A história mostra que
mulheres e homens deliravam de alegria ao prestigiar a queima de mulheres na
fogueira na Idade Média; mulheres machistas e homens machistas atacavam as
mulheres que lutaram pelo direito ao voto; mulheres machistas e homens
machistas se unem ao coro de “olha a roupa que ela vestia” nos casos de
estupro; mulheres e homens estão juntos quando ofendem e agridem as mulheres
que atuam na política; enfim, mulheres machistas e homens machistas se unem
para depreciar as mulheres em suas lutas.
Mesmo diante de tantos
exemplos em que mulheres machistas se uniram aos homens para atacar os direitos
das mulheres, as conquistas foram acontecendo ao longo da história, de forma
tímida e lenta, é verdade, mas aconteceram e hoje, as mulheres podem ser e
estar onde quiser, na maioria dos países.
No entanto, a luta pelos
direitos da mulher é sempre árdua pois não conta com a presença maciça feminina,
que no caso brasileiro, representa 52 % da população, ou seja, é a maioria. Ao
juntar essa maioria com os homens feministas (sim, eles existem e buscam
desconstruir o machismo que habita em nós), as mulheres poderiam, literal e
fisicamente, mudar o mundo.
Por outro lado, as
mulheres que remam contra os direitos das mulheres podem ter variados motivos
para seu comportamento e ação. Dentre eles, pode ser destacado a submissão a
autoridade masculina, reconhecida por elas, nos locais de trabalhos, cargos que
ocupam, em seus lares etc.
Infelizmente, muitas
vezes, algumas dessas mulheres fazem uso de seus cargos de poder para se
alinharem ao machismo. Cargos que, inclusive, existem porque mulheres lutaram
para que mulheres os ocupassem.
Seja por motivo de
dependência emocional, financeira profissional ou doméstica, muitas fecham os
olhos para o sofrimento das outras que tem seus direitos vilipendiados. Algumas
vão mais além, pois desenvolvem ações para atacar os direitos.
Ao focar aqui na cidade
de Maringá, a luta legítima organizada pelo Fórum Maringaense de Mulheres com
apoio de várias entidades e órgãos públicos estaduais e municipais, respaldada
pela Lei Maria da Penha para que seja uma mulher delegada na Delegacia da
Mulher, torna-se mais um exemplo de quão difícil é a luta pelos direitos das
mulheres.
Um direito conquistado ao
longo das décadas com a criação de um órgão especializado de atendimento às
mulheres em situação de violência com uma mulher no comando, que são as
Delegacias da Mulher (DM), torna-se alvo de uma disputa patrocinada por órgãos
estatais ou oficiais que levam em seu nome a palavra “mulher”.
Ao invés de pautar a
garantia dos direitos, tais órgãos desmerecem a luta das mulheres a ponto de
questionarem as razões que levaram a criação das DMs e a permanência de uma
mulher como delegada.
Nesse sentido, ao invés
de focar na necessidade de uma mulher no comando da DM, alguns órgãos se
pautaram na troca de delegados que foi a medida tomada pelo delegado chefe, ao
transferir de um outro órgão, também importante, uma delegada que atua faz anos
na área.
A confusão fez com que
veículos de comunicação tratassem a situação como se a transferência da
delegada do outro local fosse solicitação do Fórum Maringaense de Mulheres, o
qual, em nenhum momento fez esse pedido.
E nessa confusão toda, a
Delegacia da Mulher de Maringá continua tendo um homem como Delegado da Mulher.
Como foi reiterado
inúmeras vezes pelo Fórum Maringaense de Mulheres, não se discute a competência
do delegado, o que se discute é a necessidade de uma mulher no comando da DM, que
é um direito legítimo conquistado pelo movimento feminista.
Este é apenas um dos
inúmeros exemplos que mostra que a igualdade de direitos aliada ao sonho do
empoderamento e da sororidade devem fazer parte da luta pelos direitos das
mulheres. Luta que deve ser travada com muita força para que as pessoas tenham
a empatia necessária com o sofrimento pelos quais as mulheres passam, desde as
ofensas e ameaças por ocupar um cargo na política até o constrangimento e
sofrimento ao relatar um estupro sofrido ou uma agressão doméstica.
Mesmo sendo árdua, a luta pelos direitos das mulheres tem resultados e o movimento feminista é considerado, por muitos
historiadores, como a maior revolução de todos os tempos pois mexeu com a
estrutura da sociedade ao promover a igualdade entre mulheres e homens.