Para compartilhar idéias!







terça-feira, 14 de dezembro de 2021

As dores femininas na pandemia

 

Como bem disse a filósofa Simone de Beauvoir, “Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados“. Nada mais atual do que esta frase ao olhar com atenção para as mudanças que ocorreram com a vida das mulheres na pandemia da Covid19. Com as crises sanitária, política e econômica decorrentes da pandemia, as mulheres são as mais afetadas tanto na vida privada como na vida profissional.

Os dados apresentados tanto pela imprensa como no Anuário da Segurança Pública mostram que houve aumento de feminicídio, agressões e importunação sexual. No mundo do trabalho, por sua vez, a taxa de desocupação das mulheres é maior do que a dos homens, ou seja as mulheres foram as que mais perderam seus empregos ou deixaram de trabalhar para cuidar das crianças que ficaram sem creches e fora das escolas. Portanto, a vida das mulheres foi afetada tanto no privado como no público. Não dá pra separar o que acontece na vida das pessoas da atenção que os governos dão para os problemas que ocorrem na sociedade.

Dessa forma, o aumento da violência contra a mulher teve ainda a redução de orçamento federal para o combate a este mal que aprisiona e causa danos irreversíveis para a vida das mulheres e crianças que são afetadas, física e psicologicamente, pelas agressões. A partir dos dados, o governo federal teria justificativas para as políticas públicas para as mulheres, mas não o fez, optando por reduzir o orçamento.

Ao tratar do desemprego e da violência que afetam sobremaneira a vida das mulheres, uma situação deve ser destacada, além do fato das mulheres serem as que mais ficaram fora do mercado de trabalho.  Trata-se de um tipo de violência que faz com que muitas abandonem suas carreiras profissionais para cuidar das crianças e dos idosos das famílias, num período marcado pelo distanciamento social, fechamento de diversos serviços e cuidados com uma doença agressiva que se espalhou rapidamente.

Normalmente, no cuidado das famílias, as mulheres assumiram esse papel em que os homens foram os provedores enquanto elas cuidavam do lar. Muitas aceitaram essa incumbência, mesmo tristes, sem questionar, considerando esse um papel inerente à elas. Muitas procuram justificativas com a afirmação de que todos da família ficaram bem de saúde e que conseguiram ensinar, brincar e estar mais próximas das crianças. Afinal, estamos em uma pandemia...

No entanto, eis aí um tipo de dor para ser estudado. Aquela culpa antiga por desejar uma profissão e confiar os cuidados das crianças para creches, escolas ou outros, foi substituída pela culpa de ter uma profissão ao invés de proteger a família da pandemia. Não que essa proteção seja errada, pelo contrário é muito bem recebida. No entanto, deve ser pensado no significado de dois anos afastada de uma profissão ou atividade que gosta por uma conjuntura que a forçou a isso. Não foi por escolha ou vontade própria, trata-se daquela imposição velada que a mulher assume como sua verdade, ao colocar todos os argumentos para justificar que, no final das contas, valeu a pena pois todo mundo ficou bem.

E ela? Ficou bem? Se ficou, tudo certo. Mas se restou alguma tristeza ou algum sentimento de frustração pela falta da atividade profissional que gostava de realizar, é algo a ser tratado e não pode ser ignorado.

Afinal, a pandemia revelou que mais uma vez, as mulheres sofreram e tiveram seus direitos, além de questionados, retirados. Na busca da igualdade, situações desse tipo devem ser avaliadas para que tanto a divisão das tarefas domésticas como  ocupação de espaços de poder feita por homens e mulheres seja o  normal na sociedade e não retroceda durante a ocorrência de cada crise sanitária, política, econômica ou religiosa.

 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário