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sexta-feira, 3 de julho de 2020

Entre a raiva e a tristeza


Estamos desde o mês de março corrente vivendo de uma forma que nunca tínhamos imaginado, ora com isolamento total, ora com isolamento parcial, com escolas, universidade, igrejas e campos de futebol, ente outros, fechados.
Máscaras, distanciamento entre as pessoas e álcool em gel passaram a fazer parte do cotidiano. As máscaras, agora, são marcas do nosso novo visual, como artefatos de moda ou de mural para reivindicações. Não se pode sair de casa sem elas.
O uso das tecnologias de informação e comunicação tornou-se fundamental para a realização de diversos tipos de atividades, desde ensino remoto até solicitação de auxílio emergencial. Dessa forma, palavras como App e live se tornaram corriqueiras nesse mundo virtualizado.
Entretanto, ao mesmo tempo que a população vai se ajeitando com a nova forma de vida, os casos de contaminação e morte continuam aumentando.
Para piorar a situação, o país é governado por um presidente negacionista que faz piadas, minimiza os efeitos da doença, despreza os mortos e seus familiares e não aceita os protocolos da área de saúde. Ou seja, todas as ações, posturas e leis levadas ao congresso pelo governo vão no sentido contrário de proteger e dar segurança à população.
Um misto de ignorância e descrença assola o país, a ponto das pessoas se reunirem em praias, praças ou bares, sem o devido cuidado, como se estivéssemos em uma situação normal.
Nem os números avassaladores inibem a população de sair às ruas à toa ou sensibilizam o governo federal. Até o fechamento deste artigo, o Brasil contabilizava 1.508.991 diagnósticos confirmados e 62.304 mortes por Covid-19.
Vale lembrar que a situação não ficou pior ainda, pois, os governos estaduais e municipais tomaram as rédeas do controle da pandemia em seus municípios e os deputados e senadores votaram auxílio emergencial para as pessoas em situação de vulnerabilidade. Inclusive, ressalte-se que todas as medidas em benefício da população foram, inicialmente, boicotadas pelo governo federal. Inclusive, o governo federal lançou a proposta de R$ 200,00 de auxílio emergencial que foi modificada pelos congressistas, a partir de mobilização dos deputados do bloco chamado de “esquerda”, passando o valor para R$ 600,00.
E como ficamos nós, diante de tudo isso? Ao mesmo tempo procurando seguir as normas da área de saúde, ouvindo a fala de alguns governantes e seus disparates e vendo muitas pessoas não se cuidando e nem cuidando dos outros.
Dois sentimentos estão latentes neste momento: a raiva e a tristeza.
A raiva acontece por saber que tudo poderia ser diferente, pois o governo foi avisado, no mês de março, de que chegaríamos a 100 mil mortos em 6 meses e ao invés de tomar medidas para garantir a segurança da população brasileira, o governo optou por negar a gravidade da situação.
A tristeza surge a cada notícia de tantas vidas perdidas que poderiam ter sido salvas, se medidas efetivas tivessem sido tomadas e cumpridas.
E assim, com o coração apertado, navegando entre a raiva e a tristeza, surge a famosa esperança de que essa pandemia passe logo, que a cura ou a vacina chegue a todo mundo.
Desejamos, que no final de tudo, mesmo descrentes, que a humanidade tenha aprendido alguma coisa.

Tania Tait, professora aposentada da UEM, autora do livro “As mulheres na luta política”

  

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Um novo tempo


Comecei a me envolver com tecnologia em 1979 quando passei no vestibular do curso de Processamento de Dados da UEM. Naquela época e até meados dos anos 1980, a tecnologia do uso dos computadores era restrita a poucas pessoas e inimaginável para a maioria da população.
O tamanho dos computadores e sua capacidade possuíam uma desproporcionalidade: o computador era grande e sua capacidade de processamento e de memória, pequena. As empresas que possuíam os equipamentos usavam como propaganda de modernidade e desenvolvimento, muitas vezes, colocavam parede de vidros para que as pessoas vissem a sala onde ficavam esses “monstros” que poucas pessoas conseguiam dominar.
Com a evolução tecnológica, os computadores foram diminuindo de tamanho e a capacidade de processamento e de armazenamento aumentou consideravelmente. As aplicações computacionais começaram a se aprimorar em todas as áreas de conhecimento.
O desenvolvimento dos microcomputadores em meados dos anos 1970 aliado a discussão de descentralização da informação e de necessidade de acesso à população, começou a popularizar a computação, a ponto de se criar a estrutura do computador pessoal baseado na premissa: “um computador, uma pessoa”.
A evolução não parou por aí. Surgiram posteriormente os notebooks e outros equipamentos móveis mudando o paradigma para “onde a pessoa for, o computador vai com ela”. Ao ligar imagens e sons, o computador se mesclou aos aparelhos celulares surgidos no final dos anos 1990 (no Brasil). 
Hoje o celular e junto com ele, os aplicativos e o acesso a Internet estão com as pessoas e fazem parte do dia a dia e porque não dizer, do nosso minuto de tempo. Claro que o acesso não é facilitado e nem homogêneo. Não chega da mesma forma a todo mundo e mostra a desigualdade entre os países e dentro dos países.
Entretanto, agora em 2020, surpreendido por uma pandemia devido a um vírus difícil de combater, o mundo parou. Só não parou ainda mais por existir a tecnologia que possibilita que nos comuniquemos virtualmente. Plataformas foram aperfeiçoadas e liberadas para facilitar as reuniões virtuais que envolve um público cada vez maior.
Assim, reuniões de trabalho, entrevistas, aulas, festas entre tantas atividades encontram no mundo virtual uma forma de serem realizadas. Suprimiu-se o contato físico, o aperto de mão, a troca de olhares e as expressões faciais. A palavra da moda se tornou “live”.
Não se sabe até quando esse será o nosso modo de nos reunirmos, no entanto, a falta da presença começa a ser sentida. O isolamento revelou situações como o aumento da violência contra a mulher, a dificuldade de acesso ao ensino remoto e aos benefícios como o auxílio emergencial, a falta de políticas governamentais federais de combate ao coronavírus, entre outros problemas.
Por outro lado, as saídas para mercados e bancos ou outras necessidades, inicialmente substituídas por entregas nas residências, começam a tomar conta das ruas novamente. As máscaras, o álcool em gel e o distanciamento das pessoas se torna realidade. Dizem que quando tudo passar, esse será o “novo normal”.
Muitas teorias e estudos surgem, inclusive sobre o comportamento das pessoas, cujos otimistas consideram que será melhor e os pessimistas, que nada mudará. Uma coisa é certa, o mundo parou e pode respirar por um tempo.
Certamente, quando o “novo normal” for estabelecido, talvez confirmemos que quem era bom, continua bom, quem era ruim, continua ruim. 
Quem sabe cantemos com o cantor Ivan Lins: “No novo tempo, apesar dos castigos,
Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos,
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer...”
E assim caminhará a humanidade...Ou não.


Foto: Rio Paraná, da autora.

Tania Tait, professora doutora aposentada da UEM, coordenadora da ONG Maria do Ingá Direitos da Mulher




terça-feira, 2 de junho de 2020

A pandemia revela mais um lado obscuro no uso da Internet: a desigualdade social


A Internet, conhecida como a rede mundial de computadores, desde o seu nascimento secreto até sua abertura comercial trouxe esperanças na área de comunicação e de aproximação entre as pessoas dispersas em vários lugares pelo mundo. Por meio da Internet, atividades de lazer, entretenimento, pesquisas, negócios, entre outras puderam ser viabilizados em tempo e velocidades nunca vistos.
Alguns pontos negativos, também, surgiram no meio eletrônico tais como a disseminação da pedofilia, os crimes financeiros, os golpes ditos amorosos, entre outros crimes que encontraram na rede digital um campo fácil e fértil de propagação. Inclusive, leis foram criadas ao longo do tempo para conter os chamados crimes digitais. Dessa forma, os problemas a partir do mau uso das redes sociais digitais tornaram-se públicos.
Dentro desse cenário, a pandemia trouxe mais elementos a serem avaliados ao tratar do uso da rede mundial, com o aumento da busca por serviços e pelo tempo maior de utilização.  Especialmente, duas situações chamam a atenção: a busca pelo auxílio emergencial e o ensino remoto.
A busca pelo auxílio emergencial colocou como forma de solicitação o aplicativo via celular ou computadores. O governo criou uma estrutura de atendimento para solicitações e acompanhamento que se tornou muito lenta, trouxe dúvidas em sua avaliação para os que deveriam receber o benefício e desconfiança do recebimento dos valores.  
O ensino remoto nas escolas públicas e privadas, do ensino fundamental ao ensino médio foi estabelecido para que os estudantes não perdessem o conteúdo das aulas. Além da possibilidade de causar stress em professores e alunos, o governo não considerou para o ensino remoto, a situação econômica dos envolvidos, o uso dos instrumentos para as aulas e nem o processo de ensino-aprendizagem.
Assim, ao necessitar do uso da Internet, brasileiros tiveram dificuldades de acessar o aplicativo para buscar o auxílio emergencial e estão tendo dificuldades para acompanhar o ensino remoto.
Confirmou-se o que era sabido: a Internet não chega da mesma forma ou não chega a todos os cantos do Brasil.
Segundo reportagem da UOL veiculada no mês de maio, 70 milhões de brasileiros tem acesso precário ou não tem acesso à Internet, o que representa 30% da população brasileira, principalmente moradora das periferias das grandes cidades e da zona rural.
Ainda de acordo com a pesquisa, 42 milhões de brasileiros nunca acessaram a Internet. Das classes sociais C e D conectadas, 85% acessam a Internet pelo celular com pacotes limitados que inviabilizam ações como download ou videoaulas.
Um ponto a ser considerado, também, ao tratar do alcance da Internet, é o aumento do consumo da informação pelo estudo e trabalho em casa, ocasionando mais lentidão e queda de sinal da rede.
Talvez com a pandemia, esse lado da Internet, que exclui parcela considerável da população seja revisto e tanto governos como empresas de telecomunicações passem a adotar medidas que levem a rede a locais mais remotos e a usuários mais carentes.
Quem sabe a rede mundial de computadores possa, assim, reduzir o abismo que existe entre a população das periferias e o acesso à tecnologia de informação e comunicação.
Mesmo diante da pandemia e das desigualdades mais expostas, sonhar com um mundo justo, fraterno e igualitário é possível com inclusão da tecnologia a serviço da vida.

Tania F C Tait, professora doutora aposentada do Departamento de Informática da UEM, coordenadora da Ong Maria do Ingá Direitos da Mulher