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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Afinal, nunca é tarde!

Ontem assisti um filme de 2020, “A última escapada” (Never too late, nome original em inglês). No filme, Jack Bronson (James Cromwell) é separado de sua amada Norma (Jackie Weaver) na casa de repouso onde mora. Nessa casa, ele reencontra ex-combatentes de guerra que lutaram com ele no Vietnã. Eram chamados “os implacáveis”. Na tentativa de reencontrar sua amada que está em outra casa de repouso, eles se unem e, ao mesmo tempo, buscam realizar o desejo de cada um: Caine (Dennis Waterman) é diagnosticado com uma doença terminal; Angus (Jack Thompson) começa a desenvolver Alzeihmer e Wendel (Roy Billing) é cadeirante. Com Jack e um novo amigo, o adolescente Elliot (Zachary Wan), filho de uma das funcionárias da casa de repouso, o grupo arma estratégias para alcançar a realização dos seus objetivos. Além do jovem Elliot, eles tiveram apoio do filho de Wendel e da funcionária que cuidava de Norma. Não vou contar o final e nem o que eles queriam, afinal, a curiosidade serve pra despertar o interesse.  

Numa semana em que tive um sonho no qual me pai me abraça muito feliz, o filme me fez voltar ao passado, em algumas das situações em que fiz a vontade dos meus pais. As vezes cansada ou atarefada, quando vinha algum pedido deles, eu lembrava de dois jovens com 22 e 26 anos de idade, numa cidade, Maringá, com 14 anos e uma filhinha de um aninho (eu) acometida por paralisia infantil e, prontamente, os atendia.

Um desses pedidos, feito por meu pai, foi uma visita a Brodowski, sua cidade natal, que fica na região metropolitana de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Ele queria ir em dezembro, mas um pequeno AVC o impediu. Combinamos de ir no mês de abril, pois devido a uma greve seria férias na UEM. Não sei mais precisar o ano. Enfim, fomos, ele, minha mãe e eu. Adorei ser a motorista de um motorista de caminhão, claro que teve muita conversa na estrada, afinal eu estava ao lado de um especialista em estradas e motores.

Num viaduto perto de Ribeirão Preto houve a discussão sobre qual entrada pegar para a cidade.

- Pai, você viajou pra cá de caminhão faz muitos anos, deve ter mudado. Tinha esse viaduto?

 - Eu conheço aqui, você não conhece.

Ele já foi afirmando, teimou e eu obedeci. Não havia placa com o nome da cidade.. Uns 10 km depois, eu achei que a estrada estava muito movimentada.

- Pai, acho que estamos indo pra São Paulo. Tem muito movimento aqui. Pra Brodowski não deve ser assim.

- Tá bom, então para no posto e pergunta, disse ele.

Imagina a minha cara de vitória de filha quando o frentista disse:

- Volta, pega a primeira estrada do trevo, em direção a Batatais e Franca, logo aparece placa pra Brodowski.

Chegamos, visitamos os primos, um tio (irmão do meu avô) e tia com mais de 80 anos, na época, fomos no Museu do Portinari, tiramos fotos, visitamos os primos da tanoaria (fábrica de toneis para bebida) e voltamos pra casa. Minha mãe e eu rimos e trocamos muitos olhares durante a estadia diante de um pai risonho, feliz e com ares de menino de uma pequena cidade do interior. Aquele olhar feliz e ao mesmo tempo com dever cumprido, depois de tantas visitas familiares, quis voltar pra Maringá, ciente dos que se foram desta vida, dos doentes e das lembranças de menino naquela terra. Ainda demos uma parada em Ribeirão Preto para visitar um primo, de surpresa. O primo ainda vivia na mesma casa e o pai lembrou o endereço.

- Vamos embora pra casa, chega de ouvir falar de doenças.

Ao ouvi-lo, mais uma vez, minha mãe e eu rimos em silêncio. Ele estava certo.

Voltei eu pra casa, com sensação de dever cumprido. Valeu a pena dirigir mais de 600 km e desfrutar da alegria do meu pai. No fim das contas, a satisfação que tive em vê-lo tão animado naqueles dias me acompanha vida afora. Meu pai se foi em 2005, ficaram as lembranças, o amor incondicional dele por nós, as lágrimas quando ouvimos música sertaneja, daquelas antigas, os conselhos e os exemplos.

Enfim, com essas duas histórias, a do filme e a da nossa viagem para Brodowski, levo como lição que devemos prestar atenção ao que querem os nossos idosos, os quais podem ser pedidos simples ou podem ser complicados. Eles têm interesses, mesmo com as peles envelhecidas, redução da mobilidade ou doenças, as vontades estão ali, pulsando em suas veias. Se puder, atenda; se não puder imediatamente, se organize pra atender.

Certamente, o seu sorriso será proporcional, se não maior, do que a alegria deles e delas em ter seus desejos realizados. Não precisamos ser protagonistas, podemos ser coadjuvantes como a moça do filme que ajudou a senhora a chegar no píer pra ser pedida em casamento ou como o filho que possibilitou que os ex-combatentes fossem atender o pedido de um deles ou o adolescente que fez o mapa do local pra eles.

No final das contas, o que realmente importa, é que o sorriso, o amor e a alegria são espalhados e compartilhados.



 

 

2 comentários:

  1. Como e gratificante poder contar estás histórias de família.
    Lembranças que fazem a diferença nas nossas vidas.
    Bjs

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