A pesquisa que realizei sobre um grupo de candidatas
às eleições 2020 advindas de diferentes partidos políticos e ideologias
distintas trouxe à tona alguns pontos que chamaram a atenção: a pluralidade de
ideologias no agrupamento, a coesão do grupo,
a defesa e as ações para a presença feminina na política e o espírito de união
diante dos ataques sofridos pelas candidatas com apoio de instituições e com
formação para o enfrentamento às adversidades na política e o incentivo ao
empoderamento e protagonismo das mulheres.
No entanto, mesmo diante desses elementos
que são considerados extremamente positivos, alguns pontos se destacam no grupo
pesquisado: a recusa em se enxergar e ser vista como feminista por parte de
algumas candidatas, a falta de conhecimento da história das mulheres desde a
atuação das pioneiras, as vereadoras, as ativistas sociais e os movimentos sociais
existentes e a falta de conhecimentos das estruturas de políticas públicas tais
como o Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres e a Secretaria Municipal de
Políticas Públicas para Mulheres. Inclusive, muitas desconhecem o próprio termo
“políticas públicas”.
Neste sentido, muitas indagações surgem
com relação à participação feminina na política:
como as eleitas irão atuar no cenário político
institucional se não se prepararam para as demandas que se avizinham?
Como as eleitas irão reconhecer a
necessidade de políticas públicas para mulheres?
Como as eleitas enxergarão as políticas de
direitos e assistência social se não conhecem as estruturas que levam às
pessoas à miséria e à pobreza?
Como as eleitas atuarão na saúde da mulher
se não conhecem a dinâmica social e patriarcal de controle dos corpos e das
mentes das mulheres?
Como as eleitas irão atuar na área de
desenvolvimento sustentável sem considerar a igualdade de gênero que faz parte
dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável?
E tantos outros questionamentos que
surgirão na caminhada, cujos temas fazem parte da agenda feminista, tais como:
a saúde integral a mulher, os direitos reprodutivos, o combate sistemático ao
feminicídio e à violência contra a mulher, a garantia do aborto legal e a
descriminalização do aborto, a igualdade salarial entre mulheres e homens, o
controle da sociedade sobre seus corpos, a luta contra o casamento infantil e
contra a mutilação genital, o protagonismo e o empoderamento feminino bem como
as peculiaridades de cada local e região.
A todo momento surgem discussões a
respeito desses e outros temas que demandam políticas públicas e legislação
para garantir os direitos das mulheres.
Portanto, para enfrentar os desafios e
estar realmente à serviço, faz-se necessário o conhecimento das estruturas que
causam tantas mazelas em nossa sociedade, as quais contribuem para a violência
contra a mulher tanto no mundo doméstico, como no trabalho ou na vida pública;
as quais incentivam o feminicídio; o machismo, o racismo, a homofobia e a
transfobia que matam e impedem as pessoas a terem uma vida digna e feliz.
Além das políticas públicas, do
conhecimento do orçamento público e outras ações inerentes à função pública, as
candidatas e as eleitas, de qualquer ideologia, precisam estar atentas para não
serem engolidas pelo sistema e entrar no coro masculino que engessa a política
e as torna invisíveis.
As mulheres precisam, sim, conhecer mais
sobre o feminismo e compreender a importância do movimento feminista na busca
da igualdade e liberdade.
As mulheres, precisam, urgente, deixar de
sentir vergonha de se assumirem como feministas e irem à luta, pela dignidade,
protagonismo, empoderamento e liberdade.
Vamos valorizar a luta das nossas
antepassadas pelos direitos, muitas das quais perderam a vida para que pudéssemos
estar em qualquer lugar e sermos o que quisermos ser.