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domingo, 11 de junho de 2023

Tributo às mulheres pioneiras: “Garrei a imaginá” na Academia de Letras de Maringá

Numa manhã ensolarada em 1990, durante a inauguração de nome de rua do meu avô Pioneiro Antônio Tait, observei minha avó Marianna (chamada de D. Maria), que permanecia imóvel com os olhos marejados de lágrimas. Naquele exato instante, passei a refletir sobre as mulheres que acompanharam seus pais ou maridos numa terra nova e agreste em um período no qual não se falava em feminismo nem em participação da mulher na sociedade. Quem eram elas? O que pensavam? Como eram suas vidas? Como se sentiam nessa nova terra? Foram dúvidas que me assaltaram naquele momento.

Passei a pesquisar sobre as pioneiras, embalada, ao mesmo tempo por ser bisneta, neta e filha de pioneiras e ativista em direitos das mulheres. O resultado da pesquisa está publicado com o título: "As excluídas da história: o olhar feminino sobre a formação de Maringá", no livro Maringá e o Norte do Paraná organizado pelos professores José Henrique Rollo e Reginaldo Benedito Dias, pela Eduem, em 1999, com reimpressão em 2006 e em 2020.

A pesquisa foi realizada no ano de 1996 e não havia no município de Maringá a narrativa da história da formação da cidade sob o olhar das mulheres, assim fomos em busca do olhar feminino sobre a construção de Maringá. Para essa pesquisa contamos, também, com o apoio do Patrimônio Histórico da Prefeitura de Maringá. 

Chamou a atenção, nas entrevistas para a pesquisa, o amor e o carinho que as mulheres pioneiras sentem pela cidade como uma forma de pertencimento a um local que viram crescer a partir da mata e se transformar em uma cidade com qualidade de vida reconhecida no país.

Excluídas do processo de tomada de decisão e de presença nos espaços de poder político, as mulheres na história de Maringá trazem a narrativa de sua presença marcada por fatos como a preocupação de criar os filhos em uma terra agreste e repleta de jagunços, a insegurança em relação ao futuro, a lavagem das roupas no rio, a moagem do café, a roupa empoeirada no varal, as passeatas e as brigas dos políticos, os bailes no Hotel Bandeirantes, entre outros elementos que nos conduzem ao modo de vida no início da cidade de Maringá.

Finalmente, as mulheres pioneiras são sempre lembradas, homenageadas como nomes de ruas, nomes de escola, em desfiles do aniversário da cidade e em pesquisas científicas sobre sua presença na formação da cidade. 

Lembro muito emocionada quando a minha avó Marianna Spinelli Tait foi homenageada pela Secretaria da Mulher em desfile da cidade e tanto ela como a vó Angela Bulla Calvi foram homenageadas como nomes de ruas.  Lembro da Dona Augusta Gravena me contando como era a diferença em criar os filhos no sítio e na cidade, da Dona Lucia Vilella Pedras me falando dos livros que pediu ao pai quando veio para cá e do barro vermelho, da professora Odete Alcantara Rosa me mostrando suas fotos organizadas em álbuns e me falando da vida na cidade, da vó Angela me contando que as mulheres eram trazidas pelos maridos ou familiares sem nem saber o que encontrar, da vó Marianna me dizendo da poeira e da solidariedade entre as pessoas, entre tantas histórias.

Algumas das entrevistadas na pesquisa faleceram enquanto outras estão recolhidas aos seus lares, no entanto, suas contribuições para a história da cidade permanecem, completando dessa forma o cenário em que a cidade foi construída, com a visão das mulheres, seus anseios e angústias.

Nas entrevistas, muitas vezes eu me emocionava com elas, afinal elas abriram as portas de suas casas e de suas vidas e, puderam, finalmente, revelar o seu olhar sobre a construção de Maringá, perpetuando sua narrativa na história da cidade que contribuíram para nascer, crescer e se tornar a cidade que é.

Sinto alegria e emoção por ter conhecido essas mulheres e sua força, seus medos, sua esperança e seu amor pela cidade que construíram junto aos seus. Me sinto comprometida com elas e suas histórias.

Finalmente, “pra nunca se esquecesse”, me sinto feliz quando passeio pelas ruas da cidade de Maringá e encontro nomes de rua começando com “Rua Pioneira...”. 

Sorrio e penso: “elas merecem!!!”.

 Esta crônica foi apresentada por mim na reunião da Academia de Letras de Maringá, no dia 04 de junho de 2023, a convite da poetisa Railda Masson e da escritora Eliana Palma.

 Uma versão desta crônica com o título: “Tributo às mulheres pioneiras”  foi publicada em 10 de maio de 2019, como homenagem às pioneiras por ocasião do aniversário de Maringá.

“Garrei a imaginá” e “Pra que nunca se esquecesse” são frases da Música Maringá, do compositor Joubert de Carvalho, de 1932. Essas e outras frases da música  foram utilizadas como títulos no artigo “As excluídas da história: o olhar feminino sobre a formação de Maringá” publicado no livro Maringá e o Norte do Paraná. 


 


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