Para compartilhar idéias!







quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

“Vamo bagaça, Lula!”

Assisti à cerimônia de posse do Presidente Lula em Sorocaba na casa de familiares, me emocionei com cada detalhe e cada fala. Talvez imbuída pelo sentimento militante de que o Brasil estava voltando nos eixos, eu esqueci,  por alguns momentos, do fascismo que assolou nosso país e continua fazendo parte do nosso cotidiano. Sabíamos que a reação estava se articulando, pois os que não aceitaram o resultado das eleições ainda estavam acampados na frente dos quartéis. No entanto, a realidade veio contundente, no dia 08 de janeiro, com os atos golpistas e vandalismo perpetrados por apoiadores do ex-presidente que não respeitam a democracia nem o direito da maioria que elegeu o presidente Lula. A reação do governo e do STF, também foi à altura, com prisões, exonerações etc daqueles que facilitaram, apoiaram e realizaram a depredação e roubo do patrimônio público num ataque frontal à democracia.

Mas antes desse triste episódio, no dia da posse, relembrei do nosso tempo de governo municipal e sonhei com o Zé Cláudio. Talvez embalada pela emoção de ver o povo brasileiro subindo a rampa do Planalto, o fato é que acordei com um misto de tristeza e alegria. Pra quem não conheceu, o Zé Cláudio (José Cláudio Pereira Neto) foi prefeito de Maringá pelo Partido dos Trabalhadores (PT), na gestão 2001-2004, chamada Governo Popular. Vitimado por um câncer, ele faleceu no meio do mandato, gerando comoção na cidade.

“Mesmo partindo antes do combinado” como dizia Boldrin, Zé Cláudio deixou sua marca na história e na política maringaense, por sua simplicidade, firmeza e por colocar emoção em tudo que fazia. Famoso por sua cara carrancuda, Zé era dono de um coração gigante que apoiava as lutas dos movimentos sociais se integrando a eles. Foi assim que o vimos cozinhando junto com o Jadilso Salesse (companheiro que a Covid levou) num encontro de mulheres, segundo ele pra apoiar na prática, também respeitando as discussões e os encaminhamentos do encontro.

Foi em seu governo, a criação da Assessoria da Mulher, da Igualdade Racial e da Juventude, reivindicações históricas dos agrupamentos e do PT; em seu governo  um jovem agrônomo negro ligado ao MST (Elson Borges, o Zumbi, falecido em 2020) assumiu a secretaria de agricultura; teve o orçamento participativo; a tecnologia na área de saúde; a integração das políticas sociais em rede; a discussão para formação da Guarda Municipal; entre tantas ações que marcaram a implementação das propostas apresentadas nas eleições 2000 que foram vitoriosas. Com o lema Política de Cara Limpa e buscando a paz numa cidade que havia sido saqueada pelo ex-prefeito e seu tesoureiro (Jairo Gianoto e Luis Paulichi, respectivamente), o Governo Popular precisou, também, sanear as contas da prefeitura para realizar novas obras, como da escola Laura Parente que se tornou a menina dos olhos do prefeito, após a grande reforma realizada.

Agora que apresentei o Zé Claudio e o Governo Popular, vamos voltar ao sonho. Estávamos ele, a Telma Maranho (Secretaria de Assistência Social no mandato) e eu conversando sobre a vida. Mostrei a ele meu livro Elas querem o poder publicado em 2022, sorrindo ele disse: “parabéns, minha quase vice-prefeita”. “Minha quase vice-prefeita” se refere ao episódio do convite que ele fez, quando recebi uma ligação dele e da Lucia Bertin. Achei que estavam brincando, depois percebi que não. Sempre ligado aos movimentos sociais e ao setorial de mulheres do PT, o Zé buscava uma mulher para vice-prefeita. Me senti honrada pelo convite, mas prestes a defender o doutorado na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e morando em Florianópolis não havia formato para viabilizar minha candidatura. No ano seguinte, já doutora, disponibilizada pela UEM, assumi a Diretoria de Informática e posteriormente a Secretaria de Modernização Administrativa e de Administração, no Governo Popular.

No sonho, ele nos disse que agora quem mandava nele era uma mulher e a voz surge: - Zé vem descansar. Ele piscou pra nós e saiu. Sei que ele estava lá em Brasília na posse do Lula e com seus olhos verdes marejados de lágrimas, gritou no meio da multidão: “Vamo bagaça, Lula!”

 “Vamo bagaça” era a expressão usada pelo Zé na campanha que o elegeu Prefeito de Maringá, nas eleições 2000.

                                                         Posse Presidente Lula, 01/01/2023.

 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Feliz Ano Novo!!!

Mesmo sabendo que o Ano Novo é uma criação humana que não acontece em algumas localidades da mesma forma e não muda a vida das pessoas por ser o primeiro dia do nosso calendário, estamos lá firmes fazendo desejos de uma vida melhor.

Este ano, especialmente, a virada do ano e o início de um novo ciclo tem um sabor especial, pois a esperança se torna maior após o fim de quatro anos em que presenciamos e sofremos retrocessos enormes em todas as áreas, com perdas no meio ambiente, saúde, educação, políticas públicas, entre tantos.

Além do cheiro de jardim, namoro no portão e todos os desejos no poema atribuído a Carlos Drummond de Andrade bem como aos tradicionais votos de Feliz Ano Novo,  vou acrescentar mais alguns:

Que o Governo Lula que inicia no dia primeiro de janeiro seja de alento para os que mais precisam; que saíamos do Mapa da Fome; esteja atento às demandas pelo fim da violência contra a mulher; pelo combate ao racismo; combate à homofobia; combate ao machismo; de cuidado com o meio ambiente; de políticas públicas; de geração de emprego e renda; de desenvolvimento econômico e que o Brasil volte a ocupar o lugar que lhe cabe na geopolítica mundial.

Que as famílias separadas pelas divergências políticas voltem a se unir; 

Que os bons desejos se realizem; 

Que possamos “bater palmas de alegria”.

 



domingo, 25 de dezembro de 2022

O que você percebe no Presépio?

O Presépio é, provavelmente, um dos símbolos mais conhecidos na religiosidade e fora dela. Ele surge no final do ano, no mês de dezembro, em casas, comércios, praças, ruas e Igrejas, enfim por onde se olha, ali está ele, ora brilhando, ora girando, ora com estátuas, ora formado por pessoas vivas. Em suas várias formas, a mensagem do Presépio é única e compreendida por todo mundo, pois retrata o nascimento de Jesus.

Criado por São Francisco de Assis em 1223 para relembrar o nascimento de Cristo, com autorização da Igreja Católica, rapidamente se espalhou pela Itália. No Brasil, o presépio foi apresentado pela primeira vez aos índios e colonos portugueses em 1552, por iniciativa do padre José de Anchieta, de acordo com informação da própria Igreja.

Entretanto, mesmo diante dessa bela imagem, as pessoas dificilmente param para refletir sobre o que se vê num presépio: uma família de migrantes com um pai sem trabalho, uma mãe que deu à luz sem recursos e um bebê num local impróprio para nascer. Talvez aí esteja a grande mensagem do Presépio, ao mostrar o amor mesmo em condições adversas e rudes e que Deus se faz presente para os mais humildes.

Outras imagens mostram os reis magos e vários animais ao redor, a estrela, o anjo e os pastores. Os reis magos simbolizando a religiosidade e a reverência a um futuro líder religioso. Os animais em seu habitat, local escolhido por Jesus para marcar seu nascimento em meio a natureza. Os pastores simbolizam a humildade, a estrela serviu como guia para os reis magos que conheciam as ciências valorizadas na época como astronomia, medicina e matemática, e o anjo é o mensageiro de Deus.

Percebe-se assim, no Presépio, a presença da ciência, da natureza, dos humildes, dos estudiosos e dos que servem a Deus, unidos em uma única imagem. Mas, será que todas as pessoas quando montam ou visitam um Presépio tem essa percepção, será que enxergam a mensagem clara dada na imagem?

Ao enxergar para além da manjedoura com o bebê Jesus no centro e perceber o significado ao seu redor, certamente as pessoas teriam uma compreensão maior da vida e do mundo em que vivemos. Nesta visão, saberiam verdadeiramente respeitar os humildes, cuidar da natureza, proteger as crianças, valorizar a ciência e, sobretudo enxergar o amor em cada pessoa.

Por fim, o Presépio é o prenúncio do que seria a vida desse bebê:  um menino que teve que fugir para não ser morto por um rei, um menino que abraçou pobres, prostitutas, desvalidos e ricos convertidos, deu aula para fariseus, mexeu com as estruturas de poder da época, foi morto e crucificado...um menino que se fez homem e que com muito amor nos mostrou o caminho da união, da vida e da força. 


 

 

 

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Conselho da Mulher de Maringá voltará a ter presidente não governamental

Na sessão do dia 19 de dezembro, foi aprovado o Projeto de Lei Ordinária nº 16535 de 2022 que concede nova regulamentação ao Conselho Municipal da Mulher, instituído pela Lei Municipal nº 4.258/96, com redação dada pela Lei Municipal nº 6.636/2004 e pela Lei nº 9.965/2015, e dá outras providências.

Desde 2018, o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Maringá (CMDM) em parceria com o Fórum Maringaense de Mulheres, busca a aprovação da reestruturação e adequação do CMDM. Naquele ano, o projeto acolhido e apresentado pelo ex-vereador Carlos Mariucci e outros, foi retirado de pauta e encaminhado ao Executivo, pois os vereadores (aquela legislatura não tinha vereadoras) consideraram que era atribuição da Prefeitura e desejava ter o parecer desta *.

Sabia-se naquela época, que a resistência se dava, unicamente, no item que modificava a eleição da presidente do CMDM que passaria a ser apenas não governamental, como era desde sua reativação em 2004. Destaca-se que a alteração que permitia a eleição de presidente governamental foi aprovada pela Câmara de Vereadores, em 2015. Por essa distorção ocorrida naquele ano, proposta pelo Executivo, o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Maringá passou a  ter a possibilidade de uma titular representante governamental ocupar a  presidência, o que sempre interessou a determinados governos municipais.

 Independente da qualificação da eleita, o que não se discute, o fato de ter uma representante do governo como presidente impacta na isenção que deve existir num Conselho com relação à fiscalização e proposição de políticas públicas. Torna-se complexo para uma representante governamental fiscalizar o órgão que atua e ao mesmo tempo participar da execução das políticas públicas.

Por sua vez, o fato de ser uma presidente não governamental possibilita mais independência em relação à análise e sugestões para as políticas públicas. Vale destacar que o Conselho da Mulher não tem fundo financeiro e suas atividades são custeadas pelo município. Ainda, conforme a lei, todas as conselheiras realizam trabalho voluntário, ou seja, não recebem vencimentos pela atividade.

O CMDM é composto por por 24 (vinte e quatro) integrantes e respectivas suplentes, das quais 50% (cinquenta por cento) serão representantes do Poder Público e 50% (cinquenta
por cento) serão representantes da sociedade civil, respeitando a paridade na representação. As representantes governamentais são indicadas pelo setor público a que estão vinculadas enquanto que as representantes não governamentais, da sociedade civil, são eleitas em assembleia específica, após indicação por suas entidades, organizadas por segmentos.

Finalmente, o Executivo, após ouvida a Secretaria da Mulher e seu jurídico, encaminha o projeto de lei que passa a ter a seguinte redação:

Art. 10. O cargo de Presidente da Mesa Diretora poderá ser pleiteado por integrantes
titulares representantes das organizações não governamentais, e o cargo de Vice-Presidente poderá ser pleiteado por integrantes titulares representantes das organizações governamentais, para um período de 2
(dois) anos para cada organização.

Trata-se de uma conquista do movimento de mulheres e do Conselho da Mulher, que teve três representantes na sessão **, as quais aplaudiram a aprovação do projeto, resultado de uma espera de anos.

Numa sessão tumultuada, a grande maioria nem se ateve para a importância da reestruturação do CMDM que consolida e possibilita mais independência em seu papel na defesa dos direitos das mulheres, no combate à violência contra a mulher e na proposição de políticas públicas.


* Este fato está retratado no livro de minha autoria: Elas querem o poder – o caso do Movimento Mais Mulheres no Poder para o legislativo maringaense, Editora Iperfil, 2022.

** Valquíria Francisco, presidente do Fórum Maringaense de Mulheres e conselheira no CMDM no segmento Centrais Sindicais; Zica Franco – Assessora da Mulher na gestão 2001-2004; Tania Tait – conselheira titular no CMDM no segmento Centrais Sindicais, presidente do Conselho por duas gestões (2004-2006 e 2017-2019). As três são integrantes e fundadoras da Associação Maria do Ingá Direitos da Mulher.