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terça-feira, 17 de setembro de 2024

As cores da democracia

Na adolescência, no final dos anos 1970, o professor de Educação Moral e Cívica (sim, existia uma disciplina com esse nome no ensino médio) pediu pra lermos a Constituição. Lá encontrei que existia eleição para governador de Estado e perguntei ao professor por que não havia eleição no país se estava escrito na Constituição. Ele ficou vermelho e desconversou dizendo que os governadores eram indicados. Tentei argumentar, mas devido a reação dele, desisti.

Anos depois, fui compreender que se ele tivesse me respondido, poderia ter sido preso, torturado e sabe-se lá mais o que poderia acontecer com o professor pois vivíamos num governo de ditadura militar.

Juntava-se a isso a famosa Lei Falcão, criada em 1976,  durante a Ditadura Militar no governo de Ernesto Geisel, que proibia os candidatos de fazer qualquer tipo de pronunciamento no horário eleitoral do rádio e da TV. Era permitido apenas a divulgação do nome, o número e um breve currículo de cada candidato, além de sua fotografia na TV.

De acordo com a Agência Senado, “a Lei Falcão foi suspensa em 1985, em meio à regulamentação das primeiras eleições municipais no país após a redemocratização. Apenas em 1997, com a aprovação da Lei Eleitoral que está em vigor até hoje, a Lei Falcão foi definitivamente varrida do ordenamento jurídico brasileiro.” (Fonte: Agência Senado, 2016). https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/ha-40-anos-lei-falcao-reduzia-campanha-eleitoral-na-tv-a-lista-de-chamada

De lá pra cá muita coisa mudou e os programas eleitorais se transformaram em grandes produções, quase mini comerciais ou mini filmes, com cores, músicas, jornalistas âncoras e pessoas apoiadoras das candidaturas.

Um dos pontos que chama atenção é que a democracia, duramente reconquistada, não contempla todos os setores da sociedade, como era de se esperar. Mulheres, negros, juventude, lgbtqia+, PCDs (pessoas com deficiência), classe trabalhadora, dentre outros, não tem representatividade na política de acordo com o tamanho de sua população e importância no cenário nacional. Portanto, pode-se afirmar que não se tem ainda a verdadeira democracia, quando a maioria dos que disputam são oriundos das classes empresarias (sejam fazendeiros ou de empresas), profissionais liberais, alguns do setor público e poucos ou nenhum vinculados à iniciativa privada, como empregados. Basta verificar a distribuição no Congresso Nacional e até nas Câmaras Municipais. https://www.camara.leg.br/noticias/913922-advogados-e-empresarios-sao-a-maioria-entre-profissionais-eleitos-para-a-camara-dos-deputados/

Entretanto, apesar das grandes dificuldades e inúmeros problemas que ainda persistem na política brasileira, não há nada mais bonito do que ver as bandeiras de diferentes agremiações políticas tremulando ao vento nas eleições, com a liberdade de estarem ali, mostrando sua cara e suas propostas, num colorido que remete a alegria de viver numa democracia. 


 Imagem extraída da Internet

 

sábado, 24 de agosto de 2024

A importância das eleições municipais

As eleições municipais podem ser tratadas sob dois aspectos: para a população e para os políticos. Para a população é a esperança de ver seus problemas em termos de saúde, educação básica, segurança, transporte, limpeza urbana, dentre outros, serem resolvidos. Afinal como diz a música: "É na minha, na sua cidade que se começa a ser feliz", pois nas cidades é onde se vive o cotidiano. Portanto, analisar bem as propostas e a vida política de candidaturas à prefeitura e a vereança são fundamentais para que a vida na cidade melhore. De nada adianta, ter legisladores e executivo que não se preocupam em transformar  a vida dos habitantes do território, seja na cidade ou no campo.


Para os políticos, entretanto, as eleições municipais tem outro prisma, que é o da continuidade de seu poder político, de seu partido ou de futuros candidatos. Não é à toa que ex-políticos sem cargos ou políticos com mandatos se desdobram em eleger seus indicados ou apoiados. Isso não está errado nem é crime, mas a população precisa começar a identificar o que está pode trás desse empenho todo. Certamente, eles não estão de olho apenas na melhoria da vida nas cidades, mas principalmente na próxima eleição, ou seja, o resultado das eleições municipais poderá significar o fortalecimento ou derrocada desses políticos, mesmo que eles ou elas não estejam na disputa oficial neste pleito.


Ao compreender esses dois aspectos, cabe ao eleitor e a eleitora identificar se aquelas propostas estão de acordo com a sua realidade e as necessidades de sua cidade para melhorar a vida da população de forma inclusiva e não apenas de alguns setores da sociedade ou de determinados locais, como, por exemplo, apenas o centro da cidade, ignorando a existência dos bairros e da periferia das cidades. 

Deve-se verificar também o tipo de pauta defendida pelos políticos pois muitas, enganam a população, por demandarem a promulgação de leis federais ou estaduais, até mesmo de código civil e não apenas leis municipais.


Não é tarefa fácil, mas se faz necessária para que sejam eleitas pessoas que, verdadeiramente, estejam interessadas em promover o bem estar em todos os aspectos e para toda a população.

                                                            Foto: TRE - Paraná
 

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Lei Maria da Penha alcança a maioridade e completa 18 anos

Considerada uma das melhores leis do mundo, a Lei 11.340/2006, chamada Lei Maria da Penha, sancionada em 07 de agosto de 2006, no primeiro governo do Presidente Lula,  completa 18 anos. Inspirada pela triste história da farmacêutica Maria da Penha, cobrada pelos mecanismos internacionais e pelo movimento feminista brasileiro para o combate a violência contra a mulher, a Lei  busca cumprir seu papel maior de garantir a vida das mulheres, sem violência.

A Lei Maria da Penha trouxe novas formas de enxergar a violência contra a mulher e atingiu diretamente dois grandes setores: a sociedade e o setor público.

A sociedade foi atingida pela necessidade de mudança de comportamento e de entendimento sobre a violência contra a mulher. Antes relegada a quatro paredes com o lema “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”, a Lei Maria da Penha possibilitou que a violência, retirada do âmbito doméstico, possibilite denuncia, inclusive anônima.

A Lei, também, trouxe a classificação dos vários tipos de violência (física, sexual, emocional, moral e patrimonial). Essa classificação nos fez enxergar para além do olho roxo ou das inúmeras desculpas dadas pelas mulheres sobre tombos fantásticos que lhes deixam marcas físicas, mas, principalmente, marcam em suas mentes.

Por sua vez, o setor público foi acionado com a necessidade de integração entre todos os setores envolvidos: a polícia, a justiça, a saúde e a assistência social. A polícia, já com experiência pelas Delegacias da Mulher, criadas nos anos 1980, passou a ser qualificada para o atendimento, acolhimento e acompanhamento às mulheres em situação de violência.

As varas de violência doméstica na justiça proporcionaram que juízes se especializem no combate à violência contra a mulher, da mesma forma que outras áreas do setor público como saúde e assistência social desenvolvam protocolos de atendimento e acompanhamento às mulheres. Salienta-se o papel relevante dos governos nas esferas federal, estadual e municipal ao criar organismos específicos de políticas públicas para mulheres, como o Ministério da Mulher, Secretarias Estaduais e Municipais.

Entretanto, a despeito da Lei e desse alcance na sociedade e no setor público, os dados de violência contra a mulher aumentaram significativamente no Brasil, como apresenta o Anuário Brasileiro da Segurança Pública. Uns dizem que o aumento das ocorrências é pela coragem das mulheres em registra-las nas delegacias, outros dizem que é porque homens não aceitam o “não” como resposta. As duas situações são realidade. Tanto a coragem das mulheres quanto o  não aceite do fim do relacionamento por parte de alguns homens, fazem parte da estatística do combate à violência contra a mulher.

Certamente, o fato dos homens se sentirem donos do corpo, da alma e dos bens das mulheres é o motivador para as agressões e para a expressão final da violência, o feminicídio.

A Lei Maria da Penha alcançou sua maioridade, com a inclusão de novos complementos para sua melhoria ao longo de sua existência e com a oportunidade para as mulheres em situação de violência recuperarem suas vidas e viver sem violência.

Nessa trajetória, a Lei trouxe desafios e escancarou a realidade brasileira, quando mais de 70% das vítimas conhecem o agressor.

O cenário brasileiro traz a necessidade de mudança cultural na sociedade e dessa forma, faz-se urgente educar nossos meninos e meninas para que aprendam a respeitar as mulheres, não apenas por serem suas mães ou irmãs, mas por serem pessoas. Que meninos aprendam a respeitar quando ouvirem um “não” (não quero, não vou...), que enxerguem que as mulheres, da mesma forma que eles, tem suas vontades, interesses e necessidades.

E por fim, a igualdade colocada na Constituição Brasileira não é brincadeira e exige uma nova maneira de enxergar a vida e os relacionamentos desde o pessoal até na política, afinal está escrito, nitidamente, que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações” (Artigo 5.)

Há necessidade, portanto,  que as leis sejam validadas pela nossa existência, o que faz com que sigamos firmes e constantes no combate sistemático à violência contra a mulher e na igualdade de direitos entre mulheres e homens!!!

Pelo fim da violência contra a mulher, um brinde à Lei Maria da Penha em sua maioridade!!!


 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 29 de julho de 2024

A vida em tempos de Story

A modalidade story no instagram (e no facebook) faz muito sucesso. Ela serve para colocar postagens que duram por 24 horas, logo sendo substituídas por novas publicações.

De acordo com os/as “instagrameiros/as”, o Story serve para postar fotos ou vídeos que não precisam permanecer fixas como no “feed” (aquele espaço onde elas só saem se a pessoa que postou retirar). O critério do que deve ser fixo ou ir para Story é definido pela pessoa dona do perfil na plataforma na Internet. No entanto, algumas dicas são sugeridas, tais como: postar fotos ou vídeos em eventos, shows etc que indicam que a ocorrência é passageira.

Independente do critério, o fato é que a maioria das postagens está no Story e elas tem infinitamente mais “curtidas” do que as que ficam no “feed”.  Alia-se a isso o fato de não precisar entrar em área alguma pois os Story ficam na entrada do aplicativo e basta clicar em cima dele pra ver e curtir.

Ao pensar na rapidez da criação e da disseminação da informação, pode-se relacionar o uso crescente do Story com a velocidade gritante na atualidade,  quando a nova informação substitui rapidamente a anterior que ficou ultrapassada.

Assim, acontece com as informações e consequentemente com a vida. Ao saborear uma postagem interessante sabe-se de antemão que ela não estará disponível em 24 horas. Além da facilidade de acesso lida-se com o prazo de validade da informação.

Isso remonta à própria literatura. Ao se fazer uma comparação simplista entre os livros clássicos e atuais, percebe-se que houve uma mudança substancial na forma de descrição dos fatos, dos locais e das personagens de uma história. Antes detalhada e minuciosa, as histórias, também passaram a ser contadas de forma mais direta e resumida.

No mundo profissional, em décadas passadas, trabalhadores (as) permaneciam por anos na mesma organização empresarial e isso era visto como motivo de competência e orgulho. Com novas opções de profissões e oportunidades, com a globalização e a facilidade de deslocamento, essa visão mudou e não é mais considerada como critério para contratação de pessoal.

No mundo digital, a mudança também ocorreu ao longo do tempo e com o lançamento de plataformas fáceis de usar. Dessa forma, no surgimento dos blogs houve a escrita organizada de forma a divulgar ideias, informações etc, principalmente blogs pessoais, os quais caíram em desuso na medida que os acessos se tornaram mais rápidos, o que faz com que as pessoas se desinteressem por textos longos. Junte-se a isso as opções disponíveis nas diversas plataformas digitais de postagens de vídeos ou limitação de quantidade de linhas ou caracteres num texto.

Em um mundo em que o tempo parece andar mais rápido, em que muitas pessoas não tem tempo de ler ou sequer tem o hábito da leitura, os story fazem um grande sucesso pois a  informação está colocada por meio de imagens, poucas letras e as pessoas sem muita análise ou profundidade de leitura, compreendem o recado dado. No entanto, essa limitação se torna, também, um terreno fértil para a propagação das famosas “fake news”, as mentiras divulgadas no mundo digital, as quais devem ser sempre combatidas.

No final das contas e do tempo, o desafio é o cuidado com essa instantaneidade para não perder os momentos da vida real que são recheados de emoções que fazem os olhos lacrimejarem, o sorriso iluminar o rosto e o coração bater mais forte.


 

 

 

 

domingo, 21 de julho de 2024

Echarpes, lenços, pashminas, xales e suas histórias

Outro dia fui colocar uma echarpe (pashmina, cachecol, lenço, xale...os nomes variam de acordo com o tipo e a moda) e senti cheiro de mofo. Daí resolvi verificar as demais e o resultado é que as lavei criando um varal colorido. Tenho uma coleção, de vários tipos e cores. Algumas ganhei de presente, outras comprei, algumas doei, uma pedi pra uma amiga fazer...enfim cada uma tem sua história.

Me dei conta de que boas lembranças acompanham cada uma delas, usadas em festas, viagens, trabalho ou no movimento social. No trabalho, por décadas, me protegi com elas, no frio na UEM (Universidade Estadual de Maringá), com seu campo aberto.

No tempo em que o mundo era menos raivoso, me apelidaram de "Penélope" na UEM em referência a pilota de carro Penélope do desenho Corrida Maluca pois ela usava um cachecol cor de rosa e era a única "menina" na corrida. O desenho passava na TV nos anos 1960 e 1970 e era famoso por ter um vilão, Dick Vigarista que sempre procurava trapacear nas corridas. Ela fazia parte do time dos corretos, se vestia de rosa e era chamada de “Penélope Charmosa”. Naqueles tempos, a sua figura era associada com a vaidade feminina, mesmo em uma corrida num deserto cheio de poeira e competindo com os homens de igual pra igual.

No final dos anos 1990, conheci o Peru, onde mais uma delas, adquirida na viagem, me aqueceu no frio da Cordilheira dos Andes.

Na I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em 2004, fomos presenteadas com echarpes confeccionadas por artesãs, vinculadas a um projeto social da Petrobrás. No evento, éramos mais de 2000 mil mulheres representantes de todo o país.

Um dia andando pela cidade, em Maringá, me deparei com um cachecol diferente, fotografei e pedi pra uma amiga fazer. A amiga se tornou minha madrinha de casamento, além de atuarmos juntas desde os anos 2001 na defesa dos direitos das mulheres e da democracia.

Tem a história do cachecol feito de tricô pela mãe de um orientando do mestrado em Ciência da Computação, que me presenteou pois viu que eu usava sempre. Gosto muito de trabalhos manuais pois a pessoa faz com carinho e pensando em quem vai presentear. Tem aquelas usadas nas apresentações do Coro Feminino da UEM, a rosa e a de chita, cada uma para um tipo de evento e de músicas.

No Vaticano, em 2018, a echarpe nos salvou, a mim e amigas, de sermos barradas na entrada pois estávamos com regatas devido o calor e não tínhamos visto que pra entrar os ombros precisam estar cobertos. A regra nos causou surpresa e risos pois tínhamos passado por uma rua cujas lojas mostravam  pênis da estátua de Davi e outras imagens de nudez desenhadas em chaveiros, aventais, cartões etc. Ao final, deduzimos, a gargalhadas, que o “pecado” está nos ombros nus e não nas partes íntimas.

Tenho uma das echarpes na cor vermelha, ora combinada com roupa preta, ora usada em manifestações e movimentos políticos pra destacar o vermelho como luta da classe trabalhadora. Tenho lenços na cor lilás, cor usada no mundo pelo movimento feminista e na defesa dos direitos das mulheres.

O tempo passou, o mundo mudou, mas as mulheres continuam quase inexistentes nas corridas a despeito dos esforços  das federações esportivas e das próprias pilotas, são poucas na política e nos espaços de poder. Nesse tempo de mudanças, a peça ao redor do pescoço e do colo, continuou uma exclusividade feminina, sendo relegado aos homens, o uso de um sóbrio cachecol.  

Olha aí uma boa pesquisa, se é que já não foi feita, sobre os usos das indumentárias ou acessórios para o pescoço e colo e as mudanças sociais ao longo do tempo.

 

Curiosidade:

Quem são as mulheres que já competiram na Fórmula 1? Disponível em:

https://www.band.uol.com.br/esportes/automobilismo/formula-1/noticias/quem-sao-as-mulheres-que-ja-competiram-na-formula-1-16349105               Matéria de 13/05/2021

 

 

                                              Penélope Charmosa e turma da Corrida Maluca

                                             Imagem  capturada da Internet (21/07/2024)