Muito se diz que estamos
na era da informação e do conhecimento, que a riqueza pode ser medida pelo
volume de informação e conhecimento acumulados do que propriamente pelo bem
material.
A Internet apresenta-se
como uma fonte poderosa na qual organizações, por meio de ferramentas de
mineração de dados e de aplicativos conhecidos como crawlers/scrappers,
podem vasculhar dados em um conjunto de sites ou bases de dados.
Os resultados dessas
buscas automáticas, ou semi-automáticas, podem ser o perfil de pessoas com o
objetivo de traçar o comportamento de possíveis clientes, mas também poderia
ser para vasculhar a individualidade de muitos de nós.
Poderíamos até dizer que
a Internet, atualmente, é um meio lícito de espionagem indireta. Diferentemente
do que acontece no reality show “Big Brother”, que foi inspirado no livro de
George Owell intitulado “1984”, onde as pessoas são vigiadas o tempo todo por
câmaras instaladas no ambiente interno da residência, na Internet, por meio de
redes sociais e acesso a programas de busca, o comportamento de cada pessoa
pode ser identificado e usado para o bem ou para o mal.
No início do uso da
Internet, havia preocupação com os dados pessoais, os quais poderiam ser
copiados ou as pessoas poderiam ser localizadas e monitoradas em governos
ditatoriais. Em muitos casos, eram cometidos crimes com nossos CPFs.
No entanto, com o
desenvolvimento e o alcance dos algoritmos utilizados pelas empresas, parte-se
para algo mais particular que é o comportamento do indivíduo diante das
situações. A partir desse comportamento são direcionadas as vendas de produtos
ou serviços, as campanhas eleitorais, entre outros.
A situação se tornou
bastante complexa na medida em que empresas se especializam na análise
comportamental dos usuários das redes sociais, a partir das informações que os
mesmos compartilham.
Nas últimas eleições
presidenciais no Brasil e no mundo, essa forma de alcançar as pessoas se tornou
muito forte, inclusive com campanhas e propagandas direcionadas aos perfis das
pessoas, sem que elas se dessem conta de que estavam sendo manipuladas.
Nesse contexto, estão as empresas
das redes sociais e aquelas que fazem análises das informações veiculadas
nesses mecanismos. São usados algoritmos potentes desenvolvidos por equipes
multidisciplinares compostas por cientistas da computação, matemáticos,
estatísticos, sociólogos, psicólogos entre outros profissionais. Essas equipes,
além de capturarem os dados, procedem análises desses para que possam ter utilização
para quem os adquire.
Não se pode esquecer também,
a rede de fake news ou notícias falsas e o uso do aplicativo Whatsapp
que é, praticamente, individual, como se o interlocutor estivesse falando
diretamente com a pessoa. Neste tipo de aplicativo, pode-se direcionar a
mensagem de acordo com o perfil capturado na rede social, inclusive com avaliação
da capacidade da pessoa em aceitar e compartilhar fake news sobre
determinados assuntos, partidos políticos ou pessoas.
Parece mesmo situação de
filme de ficção científica, mas, infelizmente, é a realidade atual que nos
coloca dentro de uma vigilância praticamente autorizada pelas informações que
disponibilizamos nas nossas redes sociais digitais. Ou seja, quem somos, o que
fazemos, onde estamos, o que propomos, qual nossa posição ideológica, como é
nosso espírito de solidariedade, nossa espiritualidade, entre outras
informações de foro íntimo, as quais se encontram disponíveis nas redes
digitais e podem ser capturados e
analisados.
Não se trata apenas de
desligar a tomada ou não ter perfis para que não estejamos no emaranhado da rede.
A captura vai até onde não imaginamos e pode atingir o conteúdo das nossas
mensagens de celular e dos nossos e-mails.
Torna-se necessária
regulação séria do uso das redes digitais e das informações nelas veiculadas,
bem como da disponibilidade do acesso aos dados pessoais de perfis. Inclusive,
é necessário que se criem leis rígidas no combate à criação e à disseminação de
notícias falsas. É importante lembrar que a Internet não pode ser território de
ninguém, onde tudo é permitido.
Mesmo no mundo virtual, a
lei se faz necessária para que essa tecnologia poderosa possa contribuir para
melhorar o mundo em que vivemos.