votam nele, a
estratégia de campanha eleitoral foi modificada e a esposa dele foi colocada para falar às
mulheres, principalmente para as evangélicas. Para quem não sabe, pesquisa
recente mostrou que 40% das mulheres que sofrem violência doméstica são evangélicas, com a conivência
de certos pastores que ao invés de incentiva-las a sair do relacionamento
abusivo e denunciar o agressor, as manda orar, em nome da manutenção da
família. Enquanto isso, o agressor continua vivendo em sua saga de violência causando
danos irreversíveis em sua mulher e filhos.
A atenção precisa ser
redobrada e compreender que as frases ditas pelo presidente se transformaram,
sem seu governo, em cortes de verbas para o combate à violência contra a
mulher, mesmo durante uma pandemia em que as mulheres foram as mais penalizadas
e quando aumentou, ainda mais, os índices de violência. Frase como “você é tão
feia que nem merece ser estuprada” indicam, por ele, que o estupro é “uma coisa
boa” (sic), reforçando a cultura do estupro existente no país. Cultura essa que
violenta, em sua maioria, meninas com menos de 13 anos, estupradas no seio de seus
lares ou escolas ou em grupos de amigos que, por princípio, as deviam proteger.
Ao falar que “não contrataria
mulher porque engravida e merece ganhar menos por isso”, ele reforça a
discriminação contra as mulheres no local de trabalho, justificando o desnível
salarial que, inclusive, fere a lei brasileira de igualdade de salários no
exercício da mesma função.
“Ensinar seus filhos a
não casar com mulher negra”, reforça todo seu preconceito contra o qual o
movimento feminista e o movimento negro vem lutando por décadas para empoderar
e fortalecer a presença e atuação das mulheres negras.
E, entre tantos absurdos,
afirmar que a própria filha é resultado de uma “fraquejada” incentiva a
tratarem as mulheres como serem inferiores. Diga-se de passagem que risadas
foram ouvidas quando ele disse isso para um público repleto de homens.
Nós, mulheres, não
podemos permitir que um governante nos trate de forma a desqualificar nossas vidas.
Não podemos permitir que
o ódio às mulheres de um presidente estimule outros homens e mulheres (é uma
pena, mas elas existem) a agirem da mesma forma que ele.
As mulheres já padecem
pela violência doméstica, não podemos permitir mais essa violência e esse mau
exemplo vindos de quem quer que seja, mesmo que seja uma autoridade eleita.
Por fim, tenho certeza
que as brasileiras, de qualquer tipo, de qualquer raça, etnia, cor, religião ou
ideologia política merecem todo respeito.
Precisamos começar a agir
em nosso cotidiano. Também, períodos especiais como os eleitorais podem significar
a continuidade da violência ou o seu rompimento, a partir de políticas públicas
verdadeiras e com orçamento condizente para a resolução dos problemas.
Ao serem 53% das
eleitoras, está nas mãos das mulheres por um ponto final nesse período de
misoginia.
A primeira oportunidade
de fechar esse ciclo está no primeiro turno das eleições 2022. Vamos prestar muita
atenção.
Como não sou de meias
palavras ou indiretas, afirmo com clareza, vamos trazer de volta aquele que
promulgou a lei Maria da Penha e fez políticas públicas para mulheres, com muito respeito: Lula
Presidente.