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domingo, 12 de julho de 2020

A mineração dos dados nas redes sociais digitais


Muito se diz que estamos na era da informação e do conhecimento, que a riqueza pode ser medida pelo volume de informação e conhecimento acumulados do que propriamente pelo bem material.
A Internet apresenta-se como uma fonte poderosa na qual organizações, por meio de ferramentas de mineração de dados e de aplicativos conhecidos como crawlers/scrappers, podem vasculhar dados em um conjunto de sites ou bases de dados.
Os resultados dessas buscas automáticas, ou semi-automáticas, podem ser o perfil de pessoas com o objetivo de traçar o comportamento de possíveis clientes, mas também poderia ser para vasculhar a individualidade de muitos de nós.
Poderíamos até dizer que a Internet, atualmente, é um meio lícito de espionagem indireta. Diferentemente do que acontece no reality show “Big Brother”, que foi inspirado no livro de George Owell intitulado “1984”, onde as pessoas são vigiadas o tempo todo por câmaras instaladas no ambiente interno da residência, na Internet, por meio de redes sociais e acesso a programas de busca, o comportamento de cada pessoa pode ser identificado e usado para o bem ou para o mal.
No início do uso da Internet, havia preocupação com os dados pessoais, os quais poderiam ser copiados ou as pessoas poderiam ser localizadas e monitoradas em governos ditatoriais. Em muitos casos, eram cometidos crimes com nossos CPFs. 
No entanto, com o desenvolvimento e o alcance dos algoritmos utilizados pelas empresas, parte-se para algo mais particular que é o comportamento do indivíduo diante das situações. A partir desse comportamento são direcionadas as vendas de produtos ou serviços, as campanhas eleitorais, entre outros.
A situação se tornou bastante complexa na medida em que empresas se especializam na análise comportamental dos usuários das redes sociais, a partir das informações que os mesmos compartilham.
Nas últimas eleições presidenciais no Brasil e no mundo, essa forma de alcançar as pessoas se tornou muito forte, inclusive com campanhas e propagandas direcionadas aos perfis das pessoas, sem que elas se dessem conta de que estavam sendo manipuladas.
Nesse contexto, estão as empresas das redes sociais e aquelas que fazem análises das informações veiculadas nesses mecanismos. São usados algoritmos potentes desenvolvidos por equipes multidisciplinares compostas por cientistas da computação, matemáticos, estatísticos, sociólogos, psicólogos entre outros profissionais. Essas equipes, além de capturarem os dados, procedem análises desses para que possam ter utilização para quem os adquire.
Não se pode esquecer também, a rede de fake news ou notícias falsas e o uso do aplicativo Whatsapp que é, praticamente, individual, como se o interlocutor estivesse falando diretamente com a pessoa. Neste tipo de aplicativo, pode-se direcionar a mensagem de acordo com o perfil capturado na rede social, inclusive com avaliação da capacidade da pessoa em aceitar e compartilhar fake news sobre determinados assuntos, partidos políticos ou pessoas.
Parece mesmo situação de filme de ficção científica, mas, infelizmente, é a realidade atual que nos coloca dentro de uma vigilância praticamente autorizada pelas informações que disponibilizamos nas nossas redes sociais digitais. Ou seja, quem somos, o que fazemos, onde estamos, o que propomos, qual nossa posição ideológica, como é nosso espírito de solidariedade, nossa espiritualidade, entre outras informações de foro íntimo, as quais se encontram disponíveis nas redes digitais e  podem ser capturados e analisados.
Não se trata apenas de desligar a tomada ou não ter perfis para que não estejamos no emaranhado da rede. A captura vai até onde não imaginamos e pode atingir o conteúdo das nossas mensagens de celular e dos nossos e-mails.
Torna-se necessária regulação séria do uso das redes digitais e das informações nelas veiculadas, bem como da disponibilidade do acesso aos dados pessoais de perfis. Inclusive, é necessário que se criem leis rígidas no combate à criação e à disseminação de notícias falsas. É importante lembrar que a Internet não pode ser território de ninguém, onde tudo é permitido.
Mesmo no mundo virtual, a lei se faz necessária para que essa tecnologia poderosa possa contribuir para melhorar o mundo em que vivemos.

Artigo produzido pelas professoras Maria Madalena Dias e Tania Tait. Professoras doutoras do Departamento de Informática da UEM (aposentadas), integrantes da Ong Maria do Ingá- Direitos da Mulher e do Fórum Maringaense de Mulheres. Área de atuação: sistemas de informação.

 

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Entre a raiva e a tristeza


Estamos desde o mês de março corrente vivendo de uma forma que nunca tínhamos imaginado, ora com isolamento total, ora com isolamento parcial, com escolas, universidade, igrejas e campos de futebol, ente outros, fechados.
Máscaras, distanciamento entre as pessoas e álcool em gel passaram a fazer parte do cotidiano. As máscaras, agora, são marcas do nosso novo visual, como artefatos de moda ou de mural para reivindicações. Não se pode sair de casa sem elas.
O uso das tecnologias de informação e comunicação tornou-se fundamental para a realização de diversos tipos de atividades, desde ensino remoto até solicitação de auxílio emergencial. Dessa forma, palavras como App e live se tornaram corriqueiras nesse mundo virtualizado.
Entretanto, ao mesmo tempo que a população vai se ajeitando com a nova forma de vida, os casos de contaminação e morte continuam aumentando.
Para piorar a situação, o país é governado por um presidente negacionista que faz piadas, minimiza os efeitos da doença, despreza os mortos e seus familiares e não aceita os protocolos da área de saúde. Ou seja, todas as ações, posturas e leis levadas ao congresso pelo governo vão no sentido contrário de proteger e dar segurança à população.
Um misto de ignorância e descrença assola o país, a ponto das pessoas se reunirem em praias, praças ou bares, sem o devido cuidado, como se estivéssemos em uma situação normal.
Nem os números avassaladores inibem a população de sair às ruas à toa ou sensibilizam o governo federal. Até o fechamento deste artigo, o Brasil contabilizava 1.508.991 diagnósticos confirmados e 62.304 mortes por Covid-19.
Vale lembrar que a situação não ficou pior ainda, pois, os governos estaduais e municipais tomaram as rédeas do controle da pandemia em seus municípios e os deputados e senadores votaram auxílio emergencial para as pessoas em situação de vulnerabilidade. Inclusive, ressalte-se que todas as medidas em benefício da população foram, inicialmente, boicotadas pelo governo federal. Inclusive, o governo federal lançou a proposta de R$ 200,00 de auxílio emergencial que foi modificada pelos congressistas, a partir de mobilização dos deputados do bloco chamado de “esquerda”, passando o valor para R$ 600,00.
E como ficamos nós, diante de tudo isso? Ao mesmo tempo procurando seguir as normas da área de saúde, ouvindo a fala de alguns governantes e seus disparates e vendo muitas pessoas não se cuidando e nem cuidando dos outros.
Dois sentimentos estão latentes neste momento: a raiva e a tristeza.
A raiva acontece por saber que tudo poderia ser diferente, pois o governo foi avisado, no mês de março, de que chegaríamos a 100 mil mortos em 6 meses e ao invés de tomar medidas para garantir a segurança da população brasileira, o governo optou por negar a gravidade da situação.
A tristeza surge a cada notícia de tantas vidas perdidas que poderiam ter sido salvas, se medidas efetivas tivessem sido tomadas e cumpridas.
E assim, com o coração apertado, navegando entre a raiva e a tristeza, surge a famosa esperança de que essa pandemia passe logo, que a cura ou a vacina chegue a todo mundo.
Desejamos, que no final de tudo, mesmo descrentes, que a humanidade tenha aprendido alguma coisa.

Tania Tait, professora aposentada da UEM, autora do livro “As mulheres na luta política”

  

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Um novo tempo


Comecei a me envolver com tecnologia em 1979 quando passei no vestibular do curso de Processamento de Dados da UEM. Naquela época e até meados dos anos 1980, a tecnologia do uso dos computadores era restrita a poucas pessoas e inimaginável para a maioria da população.
O tamanho dos computadores e sua capacidade possuíam uma desproporcionalidade: o computador era grande e sua capacidade de processamento e de memória, pequena. As empresas que possuíam os equipamentos usavam como propaganda de modernidade e desenvolvimento, muitas vezes, colocavam parede de vidros para que as pessoas vissem a sala onde ficavam esses “monstros” que poucas pessoas conseguiam dominar.
Com a evolução tecnológica, os computadores foram diminuindo de tamanho e a capacidade de processamento e de armazenamento aumentou consideravelmente. As aplicações computacionais começaram a se aprimorar em todas as áreas de conhecimento.
O desenvolvimento dos microcomputadores em meados dos anos 1970 aliado a discussão de descentralização da informação e de necessidade de acesso à população, começou a popularizar a computação, a ponto de se criar a estrutura do computador pessoal baseado na premissa: “um computador, uma pessoa”.
A evolução não parou por aí. Surgiram posteriormente os notebooks e outros equipamentos móveis mudando o paradigma para “onde a pessoa for, o computador vai com ela”. Ao ligar imagens e sons, o computador se mesclou aos aparelhos celulares surgidos no final dos anos 1990 (no Brasil). 
Hoje o celular e junto com ele, os aplicativos e o acesso a Internet estão com as pessoas e fazem parte do dia a dia e porque não dizer, do nosso minuto de tempo. Claro que o acesso não é facilitado e nem homogêneo. Não chega da mesma forma a todo mundo e mostra a desigualdade entre os países e dentro dos países.
Entretanto, agora em 2020, surpreendido por uma pandemia devido a um vírus difícil de combater, o mundo parou. Só não parou ainda mais por existir a tecnologia que possibilita que nos comuniquemos virtualmente. Plataformas foram aperfeiçoadas e liberadas para facilitar as reuniões virtuais que envolve um público cada vez maior.
Assim, reuniões de trabalho, entrevistas, aulas, festas entre tantas atividades encontram no mundo virtual uma forma de serem realizadas. Suprimiu-se o contato físico, o aperto de mão, a troca de olhares e as expressões faciais. A palavra da moda se tornou “live”.
Não se sabe até quando esse será o nosso modo de nos reunirmos, no entanto, a falta da presença começa a ser sentida. O isolamento revelou situações como o aumento da violência contra a mulher, a dificuldade de acesso ao ensino remoto e aos benefícios como o auxílio emergencial, a falta de políticas governamentais federais de combate ao coronavírus, entre outros problemas.
Por outro lado, as saídas para mercados e bancos ou outras necessidades, inicialmente substituídas por entregas nas residências, começam a tomar conta das ruas novamente. As máscaras, o álcool em gel e o distanciamento das pessoas se torna realidade. Dizem que quando tudo passar, esse será o “novo normal”.
Muitas teorias e estudos surgem, inclusive sobre o comportamento das pessoas, cujos otimistas consideram que será melhor e os pessimistas, que nada mudará. Uma coisa é certa, o mundo parou e pode respirar por um tempo.
Certamente, quando o “novo normal” for estabelecido, talvez confirmemos que quem era bom, continua bom, quem era ruim, continua ruim. 
Quem sabe cantemos com o cantor Ivan Lins: “No novo tempo, apesar dos castigos,
Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos,
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer...”
E assim caminhará a humanidade...Ou não.


Foto: Rio Paraná, da autora.

Tania Tait, professora doutora aposentada da UEM, coordenadora da ONG Maria do Ingá Direitos da Mulher