Meu pai, Angelo Tait, foi fazer
companhia para meus avós e meus tios faz 15 anos. Ele continua presente em nossas vidas, em
todo instante, nas músicas sertanejas que gostava, na costela que preparava
como ninguém, nos seus inúmeros e valiosos conselhos e comentários. Comentários
como “nunca desista dos filhos, são nossos tesouros” ou “mulher autônoma não
aguenta homem ruim” eram recorrentes.
Sabia ser bravo, mas sabia ser
muito carinhoso. O orgulho que possuía dos filhos era visível, afinal os três
realizaram o sonho dos pais de ter seus filhos formados.
O “Angelim” da minha vó Marianna
era daqueles que atravessava a cidade a pé pra levar pra sua mãe um maço de almeirão
que plantara em sua hortinha. Ele era feliz.
Quando éramos crianças, sabíamos
quando ele estava chegando pelo barulho do caminhão e nunca errávamos.
Lembro de dois episódios que
mostravam a situação da época, seu espírito empreendedor e inteligência para
criar coisas com as ferramentas que dispunha.
Quando o meu avô materno vendeu o
sítio, meu pai pediu algumas ferramentas, entre eles o moedor de cana que
trouxe pra casa. Tomamos muita garapa feita por ele. Ah! Hoje em dia, o nome é
caldo de cana...coisas da modernidade.
Meu pai nunca gostou de ser empregado
e ficar preso nas amarras das empresas. Ele dizia que trabalhava como “um
camelo”, mas prezava sua liberdade. Gostava dos caminhões e das viagens. Uma
vez ele quis comprar um caminhão Scania (desses enormes que antigamente chamava
jamanta). Nossa família tirou essa compra da cabeça dele pois eram prestações
enormes.
Quando chegava de viagem ele
inventava uma armadilha pra ladrão de caminhão. Tirava a bateria do caminhão e
fazia um cambalacho do motor com fiação pra dentro de casa, que se alguém mexesse
no caminhão, caía a tralha dentro de casa e ele acordaria. Não me lembro se
isso aconteceu alguma vez de ladrão mexer no caminhão, mas me lembro da
engenhoca.
Teve período de criação de
frangos e de coelhos em casa para subsistência. A criação de coelhos o deixou
meio frustrado porque nós brincávamos com os coelhos e ficamos com dó de comer
os bichinhos.
A primeira vez que morreu a mãe
de um amigo meu, eu cheguei em casa chocada e ele me disse: “é assim mesmo, as
gerações vão acabando, daqui a pouco chega a nossa vez”.
Aos 52 anos teve seu primeiro
infarto. O outro foi aos 72 anos quando ele foi embora para ficar juntos dos meus
avós.
No primeiro infarto, a
preocupação maior dele era com a minha irmã caçula, temporona e xodozinho que
nasceu quando ele tinha 45 anos de idade.
No segundo infarto, a alegria
dele era saber que os filhos e netos estavam bem.
Não conheceu a última neta que
nasceu muito tempo depois e nem seus bisnetos que levam seu sobrenome como uma homenagem
que as netas fizeram ao “vô Careca”.
Sinto uma saudade imensa
combinada com uma alegria na mesma proporção por ter tido um pai amigo, parceiro
e companheiro.
Ás vezes, me pego conversando com
ele e comentando algum episódio, como esse agora dos tempos em que vivemos. Sei
que ele ia sorrir e falar: “as vezes os governantes fazem guerras pra deixar
morrer muita gente pra eles economizarem e continuar no poder”.
Feliz aniversário de 87 anos, pai.
Comemora muito aí no canto dos anjos.