Em
meados dos anos 1980 conheci uma moça, formada pela UEM, que se espantou numa
roda de conversa sobre a ditadura militar, com a exclamação: “isso aconteceu
mesmo no Brasil? que horror! nunca ouvi falar!”. Naquela época, foi uma
surpresa, alguém com curso superior não conhecer a realidade de seus país. Entretanto, era a
realidade da maioria das pessoas, marcadas pela ignorância protagonizada pela
já existente Rede Globo, num mundo em que não existiam as mídias sociais para
mostrar a outra versão dos fatos.
De
lá prá cá, avançou a tecnologia e experimentamos a democracia. Uma democracia
considerada jovem, que foi confirmada por uma constituição chamada de “cidadã”
por privilegiar direitos, em 1988. As eleições nos trouxeram diferentes tipos
de governos, tais como um governo que pregava caça aos marajás cujo presidente
foi cassado; um governo privatista que nunca informou em que aplicou os
recursos advindos das privatizações das estatais; um governo que privilegiou
políticas sociais, considerado governo de esquerda, cujo presidente das
primeiras gestões está preso e a presidente da segunda sofreu impeachment.
E
agora, em 2018, as mídias sociais, como parte do avanço da tecnologia, nos dão
várias versões dos fatos sobre o golpe e a prisão política de Lula.
A
rapidez assustadora com que o governo golpista apresentou as reformas
trabalhista e previdenciária e as privatizações das empresas públicas e do
pre-sal denota que havia algo muito estranho no ar. Sabe-se que as pedaladas
fiscais que afastaram a Presidenta Dilma são autorizadas pelo Tribunal de
Contas. Mas, o congresso queria afasta-la, como na frase gravada daquele
político que disse: “temos que estancar a sangria, com o Supremo, forças
armadas, com tudo” Eis aí a prova de que estava sendo articulado um golpe com a
participação dos juízes, dos militares, da imprensa e do congresso.
No
entanto, afastar a presidenta, não era suficiente, queriam estancar a “sangria”
das políticas públicas implementadas
pelos governos anteriores, chamados de esquerda. Assim, fez-se necessário
prender o líder maior da esquerda no país, o ex-presidente Lula, cujas
pesquisas eleitorais mostravam como presidente eleito novamente nas próximas
eleições. Ele deixara seu governo com mais de 80% de aprovação.
Em
meio a prisão de Lula, veio à tona, valores superfaturados de um apartamento de
luxo, que desmascarado pelo Movimento Sem Teto que o invadiu, mostrou que se
trata de um imóvel sem as regalias arroladas no processo que, efetivamente, não
comprovou que pertencia ao ex-presidente. Paralelo a esse fato, não se pode
deixar de mencionar a repressão aos movimentos sociais e sindicais, com cenas
reais de helicópteros atirando bombas de gás e atirando balas de borracha e
agredindo as pessoas no exercício de seu direito constitucional de
manifestação.
Ao
recusar as visitas de um teólogo e de um prêmio Nobel ao ex-presidente Lula
preso na Polícia Federal (PF) em Curitiba, a justiça deixou claro que se trata
de uma prisão política no encarceramento de um líder, preso em cela separada,
para sua “proteção” como afirmam os autos do processo. O que os golpistas,
certamente, não esperavam é que o movimento social e sindical organizado iria
permanecer em vigília na PF em um ato de resistência e apoio ao ex-presidente
Lula.
Os
fatos estão aí e como na música de Chico Buarque, camuflada como música
romântica, você pode analisar, se o “Apesar de você, amanhã há de ser outro
dia”... é dedicado a um amor perdido, ou se é destinado a um governo de
ditadura militar, da época.
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