A notícia da morte de Clara Charf, hoje, aos 100 anos de idade, me trouxe à memória aquele dia em São Paulo, quando a conheci e troquei algumas palavras com ela.
A década era 1980, não sei
precisar o ano. O evento era uma reunião nacional das mulheres do PT, com
representantes de vários Estados, onde eu era uma das representantes do Paraná.
Na chegada, havia uma escada e
todas foram entrando no local. Ao meu lado estava uma senhora que parecia ter
um pouco mais de idade que as outras mulheres presentes. Observei que ela usava
acessórios na cor lilás. Percebi, também, que andava devagar e ofereci meu braço
pra ela subir as escadas. Ela aceitou e disse:
- você deve ser acostumada com
pessoas de mais idade
- sim, tenho minhas avós. Respondi
a ela.
- dá pra perceber. Você foi a
única que me esperou e acompanhou, as demais subiram as escadas sem nem reparar
quem vinha atrás.
Até então eu não havia me dado
conta de quem ela era. Na apresentação de cada participante da reunião, fiquei
de boca aberta, claro. Eu havia dado o braço pra acompanhar Clara Charf, a
esposa de Carlos Marighela, dois ícones na luta contra a ditadura militar. Ele
assassinado numa emboscada, ela exilada.
Na reunião, tarefas foram distribuídas
entre nós. Na reunião seguinte, meses depois, a Clara havia sido a única, da
sua equipe, que cumpriu a tarefa que lhe fora designada. A impressão que Clara
me deixou nessas duas oportunidades foi de uma pessoa que com segurança e
firmeza, cumpre suas atribuições de forma responsável e organizada. Provavelmente,
características herdadas de sua militância no combate ao governo da ditadura militar.
Seu retorno ao Brasil, pós-exílio,
não foi fácil, segundo ela, principalmente, pela dificuldade em obter emprego.
Foi uma das fundadoras do PT e apoiadora do MST, foi candidata, recebeu
homenagem no Governo da Presidente Dilma por sua trajetória na defesa dos
direitos das mulheres e atuou sempre na defesa da democracia.
Certamente, Clara Charf entra
para a história como um exemplo de resistência e luta pela democracia.
Clara, presente!!!
