Para compartilhar idéias!







terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Eu me incomodo

Eu me incomodo.

Não precisaria, mas eu me incomodo. Tenho 60 anos, sou professora universitária do setor público estadual, aposentada (UEM); minhas filhas são adultas e formadas, moro em casa própria, posso viajar para onde e quando quiser, tenho uma situação razoavelmente confortável sem ser rica, ou seja, tenho uma vida padrão de classe média.

Então com “o que” e “por que me incomodo”?

No plano econômico, me incomodo em ver o Brasil ladeira abaixo, sem plano de desenvolvimento econômico, com milhares de desempregados e brasileiros e brasileiras indo embora do país para tentar a sorte em outras terras, com o aumento de desempregados e desempregadas com placas de “fome”  em vários pontos das cidades, entre tantos sinais de falta de política econômica que deixa milhares de pessoas na miséria.

Sobre o meio ambiente, me incomodo em ver nossas florestas e rios sendo dizimados em nome de um desenvolvimento que camufla a busca predatória pela exploração das reservas naturais, do ouro e outros metais para enriquecimento industrial, sem se preocupar com sustentabilidade, flora, fauna ou com povos originários.

Em direitos humanos, me incomodo em ver o aumento das mortes de jovens e crianças negras, do racismo, dos ataques aos indígenas, do desrespeito e agressões aos idosos, crianças, mulheres e portadores de deficiência.

Na defesa dos direitos das mulheres, me incomodo, ver tanto retrocesso com a redução de orçamento para o combate à violência contra a mulher, ler notícias sobre o aumento do feminicídio, de importunação sexual e discriminação, saber que as mulheres negras sofrem toda sorte de discriminação e violência e são as que mais padecem por feminicídio.

No setor de saúde, me incomodo em ver pessoas ameaçando os órgãos de controle e vigilância sanitária, em ver pessoas boicotando a vacinação e não se prevenindo na pandemia, em saber de filas intermináveis por busca de atendimento, em ler notícias sobre pessoas em corredores de hospitais por falta de leitos, em saber que em plena pandemia, o governo federal e seus apoiadores negociavam propina com empresas farmacêuticas.

Ao pensar sobre a educação, me incomodo com a forma como os professores e funcionários são tratados pelos governos e por alguns setores da sociedade, com a redução de orçamento, com a falácia da inovação do novo ensino médio (esse modelo foi implantado em 1971 em plena ditadura e depois reformado por não ter dado certo).

É tanto incomodo que a lista fica cansativa. Mas, se eu não precisaria, por que me incomodo?

Sou de uma família solidária, que sempre buscou ajudar o próximo. Com a Teologia da Libertação, na Pastoral Universitária, aprendi que a fé sem obras nada vale e mais do que isso, entendi o funcionamento do sistema capitalista, a mentira da meritocracia, sobre a exploração da classe trabalhadora, o domínio das empresas multinacionais nos países da América Latina, dos EUA  e do Fundo Monetário Internacional (o famoso FMI). Naquela época, ficou claro que somos uma peça numa engrenagem maior que dita a forma como vivemos e morremos.

Por outro lado, aprendi sobre o poder da organização do povo e da democracia, que coloca nas mãos das pessoas o controle sobre suas vidas. Afinal, um belo dia, o povo descobre que até o preço do pãozinho depende de quem governa o país. Descobre-se, também, que ser solidário e doar ajuda muito quem necessita naquele momento, mas deve-se ter consciência que é necessário ir além e cobrar dos governos que resolva os problemas sociais.

Aprendi, também, que um governo consegue melhorar a vida do povo, com políticas públicas que efetivamente contribuam para reduzir as desigualdades e promover ações para educação, saúde, moradia, enfim, o básico que uma população necessita. Isso tivemos, na prática, em anos atrás.

Tanto me incomodo, que não posso me dar ao luxo de silenciar, por isso, pra ver meu Brasil, nosso Brasil feliz de novo, estou decidida, vou de Lula 13!!! Quero um governo que aja e promova a melhoria da vida do povo. Nosso povo merece!


7 comentários: