Atuo no movimento de
mulheres desde a minha vida estudantil, fui uma das fundadoras e primeira presidente
do Fórum Maringaense de Mulheres e da Ong Maria do Ingá Direitos da Mulher, atuei
como presidente do Conselho Municipal da Mulher de Maringá por duas gestões
(2004-2006 e 207-2019) e fui conselheira no Conselho Estadual dos Direitos das
Mulheres. Atualmente, faço parte como voluntária, da coordenação de imprensa da
Ong Maria do Ingá, coordeno o Grupo de
Trabalho Igualdade do Movimento ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) Maringá
que engloba o ODS 5 – Igualdade de Gênero e ODS 10 – Redução das desigualdades
e participo da Marcha Mundial das Mulheres.
Nesta trajetória, certamente, presenciei
muitas coisas absurdas, mas havia uma sensação de consolidar as conquistas
femininas, principalmente no estabelecimento de políticas públicas. Sensação destruída
de forma concreta a partir do golpe de 2016 que tirou do governo a Presidente
Dilma, única mulher no poder maior do país desde sua criação. De lá pra cá as
políticas públicas para mulheres foram sendo destruídas, não se realizaram as
conferências nacionais e houve corte federal no orçamento de combate à
violência contra a mulher. Vale destacar que o primeiro governo após a saída da
Presidente Dilma era composto de um ministério de homens brancos, ricos e
autodeclarados héteros.
Aqui no Estado do Paraná,
famoso por seu conservadorismo, somos cenário de algumas situações alarmantes
como figurar entre os estados mais violentos com as mulheres, com aumento de
feminicídio e poucas mulheres nos espaços de poder seja na política ou nas
empresas privadas, um Estado sem infraestrutura para atender os casos de
violência contra a mulher com apenas 20 delegacias da mulher (DM) para seus 399
municípios. Muitas das DMs com homens
delegados na titularidade, a despeito da reivindicação dos movimentos de mulheres
para que seja uma delegada. Um destaque
para Sarandi, cidade com mais de 100 mil habitantes, altos índices de violência
contra a mulher e sem uma DM especializada para atender a população feminina. É
assim que se vê, na prática, a lógica machista e misógina como balizadora das
decisões governamentais.
Isso se mostra,
fortemente, no decreto do governador Ratinho Jr ao nomear um homem branco para
a recém criada Secretaria da mulher e da Igualdade Racial, num desrespeito cabal
aos movimentos de mulheres e da comunidade negra do Estado do Paraná.
O governador, então
candidato à reeleição, participou de uma reunião com mais de 2000 mulheres em
Maringá, quando assumiu o compromisso de criar a Secretaria da Mulher ao ser
cobrado pelas presentes. A reunião não estava na agenda do candidato, mas
entrou de última hora como oportunidade, provavelmente, pela análise do tamanho
expressivo do público. Também houve mobilização do Movimento Mais Mulher no
Poder Paraná, o qual congrega mulheres de diferentes partidos políticos, com solicitação
da criação da secretaria estadual da mulher, do aumento do orçamento de combate
à violência contra a mulher e de 50% dos cargos no executivo ocupado por
mulheres.
A criação da Secretaria
Estadual de Mulheres, pleiteada pelos movimentos sociais por décadas,
finalmente, é criada. No entanto, no dia 12 de janeiro, as paranaenses são
surpreendidas com a nomeação, interina, de um homem branco como titular da
Secretaria. De acordo com informação dada pelo governo, a nomeação é momentânea
até que seja nomeada uma mulher.
Não interessa se é
momentâneo, esporádico ou outra coisa, o que importa é o desrespeito às
mulheres, como no caso das DMs em que se alega que não existem delegadas; em cidades
com alto índice de violência não são criadas DMs, entre outras coisas que
mostram que as políticas públicas para mulheres só importam em período
eleitoral, depois são descartadas ou maquiadas, com a justificativa de que “não
tem mulher para assumir ou não tem orçamento para realizar” entre tantas
desculpas que se ouve.
Assim, a nomeação de um
homem branco para uma secretaria da mulher e da igualdade racial, além do machismo
gritante, apenas consolida o que se sabe: as paranaenses são valorizadas apenas
na campanha eleitoral por serem 52% do eleitorado e aí, sim, podem fazer toda a
diferença na escolha das candidaturas.
Então, paranaenses,
comecem a prestar atenção nas candidaturas, na história e parem de eleger
pessoas que votam contra nós e desrespeitam nossa trajetória na construção do
Estado do Paraná, afinal somos mais de 50% e, também somos força produtiva e política.
Valorizemos nossa trajetória e nosso legado.
OBS: "Eu não aceito um delegado da mulher! É meu direito!"
http://www.taniatait.com.br/2021/06/eu-nao-aceito-um-delegado-da-mulher-e.html