A quarentena devido a pandemia do
coronavírus fez com que muitas pessoas se envolvessem com a arte milenar da
cozinha.
No meu caso, em particular, a cozinha
tornou-se uma experiência interessante pois com a minha mãe em casa, aproveitei
o tempo para aprender aqueles pratos familiares que eu sempre saboreei muito,
como o tradicional macarrão com sardinha.
Além do aprendizado regado a conversas
sobre o passado, sobre meus avós maternos e paternos, veio-me a lembrança de
vários tipos de comidas que eram feitos pelas famílias e em família.
Tenho muitos exemplos de comidas de
família, um deles é a confecção da pamonha, na qual todos tem uma tarefa, desde
as mais complexas do cozimento até as mais simples, como embrulhar e amarrar a
pamonha. Outro é a torra do café, com aquele perfume delicioso envolvendo o
ambiente, ou, melhor, os quintais. Tinha também a garapa, a linguiça calabresa
que meu avô fazia, os ovos enormes naquele omelete saboroso, aquele bife na chapa de fogão a
lenha, preparados pela minha avó do sítio, o arroz doce e o manjar da minha mãe
e o doce de mamão que minha mãe e meu pai faziam e a lista vai crescendo. E
aquela macarronada espetacular da vó da cidade. Era assim mesmo que chamávamos,
nos referindo as avós, a vó Angela era a “vó do sítio” e a vó Maria (Marianna)
era a “vó da cidade”.
Dá pra perceber que esse é o lado da tradição
rural que permanece nas gerações e nas histórias da família. São sabores que,
certamente, não sentirei mais, tanto pelos avós que não estão entre nós, como
pelos produtos e seus componentes não industrializados como nestes novos tempos
que, mesmo que combinados, não dariam aquele sabor da minha infância e
adolescência.
Essa lembrança dos sabores culminou nesta
semana, com outro sabor da infância, a fruta cajá-manga (foto abaixo). Recebi de presente da
minha prima-irmã e ao cortar a fruta veio aquele perfume familiar que me fez
retornar ao passado. Escrevi sobre ele, fotografei e coloquei no Facebook,
atiçando a lembrança de primos e primas, afinal o pé de cajá-manga ficava no
quintal da vó da cidade e a meninada adorava.
A comida ou a bebida, seja um prato especial,
uma fruta ou um cafezinho não é apenas comida ou bebida. Elas carregam em sim,
com seus sabores e perfumes, as lembranças das pessoas, dos fatos e dos tempos
idos. Tenho uma lista de amigas e amigos, com seus cafés, bolos de cenoura, tortas
e feijões que proporcionam deliciosos momentos que retornarão assim que essa
pandemia passar.
Uma vez li que se uma determinada comida
causa indisposição estomacal ou estiver ligada a fatos tristes, a mera menção
aquela comida, traz à tona a mesma sensação e por isso, não aguentamos comer
novamente.
Por outro lado, a minha experiência me
ensinou que os sabores e perfumes podem nos fazer lembrar de momentos lindos
que estavam adormecidos em algum canto de nossas vidas.
Os sabores e perfumes permanecem nas
nossas mentes e corações e basta um simples cheiro ou gosto para nos
transportar para o passado como aquele perfume do cajá-manga que me levou para
décadas atrás, no quintal da casa da vó Maria.