Fiquei
muito feliz em saber do Festival de Ginástica Rítmica, realizado em Maringá no
dia 27/11 da mesma forma que me emociono, cada vez, que vejo nossas atletas
realizando apresentações mundo afora. Obviamente o motivo para a emoção é por
ter feito parte da equipe da primeira turma de Ginástica Rítmica Desportiva (GRD) em Maringá, de 1976 a 1978.
Um
filme vai passando na minha cabeça enquanto penso na Ginástica. Tudo começou com o dia em que a professora de educação
física Sara Genaro convidou a nós, alunas do Colégio Gastão Vidigal para
participar de uma equipe de ginástica rítmica desportiva. O Colégio tinha
tradição no handebol e no basquete, o que levou a turma a falar que o que
fazíamos era dança. Muitas de nós treinávamos natação ou basquete em projetos
da escola e do Clube Olímpico, como minhas primas e eu, que passamos a integrar
a equipe da Professora Sara. Estamos falando de 1976.
Quinze
anos atrás, em 1961, a história da GRD tivera
início formal quando foi apresentada à Federação Internacional de Ginástica,
tendo o primeiro campeonato mundial realizado em 1963, na cidade de Budapeste.
Em 1975, a modalidade passou a ser chamada oficialmente de Ginástica Rítmica
Desportiva. Em 1980 foi reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional passando
a integrar os jogos olímpicos. No mesmo ano, passou a ser chamada apenas de
Ginástica Rítmica. Portanto, no período em que nossa equipe atuou, o nome era
GRD. Nas Olimpíadas de 1984 se torna modalidade competitiva individual e em
1996, em provas de equipe. Para sua realização, a Ginástica Rítmica faz uso de
ritmo e expressão, com movimentos coordenados, com ou sem aparelhos que podem
ser bola, pino, maça e fita.
A
professora Sara foi desafiadora pois a turma de ginastas que ela formou era
composta por meninas de 15 anos, no primeiro ano do ensino médio. Na
atualidade, a situação é bem diferente, pois as atletas iniciam seus
treinamentos a partir dos 6 anos de idade.
Naquela
época, as equipes de ginástica faziam apresentações em aberturas de jogos e
eventos esportivos pois ainda não havia competições na região. Assim, apresentações
foram realizadas em várias cidades do Paraná e no Campeonato Brasileiro de
Paraquedismo na edição em Maringá. Para as viagens, íamos numa kombi que não
sei dizer de quem era, mas lembro que numa delas, o marido da professora Sara
foi dirigindo. Lembro, também, de uma apresentação em uma cidade pequena em que os
rapazes da localidade gritavam efusivamente quando a equipe entrou no campo
para a série de maça. Eles não entendiam o que estavam assistindo como
um esporte, viam apenas adolescentes com colants colados e meias finas “dançando”
com bolas e cordas.
As
roupas e os equipamentos utilizados eram muito simples. O uniforme era um colant azul
escuro e meia cor creme grossa. Nas roupas e no rosto não existiam as cores e os
modelos estilizados da atualidade. Prendíamos os cabelos em coque para não
atrapalhar os movimentos.
Os equipamentos com os quais fazíamos as
séries eram a bola, corda e a maça. Não chegamos a realizar apresentações de
fita devido à morte prematura da professora Lana vitimada por câncer aos 29
anos, o que não permitiu o aprimoramento da equipe com o material.
Inicialmente
treinávamos no Maringá Clube e depois fomos treinar no Chico Neto. Os treinos eram
no período da tarde, das 13h às 17h, de segunda-feira à sexta-feira. No ginásio, o funcionário da prefeitura, o "seu" Pedro cuidava do local e dos equipamentos. Algumas vezes, as
famílias implicavam com as atletas, pois consideravam perda de tempo praticar
uma atividade que não era sequer reconhecida e nem possuía investimento por
parte do poder público. Mas, com o tempo passaram a apoiar as atletas e assistir as apresentações.
Em 1979, essa primeira turma se desfez, algumas alunas passaram no vestibular, outras mudaram de cidades. Entretanto, Ootras turmas surgiram e mantiveram a Ginástica Rítmica em Maringá.
Em
2020, a professora Glória Soares Nakashima (Glorinha) e nossa turma de GRD
daquela época estávamos planejando narrar a história da GRD,
organizar as fotos de várias turmas, homenagear a primeira técnica, a professora Sara e escrever sobre essa história
que teve protagonistas que deram os primeiros passos, como a Noka (irmã da
Glorinha) e a Lana (ambras falecidas) e a professora Odete, as quais formavam
uma equipe de professoras de ginástica. A Glorinha pensava em tornar o Museu
Esportivo de Maringá guardião da história da GRD e da natação e, também, realizar
um mural no Ginásio Chico Neto.
Infelizmente,
no mesmo 2020, fomos surpreendidas pelo falecimento da professora Glorinha, que
pra nós “foi antes do combinado” como dizia Rolando Boldrin. Certamente, ela está
lá ouvindo os “causos” do Boldrin, cantando com a Gal e o Erasmo e relembrando
as histórias da ginástica com a Sara, a Noka e a Lana.
Imagino
ela e Boldrin conversando:
-
a minha ex-aluna disse que eu vim antes do combinado porque a gente ia contar a
história da ginástica rítmica.
-
professora Glorinha, sua ex-aluna anda com caraminholas na cabeça. Quem sabe,
ela e sua turma da GRD continuem o trabalho que você queria fazer.
Ao pensar em toda essa história, caiu
um cisco enorme aqui no meu olho ...
Tania, Rosângela e Regina (primas)
Raquel, Rosângela e Regina