Na primeira parte das
armadilhas do machismo tratamos de modo geral sobre a infância e a maturidade
das mulheres, com relação a divisão de tarefas e atitudes dada a mulheres e
homens; a desigualdade no mundo do trabalho e a ausência da mulher na política.
Dentre os mecanismos de submissão da mulher foram destacados o amor romântico e
a violência emocional, psicológica e moral tipificadas como crimes na Lei Maria
da Penha.
Nessa segunda parte das
Armadilhas do Machismo vamos tratar sobre o controle de nossos corpos, a partir
do ideal de beleza, o qual, em muitos casos aprisiona as mulheres, em
detrimento de sua saúde.
Existe um limite no
cuidado para que a mulher se sinta melhor e no cuidado para agradar o homem e a
sociedade. No primeiro caso, a mulher pode fazer o que ela assim desejar para
que se sinta melhor. Atividades físicas, alimentação adequada e pequenas
correções são comuns nesse primeiro caso.
No segundo caso, os
cuidados se estendem a manutenção de uma aparência jovem e a mulher se submete
a toda ordem de técnicas modernas, inclusive de alta periculosidade.
O mito da eterna
juventude acompanha as mulheres, as quais, em muitas situações, se sentem ameaçadas
pela possibilidade de serem trocadas por mulheres mais jovens e a partir dessa
insegurança procuram meios para esticar o período da juventude ou, pelo menos,
garantir a aparência jovem almejada.
Num país de clima
tropical como é o caso do Brasil, com grande exposição de partes dos corpos, a
indústria de cirurgia plástica está entre as mais rentáveis. Desde
aplicações de produtos e elementos na face, cirurgia para afinar bochechas até
cirurgia de retirada de gordura abdominal, entre outros tipos são procuradas
pelas mulheres, em número muito mais expressivo do que pelos homens.
Homens se sentem à
vontade andando por aí de cabelos grisalhos, sem cabelos e com barrigas
proeminentes. Mulheres, de modo geral, se sentem mal com cabelos grisalhos e
barrigas proeminentes e as cobranças sociais as fazem se sentirem piores.
O simples fato de não
querer colorir os cabelos e deixar os fios brancos na cabeleira faz com que
surjam reações negativas e questionamentos na família, no trabalho e nas
ruas. Muitas mulheres, mesmo desejando
seus fios brancos, não resistem à pressão e os colorem para não ficar com “cara
de velha”, usando a expressão corriqueira.
Não há mal em pintar os
cabelos, a não ser pelo efeito dos produtos químicos que não conhecemos. O mal
está em se sentir forçada a fazer isso mesmo que não queira, ou seja, até nos
cabelos, o corpo da mulher é controlado pelo que a sociedade considera mais
adequado.
O que dizer então do útero,
os seios, a genitália e o cérebro das mulheres que são controlados pela
sociedade? O útero da mulher e sua genitália são controlados com a disseminação
da idéia de que mulheres devem procriar filhos para a continuidade da espécie
humana e se tornarem boas mãe e esposas. Não há nada de mal nisso desde que a
mulher assim o deseje. No entanto, se ela desejar não ser mãe e nem esposa, ela
deve ser respeitada por sua escolha.
A mulher deve ter o
direito de escolher o que deseja para sua vida e não ficar subordinada ao que a
sociedade deseja o que ela faça. A regra é simples: se ela está feliz com sua
escolha, está tudo certo, nos moldes do filme “O sorriso de Monalisa”, o qual sugiro assistirem.
O medo de que a mulher
conheça e controle seu corpo, assusta o mundo machista pois temem que a mulher
possa se masturbar e ter prazer sem a necessidade de um parceiro ou que a mulher
possa vivenciar o “sexo sem amor”, ou não queria ter filhos, entre outras situações
que são permitidas apenas aos homens.
Ainda na atualidade mesmo
quando homens e mulheres tem o mesmo comportamento em relação à sexualidade, são
tratados de forma diferenciada. A mulher que sai com todos é tratada de “galinha
ou puta”. Por sua vez, o homem que sai com todas, é visto como “garanhão”. Não vamos discutir aqui se o comportamento é
certo ou errado. O que chama a atenção é que o mesmo comportamento realizado por
parte de dois seres humanos, um homem e uma mulher, são tratados de forma
completamente diferente pela sociedade.
Por fim, tomo a liberdade
de sugerir uma leitura: “0 MITO DA BELEZA: Como as imagens de beleza são
usadas contra as mulheres. Tradução: Waldea Barcellos. Rio de Janeiro: Editora Rocco,
1992”. A autora nos leva a reflexão da contradição entre o protagonismo
alcançado pelas mulheres em contraposição ao padrão estipulado pela sociedade
de juventude e beleza, o qual aprisiona as mulheres. Vale a pena a leitura.
Não encerramos a reflexão
sobre As Armadilhas do Machismo. Vamos escrever mais uma Parte 3 na qual trataremos
sobre o controle da sociedade machista nos cérebros das mulheres. Enfim criamos
uma trilogia: As Armadilhas do Machismo. Na Parte I, foram tratados aspectos públicos
da vida da mulher, no mundo do trabalho, na política e sobre a violência. Na
Parte II focamos sobre o controle sobre nossos corpos em uma visão mais
particular ligada ao mito da beleza e da juventude. Essa reflexão nos levou a
dar destaque a uma parte do nosso corpo, que muitas vezes, é vista como
separada, tanto que daremos um destaque a ela e vamos abrir uma reflexão em “Armadilhas
do Machismo: Parte 3 – o controle sobre o cérebro das mulheres”.