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sexta-feira, 27 de março de 2015

Grandes momentos e muito aprendizado

A minha atuação no movimento organizado de mulheres me proporcionou grandes momentos e com eles veio junto muito aprendizado. Não tenho como enumerar todos, pois são muitos, tivemos participação nas conferências municipais, estaduais e nacional das mulheres, encontros de mulheres do PT e da CUT, reuniões do Conselho da Mulher de Maringá e palestras e oficinas pela ong Maria do Ingá e representação na Câmara de Vereadores pelo Forum Maringaense de Mulheres. Nessa trajetória conheci grandes mulheres, famosas e anônimas, sempre com muito a dizer. Conheci grandes militantes feministas, em nível nacional como Rose Marie Muraro e nossas feministas muito próximas, como a Rose Zanardo, nossas Roses, hoje estrelas no céu com tantas outras que se foram, mas deixaram seu legado de lutas em defesa das mulheres. Vou me permitir, nesse universo de mais de três décadas em organização e lutas em defesa das mulheres, destacar quatro desses momentos que considero especiais. O primeiro momento foi nos anos 1980 quando fizemos uma palestra, a Profa. Celene Tonella (UEM) e eu sobre violência contra a mulher em uma escola pública estadual. Ao término da palestra uma senhora nos procurou e contou sua história: apanhava do marido, tinha duas filhas pequenas, nunca tinha estudado nem trabalhado fora de casa. Segunda narração dela, ela sabia que ia apanhar dependendo da forma como o marido abrisse o portão da casa. Fomos embora muito tristes pois na época, existia apenas a Delegacia da Mulher funcionando ainda com muita precariedade. Aquela mulher precisava de mais, precisava de apoio psicológico, de assistência social, de advogado...Mas, não desanimamos. E hoje, graças a força das mulheres organizadas e suas lutas, temos uma rede de enfrentamento de violência contra a mulher, com Casa Abrigo, Centro de Referência de Atendimento as Mulheres Vítimas de Violência, as recém implantações da Casa da Mulher Brasileira que reúne todo o atendimento em um único local. Além das Leis como Maria da Penha e a Lei do Feminicídio. Sabemos que passaram muito anos até que tivéssemos toda essa estrutura de apoio que, ainda, carece de imensas melhorias para que mulheres como aquela senhora não precisem mais sentir todos os dias aflição por saber que vai sofrer violência. O segundo momento, foi em 1996, no CEPIAL – Congresso para Integração da América Latina, na UEM, quando tive o prazer de propor e coordenar a mesa redonda: Mulher, Política e Trabalho. O que dizer de um evento que reuniu 340 mulheres de várias regiões do Brasil e da América Latina para tratar da discriminação contra a mulher. Ainda sinto a mão em meu ombro, de uma senhora do grupo Mães da Praça de Maio, da Argentina, que lutam para encontrar seus filhos mortos pela ditadura militar daquele país; vejo o olhar entristecido de uma senhora paraguaia contando que em seu pais, ainda preferem que nasçam meninos por que estes foram dizimados na Guerra do Paraguai e ouço a voz da indignação de uma mulher negra diante do preconceito e da discriminação. São lados da história das mulheres que traz informações do cotidiano que não aparecem nos livros oficiais da história, mas que mudam o destino das mulheres. Tudo isso me levou a indagar sobre as mulheres pioneiras em nossa região e tive, a grande oportunidade de realizar uma pesquisa sobre o olhar feminino na construção de Maringá, cujo resultado está publicado no livro “Maringá e o Norte do Paraná”, organizado pelos professores José Henrique Gonçalves e Reginaldo Dias. Mesmo tentando transcrever o que disseram, fica difícil transmitir a emoção dos olhos marejados e os comentários das entrevistadas, mas me senti na obrigação de dar as nossas pioneiras, inclusive minhas avós, seu registro em nossa história. O terceiro momento foi quando eu, muito abatida e desanimada, devido a morte do meu pai, em 2005, recebi uma mensagem da senhora Iris Bruder, falando sobre um texto que eu havia escrito a respeito da importância da reciclagem e das cooperativas de catadores de lixo. E ela dizia na mensagem que “gosta dos meus escritos sobre as mulheres e a defesa dos direitos, e que o mundo precisava de pessoas como eu...” Na época foi como se eu tivesse recebido um chacoalhão... Marquei uma visita e passei uma tarde muito gostosa conversando sobre a vida com ela. Chamo de “anjos” que surgem em nossas vidas em momentos de encruzilhada e nos fazem seguir adiante. Agora, 2015, um quarto momento, na Asumar, Associação de Surdos de Maringá, em palestra que ministrei sobre a violência contra a mulher, com parceria da interprete de libras, Daniella, senti a necessidade de novos aprendizados. A sensação que me levou para casa foi a de que temos muito que fazer e esclarecer para as pessoas sobre os direitos e pelo fim da violência contra a mulher. A atenção, as perguntas e participação do público nos faz ter certeza de que a ong Maria do Ingá-Direitos da Mulher trilha por caminho certo quando atua na formação e informação na área de direitos da mulher. E pra mim, como ser humano, em constante aprendizado, interagir com um público que tem suas próprias reivindicações mas que busca estar integrado no mundo que o cerca, leva a reflexão de que temos muito que aprender, sempre. Muita emoção ao escrever esse texto, com esses pensamentos que estão comigo desde ontem a noite. Espero ter a sabedoria para converter esses pensamentos em ações na linha do que aprendemos lá no começo da militância, no movimento estudantil, via Pastoral Universitária, na construção de um mundo mais justo e igualitário.

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