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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Apoio à criação do Conselho Municipal LGBTI+ de Maringá

 Perguntas que me intrigam desde que a Câmara adiou a votação do Conselho LGBTI+ em Maringá, pressionada por religiosos e conservadores:

 
Se LGBTQIA+ tem obrigações por que não não pode ter direitos?
Se LGBTQIA+ paga impostos, por que não pode ter um Conselho de Direitos?
Se LGBTQIA+ sustenta família, por que não pode ter um Conselho LGBTQIA+?
Se LGBTQIA+ são maltratados na área de saúde e sofrem preconceito em todo lugar, por que não pode ter um Conselho de Direitos?
Se LGBTQIA+ pode constituir família, casar e adotar crianças por que não pode ter um Conselho de Direitos?
Se o Brasil é o país que mais mata trans no mundo, por que não pode ter um Conselho de Direitos?
 

 

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Marcha Mundial das Mulheres: Participação na reunião do Conselho da Mulher

Participei da reunião do Conselho Municipal da Mulher de Maringá  para apresentar sobre a Marcha Mundial das Mulheres. Na foto, com a presidente do Conselho, Profa. Dra. Crishna Correa (UEM) com o meu livro doado ao Conselho.





Orgulho de ser mulher

Em uma aula sobre a história das mulheres, apresentei uma série de símbolos utilizados no movimento feminista. Dentre eles, o “orgulho de ser mulher”. Algumas alunas comentaram a frase dizendo que já sentiram vontade de ser homem pela facilidade da vida deles. A partir daí começamos a conversar e refletir sobre o porquê da frase símbolo “orgulho de ser mulher”.

Lembrei da primeira vez que ouvi uma mulher dizer que se pudesse voltar à vida, queria voltar como homem e não como mulher. Eu era adolescente e fiquei intrigada com a frase. Por que ela queria voltar como homem? Pensava nas mulheres maravilhosas ao meu redor, minhas avós, minha mãe, minhas tias, minhas professoras, todas firmes em seus trabalhos e afazeres, cada uma com suas especificidades e talentos.

Não estamos tratando aqui sobre os casos das mulheres que não se sentem pertencentes ao seu corpo como mulher, sendo de todo direito poderem escolher o que as torna felizes, como todas as pessoas. Estamos falando das mulheres que preferiam ser homens pela condição social e a visão de que os homens podem tudo e as mulheres nada podem.

Fiquei muitos anos sem pensar nisso, mesmo ouvindo outras mulheres ao longo da vida falarem que preferiam ser homens por considerarem a vida deles mais fácil.

Quando conheci a frase “orgulho de ser mulher”, a incorporei imediatamente compreendendo que a vida dos homens é supostamente mais fácil por vivermos numa sociedade machista que impede as mulheres de se desenvolverem de forma completa como desejarem, sendo ou estando onde elas quiserem, amando e vivendo da maneira que as tornem felizes.

Portanto, a própria expressão de que queria voltar como homem inibe a luta em defesa dos direitos das mulheres, pois causa a sensação de que a vida tem de ser assim mesmo, com dificuldades para mulheres. Dificuldades que vão desde a sobrecarga das atividades domésticas a cargo apenas da mulher, aos salários menores, a violência contra a mulher, ao assédio moral e sexual.

Algumas mulheres salientam como problemas, os elementos relativos ao corpo da mulher tais como menstruação, gravidez, amamentação ou menopausa, os quais com atenção integral à saúde da mulher, acolhimento e cuidados podem se transformar em experiências maravilhosas e únicas.

Graças ao movimento feminista que trouxe a defesa dos direitos das mulheres, a igualdade entre mulheres e homens e a luta pelo fim da violência contra as mulheres, podemos nos expressar com orgulho de ser mulher, em todas as suas expressões. Somos mulheres negras, indígenas, brancas, ciganas, lésbicas, trans, héteros, portadoras de deficiência, mulheres dos campos e das florestas, ribeirinhas, trabalhadoras, sindicalistas, entre tantas outras, enfim, somos diversas, plurais e maravilhosas.

Assim, ao invés de esperar uma possível ou não volta como “homem”, transformemos o que consideramos empecilhos para as mulheres em ações para a igualdade  de direitos.

Também não posso voltar atrás no tempo da minha adolescência e falar para aquela mulher o que penso hoje, mas posso falar para todas as mulheres que se orgulhar de ser mulher significa empoderamento e, com isso, passar a exigir a igualdade entre mulheres e homens, aqui e agora.

Eu? Se pudesse voltar? Gostaria de voltar como mulher! 


 

  

 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Lei Maria da Penha completa 15 anos

Promulgada em 07 de agosto de 2006 pelo então presidente Lula, a Lei 11.340/2006, chamada Lei Maria da Penha é considerada uma das três melhores leis do mundo no combate à violência contra a mulher.

Dois grandes pilares da Lei Maria da Penha: retirar a violência contra a mulher do âmbito privado tornando-a responsabilidade pública e tipificar a violência mexeram com a estrutura do setor público em atendimento às novas demandas no combate à violência contra as mulheres e a proteção às mulheres em situação de violência.

Assim, ao longo dos seus 15 anos, foram criados e aperfeiçoados serviços de prevenção e atendimento às mulheres em situação de violência, criadas estruturas no sistema judiciário, incluídos protocolos de atendimento na polícia e no IML (Instituto Médico Legal) , entre tantas ações que possibilitam proteção e amparo às mulheres e mais punição aos agressores.

Na transformação da máxima “Antes quem batia em mulher era covarde. Agora é criminoso”, o uso da lei possibilitou que muitas mulheres fossem salvas, inclusive da possibilidade de sofrerem o desfecho fatal em suas vidas por meio do feminicídio.

Ao combater a frase conhecida “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”, a Lei Maria da Penha colocou em xeque a dominação do homem sobre o corpo e a alma da mulher, possibilitando a criação de novas e facilitadas formas de denúncia sobre agressões, inclusive por meio de denuncias anônimas.

Existem ainda muitos desafios com relação à aplicação da Lei Maria da Penha, no entanto, o saldo desse aniversário de 15 anos é bastante positivo ao se verificar como os serviços foram ampliados e melhorados, como  muitas mulheres se fortaleceram para sair da situação de violência e como a Lei foi apropriada pelas mulheres como uma conquista a ser mantida.

Além da redução de verbas para o combate à violência contra a mulher por parte do governo federal, a falta de delegacias da mulher, a falta de Patrulha Maria da Penha, entre outras ações importantes, um dos grandes desafios é a qualificação para o atendimento humanizado às mulheres, por parte da área de saúde, do judiciário e da polícia. Exemplos de parceiras entre a sociedade civil organizada, universidade e prefeituras municipais começam a surgir para aperfeiçoar o atendimento às mulheres em situação de violência.

Ainda, no Brasil, muitas mulheres são desestimuladas a realizar boletins de ocorrência sobre a violência sofrida, são mal atendidas em IMLs, tem demora na expedição de suas medidas protetivas, entre tantas situações que as colocam em situação de desproteção diante do agressor. Por isso, a qualificação de todas as pessoas envolvidas se torna importante no fortalecimento da defesa da vida das mulheres.

Aliado a esses desafios, tem-se a necessidade de monitoramento da situação da rede de prevenção e atendimento para que sejam, cada vez mais, aperfeiçoados os serviços no combate à violência contra a mulher.

Enfim, a Lei Maria da Penha exige a contrapartida de todos  os setores envolvidos e da sociedade que, cumpre um papel fundamental ao fazer valer a Lei e “meter a colher”, sempre que for necessário para salvar uma vida de agressões e da morte.



 


segunda-feira, 26 de julho de 2021

Marcha Mundial das Mulheres visita a Secretaria da Mulher de Maringá

Nessa segunda-feira, 26/07, as representantes da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) em Maringá, Margot Jung e Tania Tait se reuniram com a Secretária de Políticas Públicas para Mulheres (Semulher), Terezinha Pereira.
Na reunião, as integrantes da MMM trataram sobre a realização do evento “Agosto Lilás”, uma atividade que ocorre em todo o Brasil, tendo como principal eixo o combate pelo fim da violência contra a mulher e a marca da data de 06 de agosto da promulgação da Lei Maria da Penha.
Para Terezinha Pereira, o apoio de um movimento respeitado internacionalmente como a Marcha Mundial das Mulheres vem fortalecer a luta pelo fim da violência contra a mulher em Maringá. Terezinha aproveitou a reunião para convidar a entidade a participar da atividade do dia 31 de julho promovida pela Semulher. A atividade é relativa ao “Dia estadual de combate ao feminicídio” em 22 de julho.
Para Margot Jung, a parceria entre os movimentos organizados de mulheres e o setor público é uma das ações apoiadas pela MMM que estará presente no dia 31 de julho na atividade promovida pela Semulher.
Também foi reiterado o apoio da MMM a que seja uma mulher no comando da Delegacia da Mulher em atendimento à Lei Maria da Penha, reivindicação feita tanto pela Semulher como pelo Fórum Maringaense de Mulheres. Tania Tait considera que a legitimidade dessa luta faz com que a MMM a leve, também, para discussão em nível estadual e nacional.
Ao final da reunião, todas as participantes confirmaram a necessidade da parceria entre setor público e movimentos sociais para o estabelecimento de políticas públicas para mulheres, pelo fim da violência contra a mulher e pelo fim de toda forma de discriminação.


 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

O Museu Esportivo de Maringá em nossas vidas

Participei do lançamento do Museu Esportivo de Maringá (MEM) em seu lançamento como museu itinerante na antiga e saudosa Casa de Bamba. Naquele dia vi muitos ex-atletas, senhores e senhoras de cabelos brancos se reencontrando, alguns jovens, compartilhando momentos passados e se confraternizando. Alguns eu conhecia, outros conheci naquele dia.

Sempre fui ligada ao esporte, na adolescência como atleta de natação e de ginástica desportiva. Na vida adulta, como atividade física apenas. Com o namoro e o casamento com o Luis Antonio, ex-jogador do Grêmio (e de outros times, inclusive no sub-20 da Seleção Brasileira) a proximidade ficou maior.

Participei da inauguração do Museu no espaço físico atual. De lá pra cá, Luis e eu sempre procuramos participar das atividades.

A existência do MEM nos trouxe lembranças e propostas. Um grupo de ex-atletas de GRD – Ginástica Rítmica Desportiva, no qual me incluo, estávamos organizando junto com a professora Glória Soares Nakashima, falecida ano passado, a história da GRD  em Maringá, a começar com homenagem a professora Sara Machado Genaro (falecida em 2011) que trouxe a modalidade, sendo a primeira técnica na cidade. O MEM estava programado para ser o guardião, também, dessa história. O falecimento da professora Glorinha adiou essa programação.

Estou, também, como o material e fotos do meu tio José Luiz Tait, ex-árbitro de futebol para levar ao  MEM assim que for possível diante das restrições pela pandemia.

A minha participação no Museu me levou, rapidamente, a conhecer a turma toda de ex-atletas, profissionais, amadores ou apenas amantes do esporte. Por esse envolvimento, quando estive como Presidente do Conselho da Mulher e da Ong Maria do Ingá tive a oportunidade de convidar o Museu Esportivo de Maringá para participar da III Pedalada/ Caminhada pelo fim da violência contra a mulher.

Fui, então, chamada para uma reunião pelo criador e presidente do Museu, o jornalista Antonio Roberto de Paula para apresentar o evento organizado pelo Conselho da Mulher e pelo Fórum Maringaense de Mulheres.

Num sábado de manhã fui na reunião. Eu era a única mulher presente naquele dia. Expliquei qual era o objetivo da Pedalada/Caminhada e que seria muito importante para a luta pelo fim da violência a participação do MEM. Alguns deles comentaram sobre situações de violência que viram ou tinham ouvido falar. Fechamos o acordo para participar.

Assim, em uma manhã de sábado de novembro de 2019, estávamos nós, mulheres e os amigos do MEM juntos, lado a lado, chamando a atenção da cidade pelo fim da violência contra a mulher.

Nesse ano de 2021, uma ação de solidariedade do MEM nos fez pensar em unir forças novamente e por meio da ONG Maria do Ingá, nos reunimos na arrecadação de produtos de higiene e limpeza, principalmente absorventes higiênicos para famílias carentes em parceria com os vicentinos da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe. Novamente, os amigos do MEM compreenderam a importância da nossa solicitação, agora a respeito do absorvente higiênico pela dificuldade das mulheres adquirirem o produto diante da pandemia.

O que nos reúne como sociedade civil, amigos do MEM e movimento de mulheres é a solidariedade diante do sofrimento ocasionado seja por atos de violência contra a mulher ou por efeitos de uma pandemia. O fato é que nos unimos e criamos laços que, esperamos, possam nos levar a outras caminhadas em comum no futuro.

Pessoalmente, de tudo que presenciei e acompanhei nesses anos, penso que, além de resgatar e guardar a história do esporte maringaense, o MEM uniu pessoas em um objetivo comum, trouxe suas histórias e resgatou vidas. Sim, resgatou vidas. Sinto isso quando vejo o olhar brilhando tanto pela alegria de quem conta as histórias quanto pela alegria dos que ouvem. O MEM trouxe muitos brilhos de volta à vida e ao olhar dos que se aproximam.

Parabéns De Paula e equipe por seu empenho e por essa linda ideia tornada realidade.





 

terça-feira, 20 de julho de 2021

Meus avós italianos e a geada de 1975

 O frio intenso desse ano de 2021 trouxe à memória coletiva dos mais velhos aquele fatídico 18 de julho de 1975, cuja geada foi apelidada de “geada negra” pois queimava todas as plantas. Por sua vez, a imprensa sempre traz notícias referente aquele dia de inverno e a tristeza, que não cobriu apenas os campos de um tom branco frio, mas significou o fim de um ciclo de um produto agrícola na economia brasileira, mudou o futuro de muitas famílias e ocasionou uma nova migração do homem do campo para as cidades. Aqui podem ser lembrados, principalmente os pequenos agricultores e os trabalhadores rurais, numa época em que pouco ou nada se falava em seguro da lavoura ou direitos trabalhistas.

Individualmente, cada um(a) de nós que presenciamos aquele dia, seja como criança, adolescente ou adulto, carrega em si, uma memória.

Eu também tenho a minha memória daquele dia, compartilhada com minhas primas Rose e Regina. Era férias e como sempre, estávamos na casa dos “avós do sítio” como os chamávamos.

O vô Angelo Calvi e a vó Angela Bulla Calvi passaram a vida toda no campo, se conheceram numa colônia italiana no interior de São Paulo, se casaram, tiveram filhos e vieram para Maringá, em 1946, junto com uma leva de italianos. Vieram da Itália bebezinhos, de Trezano Rosa que é o que está no documento deles. Desembarcaram no Brasil, direto de Milão para São Paulo, no colo de seus pais.

Tenho muitas lembranças deles. Sempre com o sotaque italiano forte, a macarronada generosa, o bife na chapa do fogão de lenha, o suco de vinho que a vó Angela fazia pra nós (he he..vinho, água e açúcar e uma meninada toda de bochecha vermelhinha); do pão caseiro, do “qui qui” pra dar milho pras galinhas da vó Angela e seu lenço na cabeça, de nós netos rolarmos na grama dentro dos sacos de café (escondidos, claro), da carroça de passeio e da carroça de trabalho; dos bordados que a vó ensinava, da linguiça calabresa que o vô Angelo fazia, do pomar, do jardim de muitas flores...

Mas, a lembrança mais forte que tenho do vô Angelo é do dia daquela famigerada geada. É como se fosse um quadro, gravado na minha mente desde os meus 14 anos.

Na noite anterior, estávamos no mesmo quarto, as três primas, rindo muito alto. De repente a casa toda começou a rir, meus avós começaram a rir, meus dois tios que moravam com meus avós também. Até que o vô Angelo deu a sua bronca italiana,  mandou todo mundo ficar quieto e dormir que tinham que acordar cedo. A casa era nova, não me lembro quando foi construída. Sei que tinham desmanchado a casa anterior que era maior. Lembro bem da anterior, da disposição dos cômodos, do espaço, da família reunida na mesa da sala de jantar.

De manhazinha eu acordei com um câibra horrível na perna direita. Fazia muito frio. Olhamos pela janela, achando linda a grama toda branca coberta de gelo. Mas, quando vimos meu avô, lá fora, em pé, segurando o chapéu de lado, balançando a cabeça e com seus olhos azuis completamente entristecidos, paramos de rir. Compreendemos que alguma coisa estava errada.

Pouco tempo depois, os Irmãos Calvi venderam o sítio que ficava na Estrada Guaiapó. Meu avô comprou casas em Maringá com a parte dele, mudou para a Vila Morangueira. Em 1978, nos convidou para morar ao lado dele, em uma das casas. Meus pais aceitaram e viemos. Tive dificuldades pois era acostumada com a facilidade de morar no centro da cidade, com tudo à disposição. Naquela época eu descobri que eu era “a neta dos italianos” pra turminha de jovens da igreja.

Sempre encontrava os meus avós indo no mercado ou panificadora bem cedinho quando eu ia para o Colégio Gastão Vidigal. Eles andavam em fila indiana, revezando qual deles ia na frente. Eu brincava com eles: pode andar um do lado do outro na calçada, aqui não é carreador estreito do sítio. Eles riam, davam tchau e Deus te abençoe pra aula.

Meu avô disse uma vez que se sentia preso na cidade. Uma pessoa que nasceu, cresceu, viveu sua vida toda no campo, certamente sente saudades. Mesmo Maringá não tendo todo o trânsito que tem agora, era uma cidade com ruas, carros e movimento no final dos anos 1970.

E num dia no começo de 1979, meu avô fechou seus lindos olhos azuis e descansou. Eu desejava ter sido adulta em 1975, poder ajuda-lo naquela tristeza toda. Guardo aquela imagem dele olhando tristemente a grama branca, sempre com o pensamento de que, certamente, ele teria vivido alguns anos mais se não fosse aquela geada avassaladora.

Até hoje, com meus 60 anos de idade, quando algum estrangeiro ou estrangeira me chama de “Tánia”...sorrio pensando nos meus avós italianos como se ouvisse a voz deles.